A produção de azeitonas no Rio Grande do Sul não deve repetir o recorde histórico da colheita do ano passado. A cultura, que tem no Estado a maior produção do país, é mais uma que deve sofrer efeitos das condições climáticas, agravadas pelo fenômeno El Niño.
Segundo estimativa da Emater, a produção na metade sul do Estado, na região de Bagé, deve registrar perdas de 75% a 90% ante o que era esperado. As chuvas constantes e as tempestades desde agosto comprometeram a safra deste ano. O número exato da quebra ainda não foi estimado.
— Por enquanto, não temos uma definição, mas uma preocupação — diz Renato Fernandes, presidente do Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva), relatando que os impactos são diferentes em cada região produtora.
Fernandes diz que há relatos de produtores com perdas em regiões distintas. Mas a grande maioria ainda não consegue chegar a um percentual exato de quebra da produção. Fato é que uma sequência de episódios leva aos indícios de perda: seca tórrida no início de 2023, seguida de um inverno com poucas horas de frio, além de chuva extrema e temporais na reta final do ano.
— Teremos, sim, uma quebra de safra importante em 2024, por efeitos climáticos que são mundiais. Mas as oliveiras sempre nos reservam surpresas. No ano passado, que foi de seca, algumas árvores ficaram muito prejudicadas, e ainda assim tivemos uma supersafra. Precisamos aguardar o final de fevereiro e o mês de março para entender a dimensão do impacto — diz Fernandes.
Colheita começa em fevereiro
Produtor de 48 hectares de oliveiras no município de Triunfo, Christian Vogt confirma que a colheita deve vir menor neste ciclo, mas ainda não quantifica o tamanho das perdas. A colheita na propriedade deve iniciar na metade do mês de fevereiro e, até lá, muitas azeitonas ainda podem amadurecer. As frutas no pomar estão em fase de crescimento.
Munida de enxada, botas, chapéu para proteger do sol e na companhia da escudeira Bernadete — a cachorra que faz escolta no serviço —, Rozane Conceição, 44 anos, trabalha na limpeza do terreno ao redor das árvores. A etapa faz parte dos preparativos para a colheita.
Enquanto observa as plantas, Rozane diz que as frutas estão um pouco menores este ano e que os pés estão visualmente menos carregados em relação ao ano passado, mas que os próximos 30 dias podem fazer bastante diferença e trazer boas surpresas.
As azeitonas do pomar de Vogt dão origem a cinco rótulos do Azeite Milonga. Em 2023, a produção nos lagares rendeu 10 mil litros de azeite. Em 2024, deve ser menor por causa das intempéries.
— A expectativa de perda ainda é um “achismo”, mas vem em função do El Niño muito acentuado que tivemos em 2023, com um inverno muito instável, poucas horas de frio e floração desparelha. Quando a floração se deu, pegou muita chuva no mês de setembro, que é quando precisaria de tempo seco para a polinização — explica o produtor.
Marcelo Costi, da Costi Olivos, relata quadro semelhante. Mas os danos foram ainda mais severos no seu pomar em Caçapava do Sul. Há 15 anos na produção, Costi diz que vinha colhendo de 30 a 40 toneladas de fruta nas últimas safras. Em 2024, deve colher apenas duas.
Foram 4 mil litros de azeite produzidos no ano passado, quantidade que deve cair para apenas 200 litros este ano. Sua área é de 6 hectares.
— Vai ser uma colheita muito pequena. De 12 colheitas, as últimas 10 foram comerciais, e dessas 10, só duas tiveram quebra, uma por granizo e outra pelo manejo. Esta é a primeira em que o clima realmente interfere. Menos mal que temos azeite armazenado da safra passada e engarrafamos à medida que o cliente vai demandando — projeta Costi.
Bianualidade
Uma característica da cultura mencionada pelos produtores é de que a oliveira tem a sua bianualidade. Ou seja, a cada dois anos costuma render uma grande safra, para no ciclo seguinte encolher e depois retornar aos níveis fartos. A quebra em 2024, portanto, já era esperada em relação ao ano passado, quando a colheita foi recorde no Rio Grande do Sul. A produção de azeites da safra 2022/2023 foi de 580 mil litros, 29% maior que a anterior.