Ficará mais difícil para deputados e senadores defenderem a aprovação de um projeto de anistia para os vândalos de 8 de janeiro, depois do fracassado atentado contra o Supremo Tribunal Federal (STF). Fracassado porque Francisco Wanderley Luiz não conseguiu entrar no prédio do Supremo e acabou morrendo em plena Praça dos Três Poderes, em nome de um fanatismo que ultrapassou as fronteiras da loucura. Se o projeto de anistia prosperar, os anistiados concluirão que o crime político compensa.
O catarinense morreu atingido pelas bombas que carregava. A perícia dirá se foi suicídio ante a aproximação dos seguranças do STF ou se a bomba explodiu em suas mãos, como no lendário caso do Riocentro, nos estertores do regime militar.
Francisco Wanderley planejou um atentado terrorista. Não há outro nome para o ato de comprar explosivos, montar bombas caseiras, inspecionar o território e jogar o artefato contra a estátua de Têmis, a deusa da Justiça. A fronteira que separa o fanatismo político ou religioso da loucura é tênue. As mensagens deixadas pelo criminoso sugerem forte descontrole emocional, ao mesmo tempo em que dão pista de suas obsessões — e aqui entra o componente político.
A ex-esposa de Francisco diz que ele planejava matar o ministro Alexandre de Moraes e outros que cruzassem seu caminho. O ódio ao Supremo Tribunal Federal foi alimentado nos últimos anos por políticos de extrema direita que têm em comum a sintonia com o ex-presidente Jair Bolsonaro. Relembrando, já em 2018 o deputado Eduardo Bolsonaro dizia que para fechar o Supremo bastaria "um soldado e um cabo".
A campanha contra Moraes é permanente por parte dos que não aceitam suas decisões. Quando um doido varrido encontra uma campanha como essa, cria-se o clima para o desatino. Há similaridade entre o ato insano de Francisco Wanderley e o de Adélio Bispo, que em 2018 tentou matar o então candidato Jair Bolsonaro com uma facada. A diferença é que Adélio foi preso e está no manicômio judiciário. A investigação concluiu que era um lobo solitário, como Francisco Wanderley parece ser.
O homem-bomba está morto e as investigações ainda não foram concluídas, mas não dá para baixar a guarda, porque as instituições podem ser alvo de outros fanáticos.