Com o início do governo Jair Bolsonaro, que marca uma mudança significativa no comando do país, as redações direcionam seu radar de pautas para novos temas.
Assuntos como aumento na idade mínima para a aposentadoria, alterações em impostos, o politicamente correto nas relações sociais, o globalismo na política internacional, a participação de militares das Forças Armadas em governos civis, a temática LGBT+ nas salas de aula, a militarização de escolas públicas, privatização de estatais, reforma da Previdência, entre outros, ganham protagonismo neste novo momento histórico.
Para informar, interpretar e traduzir o fenômeno conservador que emergiu das urnas e conquistou, além da Presidência, significativa representação parlamentar (só o PSL elegeu 52 deputados federais), jornalistas deverão, mais do que nunca, reforçar fundamentos da profissão: a capacidade de refletir nos espaços editoriais a vida do país, as mudanças na sociedade, com empatia, curiosidade, compromisso com a pluralidade e com a verdade.
A reportagem especial desta edição, que ocupa a capa do jornal, tem todos esses predicados. Ao longo de duas semanas, a repórter Débora Ely, 28 anos, conversou com colecionadores de armas e mergulhou na rotina dos clubes de tiros – entidades que, em dois anos, aumentaram de 60 para 85 registradas no Estado.
– É uma cultura que tem um viés na defesa, claro, mas é também uma atividade, um hobby. Conheci pessoas que vão treinar diariamente, como eu vou para a academia depois do trabalho, como meus amigos que vão jogar futebol. É um universo completamente desconhecido para a maioria da população. Acho que a reportagem ajuda a desmistificar um pouco a discussão sobre armas – conta Débora.
Desde o final da campanha eleitoral, Zero Hora tem direcionado esforços para compreender e traduzir o novo momento – fomos um dos primeiros jornais, por exemplo, a mostrar que Bolsonaro terá tantos militares no ministério quanto Costa e Silva em 1967. Na sexta-feira, dissecamos o decreto publicado pelo Ministério da Educação que prevê que escolas estaduais e municipais possam aderir a modelo inspirado nos colégios militares. O decreto cria, dentro do ministério, uma estrutura específica para cuidar do assunto, a Subsecretaria de Fomento às Escolas Cívico-Militares (ainda não foi divulgado quem comandará o setor). Esse órgão ficará responsável por promover, acompanhar e avaliar a adoção do modelo, que teria como base “a gestão administrativa, educacional e didático-pedagógica adotada por colégios militares de Exército, Polícias e Bombeiros Militares”. O texto afirma que caberia aos sistemas de ensino municipais e estaduais aderir voluntariamente ao modelo, “atendendo, preferencialmente, escolas em situação de vulnerabilidade social”.
Nos próximos dias, faremos novos mergulhos, a começar pela segurança pública, sob a gestão do ex-juiz Sergio Moro, o mais festejado dos ministros de Bolsonaro. Vamos mostrar quais serão as políticas para um dos temas que mais atemorizam os brasileiros. Aguardem.