Não sabemos se as explosões na Praça dos Três Poderes, na noite de quarta-feira (13), são suficientemente perturbadoras, capazes de abalar a ordem nacional. Não sabemos se a bomba caseira localizada no carro, com pólvora e tijolos, possuía um potencial de destruição. Tampouco sabemos por que não foi detonada. Os artefatos permanecem incógnitos.
Não sabemos se o terrorista carregava um timer ativo no corpo antes de morrer, para acionamento remoto de explosivos adicionais.
Não sabemos se estamos pisando em ovos ou em granadas.
O horário do ataque que tinha como alvo o Supremo Tribunal Federal (STF) também não faz sentido se o objetivo era atingir os ministros e funcionários, já que foi de noite, fora do expediente. Só se encontravam em atividade a Câmara e o Senado, com suas sessões de plenário, perto dali.
O primeiro estrondo aconteceu nas cercanias do STF. Depois, o veículo pegou fogo próximo do Anexo IV da Câmara dos Deputados.
Parece até agora a obra isolada de um sujeito atarantado, sem nenhum cúmplice, sem nenhuma natureza de conspiração maior. Tudo indica ser resultado do desvario de um lobo solitário, desprovido de noção, totalmente distante da realidade, um candidato a vereador do PL de Rio do Sul (SC), frustrado pela sua derrota na eleição municipal de 2020 — em que obteve apenas 98 votos de sua cidade com 72 mil habitantes —, tentando descontar sua cólera no Judiciário.
O que realmente sabemos é que o responsável pelo incidente não era sério.
O país vem sendo uma fábrica de doidos estranhos — estranhos inclusive para os padrões catalogados de desequilíbrio. Produz tipos excêntricos paradoxais que defendem a pátria, mas querem dinamitar o patrimônio público.
O autor das explosões, Francisco Wanderley Luiz, de 59 anos, conhecido como Tiü França, efetuou o mais atrapalhado, tragicômico, bagunçado e amador atentado da história da República.
A sorte é que a estátua da Justiça está vendada, não precisou testemunhar aquele indivíduo estrambólico, de mochila em suas costas, gritando com um extintor, pedindo para os seguranças não se aproximarem.
A única vítima de seu ato foi ele mesmo. Acabou armando uma emboscada de fúria e chamas contra a sua própria integridade.
Ele era chaveiro, um dado altamente contraditório. Um chaveiro que se torna homem-bomba, para explodir portas e prédios, praticando o contrário do que realizava e pregava na vida.
Ainda surgiu, em seu infortúnio pessoal, vestido como o personagem Coringa, com um terno verde, encarnando o palhaço psicopata que está em cartaz no cinema.
A sensação é que ele juntou referências aleatórias, longe de um foco e de alguma causa específica.
Mas o que me provoca perplexidade é sua completa desorientação ideológica. Não há como entender o seu posicionamento, ou os seus inimigos, ou quem gostaria de atacar.
Em suas ameaças no Facebook, caracterizou José Sarney, o ex-presidente e senador aposentado, de comunista. É pura alucinação chamar Sarney, um dos coronéis do Maranhão, de comunista.