Produtos de metrópoles como Londres, Paris e Nova York, que incentivam a apicultura urbana, poderiam servir de inspiração para a capital dos gaúchos. Em endereços renomados de Paris, por exemplo, as abelhas prosperam: estima-se que haja mais de mil colmeias na cidade.
O telhado da Ópera Garnier e as torres da Catedral de Notre Dame abrigam colmeias de abelhas. Nos Jardins de Luxemburgo, refúgio destes insetos há 150 anos, há um curso que forma cerca de 200 novos apicultores a cada ano.
Na capital francesa, a prefeitura empresta colmeias, a pedido de jardineiros comunitários. E, para assegurar relativa pureza do mel, proibiu o uso de pesticidas nos parques e jardins e nas plantações em terraços e telhados.
A criação de abelhas em Porto Alegre, porém, enfrenta um empecilho: diferentemente das europeias, as apis brasileiras, que possuem ferrão e criam grandes enxames rapidamente, são um cruzamento entre abelhas europeias e africanas. Isso as torna defensivas e perigosas à população e, por este motivo, sua criação é proibida por lei municipal.
Abelhas na sacada
Interessados em criar abelhas sem ferrão podem atraí-las com isca feita em casa:
Faça uma solução à base de álcool e própolis. Em seguida, coloque a solução em uma garrafa pet. Molhe as paredes internas da garrafa e descarte o excesso de solução. Cubra a garrafa com plástico preto e pendure-a em ambiente aberto, protegido de sol e chuva. Aguarde as abelhas.
Obs. Abelhas com ferrão não ficarão na isca: a garrafa é muito pequena para espécies que fazem grandes enxames.
Porto das inofensivas
Uma solução segura, que traz benefícios para população e meio ambiente é a criação de abelhas sem ferrão, conhecidas como abelhas nativas. Betina Blochtein, bióloga e diretora do Instituto do Meio Ambiente da PUCRS, explica que existem 25 espécies sem ferrão no Estado e oito em Porto Alegre. As mais comuns, jataí (Tetragonisca fiebrigi) e mirim (Plebeia droryana e Plebeia emerina), são inofensivas, interagem bem com o ambiente urbano, podendo ser encontradas em troncos de árvores, praças e também criadas em casas, apartamentos e sacadas.
Em pleno bairro Higienópolis, o meliponicultor Claiton Kunzler dispôs um espaço na garagem do apartamento para a criação de abelhas sem ferrão:
– Tenho duas caixinhas onde crio abelhas jataí e tiro de cada uma cerca de meio quilo de mel ao ano – conta Kunzler, que já teve mais colmeias, mas reduziu a produção por receio dos vizinhos.
A importância dos insetos é amplamente conhecida: são responsáveis pela polinização de plantas essenciais à alimentação humana. Também são bioindicadores: sua presença é sinal de que o ambiente tem boa qualidade.
– Uma cidade com abelhas é um ambiente com mais arvores, frutos, pássaros e cores – detalha Betina.
Campanhas de conscientização, que estimulam a criação em ambientes urbanos e a adoção da apicultura e meliponicultura como hobby são respostas à diminuição da população mundial dos polinizadores. A urbanização e o uso de agrotóxicos são alguns dos causadores da queda.
Produção: Letícia Paludo