A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Uma análise sensorial feita pelo Ministério da Agricultura mostrou que 84% dos azeites de oliva importados e ditos extravirgem não pertencem a esta classificação. O dado levou o Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva) a lançar um manifesto que alerta para o problema de identificação nos rótulos. Apesar de grande produtor, o Brasil importa 99% do azeite que consome.
— Azeite bom é azeite novo e não ter a data da safra (no envase) indica safra velha — diz Renato Fernandes, presidente do Ibraoliva.
O tema foi assunto do programa Campo e Lavoura da Rádio Gaúcha deste domingo (17). O conteúdo completo pode ser ouvido no Spotify. Leia trechos da entrevista com Fernandes:
O que motivou o Ibraoliva a emitir o manifesto em que coloca sua preocupação em relação ao consumidor e também à atividade produtiva no Brasil?
Temos a preocupação do cuidado com a cadeia da olivicultura desde a produção até o consumo. E já tínhamos indícios de que havia uma grande irregularidade na classificação dos azeites. Desta vez, houve uma declaração do próprio Ministério da Agricultura no qual os azeites ditos extravirgem não o são. Revelaram índice de 84% de não conformidade em suas análises dentro do laboratório federal de Defesa Agropecuária que faz as análises sensoriais aqui no Rio Grande do Sul.
A fraude ao consumidor está nesta informação equivocada que é colocada no rótulo?
Dentro da legislação, existe uma normativa que submete a classificação do azeite em duas etapas: a fisioquímica e a sensorial. Dentro da fisioquímica passa, mas quando vai para a sensorial, encontram-se defeitos. E no momento em que há defeitos no azeite dito extravirgem, ele baixa de categoria e passa a ser virgem, considerado um azeite inferior em qualidade. Nosso pleito se refere, primeiramente, ao direito do consumidor de ter a informação correta do que está comprando. Ele não pode ser iludido. E ter a consciência de que esse produto, por ser de outra categoria, também possui benefícios menores. Ainda é um óleo de oliva, mas não um extravirgem. Este é o motivo de enfrentarmos essa concorrência, até desleal e predatória. Porque um azeite que não está na categoria correta logicamente vai ser vendido por um preço abaixo do nosso.
O Rio Grande do Sul tem despontado como polo importante da produção de azeite de oliva extravirgem, com reconhecimento mundial, inclusive, em premiações. A preocupação é valorizar a produção, embora tenhamos dependência das importações para consumo?
Durante muitos séculos nós acreditamos que não era possível produzir oliveiras e azeite de oliva no nosso país. Mas, de duas décadas para cá, os esforços do governo e dos produtores já comprovaram que temos condições de produzir e em altíssima qualidade. As premiações comprovam isso. Por outro lado, o Brasil é o segundo maior consumidor de azeite do mundo, são mais de 100 milhões de litros. E o próprio número já prova que seria impossível que todo esse volume fosse extravirgem. Não existe produção tão grande para abastecer um mercado deste tamanho de azeite extravirgem. O que nós buscamos é uma justiça. Nada contra o azeite importado, é um alimento importante, mas nós consideramos o azeite brasileiro um tesouro nacional. Temos hoje 6,4 mil hectares plantados, mas com o potencial indicado pela Embrapa de 1 milhão de hectares, somente no Rio Grande do Sul. Com esse número, sem dúvida alguma, daqui a algumas décadas, podemos ter a nossa autossuficiência em azeite.
O que se quer é uma clareza do produto...
Perfeito. O que se busca é isso, que o consumidor decida. Como se fala aqui no Sul: não comprar gato por lebre.