A eleição para a escolha do presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB) para o próximo ciclo olímpico está marcada para a quinta-feira (3), no Rio de Janeiro. Dois candidatos, o atual presidente Paulo Wanderley, e seu ex-vice, Marco Antônio La Porta, concorrem aos votos da Assembleia Geral.
A Assembleia Geral é composta pelos 34 presidentes das Confederações Olímpicas de Verão e Inverno filiadas ao COB; pelos dois membros brasileiros do Comitê Olímpico Internacional (COI) – Andrew Parsons e Bernard Rajzman; e por 19 representantes da Comissão de Atletas.
Ex-vice presidente da atual gestão do COB e ex-presidente da Confederação Brasileira de Triathlon (CBTri), Marco Antônio La Porta deixou suas funções no COB em março para poder concorrer ao pleito. Em entrevista ao programa Gaúcha Olímpica, da Rádio Gaúcha, ele falou sobre planos e as razões que o levaram a concorrer.
— Contribuir para o COB, para a melhora dos resultados esportivos e de uma melhor gestão — assim resumiu La Porta sobre a candidatura dele e da ex-atleta olímpica Yane Marques, bronze no pentatlo moderno em Londres-2012, e que até março era presidente da Comissão de Atletas do COB.
Quando surgiu a ideia de concorrer e o que o levou a fazer a parceria com a Yane Marques?
Eu venho maturando isso há algum tempo. Depois de Tóquio, quando obtivemos um grande resultado, e eu fui Chefe de Missão, e estava na vice-presidência, entendia que era um processo natural de sucessão e comecei a planejar isso. No inicio do ano, cumprindo o estatuto, me afastei para concorrer. E sempre tive a ideia de ter a Yane do meu lado, pelo que ela representa como atleta e gestora, pela experiência que ela adquiriu como presidente da Comissão de Atletas. E construímos essa candidatura juntos.
Serão muitas as mudanças em caso de vitória?
Nós não somos situação, nem oposição. Somos o COB moderno. Entendemos que precisa modernizar algumas questões na gestão e evoluir. A gestão atual trouxe mudanças, reformulação, novas políticas, mas entendemos que precisa continuar progredindo, evoluindo, não só na parte de governança, mas resultados esportivos, imagem, valores e cultura do movimento olímpico. Proposta de mudanças pontuais. Sem mudança radical. Esporte funciona com planejamento a longo prazo e não dá pra ficar trocando gestores, apertar o reset e começar tudo de novo. Não funciona assim no esporte. Precisa de trabalho a longo prazo. É pegar o que está dando certo, dar continuidade e retomar o foco da evolução esportiva. Entendemos que nesse ciclo (Paris-2024) se perdeu um pouco esse caminho de evolução. Os resultados mostraram isso. Temos que tomar algumas decisões que possam trazer uma evolução. Um aspecto fundamental é um trabalho na área de desenvolvimento, em conjunto com confederações, atletas, clubes, para que possamos voltar a revelar atletas. Para Los Angeles-2028 não tem muita mudança. Temos que começar a pensar em Brisbane-2032. Se não começar a pensar em Brisbane agora, podemos ter problemas lá na frente.
Temos que começar a pensar em Brisbane-2032
MARCO LA PORTA
Candidato à presidência do COB.
Como você entende a participação de atletas e a inclusão de ex-atletas na gestão?
A participação do atleta na gestão é muito importante, porque ele traz uma experiência do campo de jogo, de tudo que ele viveu, das dificuldades, mas atrelando isso a um conhecimento, a um preparo, um estudo, com formação. Não adianta ter só resultados e achar que está pronto para a gestão. Precisa se preparar. Uma das áreas que queremos mudar bastante no COB é a da área do plano de carreira e de transição de carreira dos atletas, para dar uma melhor preparação, ofertar mais possibilidades de uma transição segura, para que eles possam trabalhar no COB e nas confederações.
Estrutura para os atletas, o que pode melhorar?
Hoje o COB tem uma estrutura fantástica, que fica no Maria Lenk, no Rio de Janeiro, mas precisa ampliar. O Centro de Formação Olímpica (CFO) de Fortaleza, tem que entrar lá e montar projetos com as confederações, mesmo que seja formação e ter mais uma possibilidade de atendimento para os atletas. Em São Paulo também. Ter uma base lá, é onde está a maior parte dos nossos atletas. Melhorar a estrutura de cuidados médicos. Criar uma certificação de centro de treinamentos pelo Brasil, dar um selo de qualidade do COB para aqueles que queiram trabalhar com o COB e poder dar um apoio para esses centros de treinamento.
Como melhor as gestões das confederações, já que algumas tem dificuldades e estão impedidas de gerir seus recursos?
Temos duas confederações com problemas sérios, que são a Confederação Brasielira de Handebol (CBHb) e a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) e isso reflete nos resultados. Temos um plano de recuperação dessas entidades que estão com problemas, que já deviam ter sido resolvidos e nós pretendemos resolver. Os atletas não podem ficar desamparados, sem a confederação. A confederação não pode ficar sendo gerida pelo COB, sem ter estrutura administrativa para o dia a dia. Fica muito complicado para o esporte evoluir.
Distribuição de verbas entre as confederações?
A maior dificuldade que nós temos nas confederações é o patrocínio. O COB deu um salto gigante, trabalho muito bem feito pela diretoria de marketing, pelo Gustavo Herbetta, com 22 empresas patrocinando, faturamento recorde da história, superando a Rio-2016. Esse trabalho precisa chegar nas confederações, porque quando o COB consegue 22, ele "fecha o comércio”. Uma parte desse dinheiro tem que ser repassada, com critérios claros de meritocracia e transparência e não apenas doações pontuais. E na distribuição dos recursos das loterias também. Tem que entender que as confederações tem expectativas diferentes. O vôlei chega nos Jogos Olímpicos com expectativa de medalha, já o hóquei sobre a grama tenta se classificar, não é uma potência na América do Sul. Então temos que ajudar o hóquei a se tornar potência. Não adianta investir pensando nos Jogos Olímpicos. Já o vôlei é o contrário. Quero fazer uma rediscussão desses critérios, uma redistribuição dos critérios da área de desenvolvimento. Talvez no desenvolvimento, o hóquei precise mais do que o vôlei, porque ele precisa crescer. É isso que a gente quer fazer nessa questão, com uma fiscalização rigorosa na prestação de contas.
Que valores sua candidatura quer levar ao COB?
Seguimos os valores COI, com ética, respeito, amizade. Estamos num processo difícil, mas não vamos desviar desses valores. Fazer uma discussão de propostas. Entendemos que do outro lado tem uma gestão. E temos que pensar na nossa gestão (proposta) colegiada, com COB, confederações e atletas sentando juntos e discutindo os destinos do nosso esporte e retomar o caminho que estava sendo trilhado até Tóquio.