Registrado no Brasil em 1994, o ingrediente ativo fipronil teve a patente vencida em 2008 e a partir de 2011 passou a ser vendido por diversas fabricantes. Até então, era produzido pela Basf apenas para o tratamento de sementes. Com a entrada de outras empresas no mercado, começou a ser recomendado também para a aplicação foliar, direto na planta.
– A partir daí os problemas com as abelhas começaram. A retirada da versão foliar do mercado poderia evitar prejuízos. Há inseticidas substitutos que são menos agressivos a insetos polinizadores – afirma Aldo Machado dos Santos, coordenador da Câmara Técnica da Apicultura da Secretaria da Agricultura.
O problema associado à aplicação foliar do fipronil é confirmado pelos relatos feitos ao Ministério Público.
– A abelha pousa na planta e tem contato direto com o químico. Inclusive algumas indústrias se mostram favoráveis à retirada do mercado do produto foliar – afirma o promotor de Justiça Alexandre Saltz, responsável pelo inquérito civil que trata do assunto.
Detentora da patente do fipronil no período de 2003 e 2008, a Basf informa que não tem produtos à base do ingrediente para aplicação nas plantas e recomenda o uso apenas no tratamento de sementes ou em sulco de plantio. Segundo a empresa, a aplicação não-foliar do inseticida "é segura para os seres humanos e o ambiente, incluindo os polinizadores."
Na opinião de Elmar Konrad, vice-presidente da Farsul, a necessidade de usar o produto foliar é cada vez menor, além de existirem alternativas mais econômicas e eficientes de inseticidas.
– O uso no tratamento de semente é o mais indicado – afirma o dirigente.
Professor da Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Aroni Sattler acrescenta que, embora os riscos sejam maiores na aplicação nas plantas, o tratamento de sementes com fipronil também pode causar problemas às abelhas em caso de enxurrada logo após o plantio.
– São menos frequentes, mas podem ocorrer. A semente tratada com o inseticida pode contaminar a água que a abelha beberá, em caso de lavagem da terra após chuva forte – explica o professor.
Além dos prejuízos às abelhas produtoras de mel, com capacidade de voo de até 3 quilômetros de distância, Sattler alerta para os danos causados às espécies nativas _ que também atuam como polinizadoras na produção de alimentos.
– As abelhas são um termômetro ambiental, de equilíbrio do ecossistema. É preciso pensar em um controle integrado de pragas, com uso criterioso de inseticidas, e não de maneira indiscriminada dentro de pacotes prontos. Os defensivos biológicos são agentes complementares muito eficientes – exemplifica Sattler, coordenador do Laboratório de Apicultura da UFRGS.
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