Os resultados das análises da exumação do corpo do ex-presidente João Goulart, morto no exílio em 1976, mantêm dúvidas a respeito da causa de sua morte. Segundo os especialistas, os laudos foram inconclusivos para as substâncias toxicológicas analisadas e não confirmaram o envenenamento do ex-presidente conforme suspeitava a família. Peritos envolvidos nos exames apresentaram nesta segunda-feira (1º) o laudo final.
Foram feitos três tipos de exames nos restos mortais de Jango, sendo um no Brasil, um em Portugal e outro na Espanha. De acordo com Jeferson Evangelista Corrêa, perito da Polícia Federal, não havia sinais de morte violenta ou a presença de alguma entre as 700 mil substâncias indicadas para análise que pudessem confirmar o envenenamento do ex-presidente, mas a hipótese, porém, não é totalmente afastada.
Os resultados apontam a presença de medicamentos usados em tratamentos coronarianos, em quantidade moderada, o que reforça a informação da família de que Jango sofria de problemas cardíacos. O laudo oficial da causa morte foi enfarto do miocárdio. Os peritos não afirmam categoricamente que Jango morreu de causas naturais, mas também não descartam o indicado no atestado oficial.
O corpo de João Goulart foi exumado em novembro do ano passado. Os restos mortais estavam em São Borja, terra natal do ex-presidente. Os despojos foram recebidos em Brasília com honras de chefe de estado.
Liminar na Justiça
A família do ex-presidente obteve uma liminar no Superior Tribunal de Justiça (STJ) para que a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência (SDH) não divulgasse fotos e detalhes sobre a análise dos restos mortais do líder trabalhista.
Os familiares do ex-presidente temiam que o governo brasileiro divulgasse imagens da exumação e outras informações. A intenção é de que o material completo sobre os exames não fiquem com a SDH.
O atrito teve início na última semana, quando a ministra Ideli Salvatti comunicou à imprensa, sem consultar a família, que o resultado da perícia seria divulgado nesta segunda-feira (1º).
Segundo o filho do ex-presidente, João Vicente Goulart, foi um erro marcar um dia para a divulgação do resultado, já que perícias só devem ter data para começar. O receio do filho era de uma análise "atropelada". Ele disse, no entanto, que o pedido judicial foi para proteger a imagem do pai de eventuais montagens na internet.
Investigações
A família Goulart espera que prossiga uma ação do Ministério Público Federal para que as investigações tenham andamento. O filho, João Vicente, quer que o governo brasileiro ouça agentes da repressão da CIA identificados pelo governo Norte-americano e sugere ainda que o MPF acesse arquivos estrangeiros. Segundo ele, o próximo passo é uma audiência com o Procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para tratar do assunto.