Pesquisadores, instituições governamentais, empresas e produtores uniram-se para preservar uma das espécies mais importantes para o futuro da agricultura: as abelhas. Responsáveis pela polinização, estes insetos estão, aos poucos, desaparecendo, fenômeno que se agravou nas últimas duas décadas.
Apesar dos registros de mortes por ácaros, fungos e até por ataque de outros insetos como formigas, a causa que mais mobiliza a comunidade científica diz respeito ao uso indevido de agrotóxicos.
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Doutor em Ciências Naturais, o pesquisador brasileiro Paulo de Souza, que atua na Austrália, realiza pesquisa utilizando microchips para investigar o desaparecimento das abelhas.
Há frentes de estudo no Brasil – em Belém (PA) –, Quênia, Emirados Árabes Unidos, Nova Zelândia, México, Argentina e Reino Unido que apontam outras possíveis causas: poluição do ar, contaminação de águas, eventos climáticos extremos, pestes e até doenças causadas por vírus e bactérias.
– Estudar o declínio das abelhas se tornou uma corrida contra o tempo. Precisamos agir logo – alerta o pesquisador, destacando que não há expectativa de crescimento da população de polinizadores em um futuro próximo.
Rigor para novos químicos
Preocupação até entre as multinacionais que produzem os defensivos, o assunto vem recebendo atenção do governo. O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) publicou, em fevereiro, instrução normativa que prevê a avaliação dos riscos de novos químicos considerando a cultura e a forma de aplicação. Até então, só a toxicidade era estudada.
A analista do Ibama Karina Cham informa que alguns neonicotinoides – classe de inseticidas derivados da nicotina – estão em revisão. Segundo o agrônomo Aroni Sattler, professor de Apicultura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), os produtos desta "família", usados para combater lagartas e percevejos, são os que mais impactam na apicultura.
A redução dos enxames também mudou a rotina dos produtores gaúchos. Preocupado com a preservação das abelhas nativas (sem ferrão), o meliponicultor Hugo Schmidt, de Arroio do Meio, forrou caixas com isopor. Com a "tecnologia artesanal" reduziu a temperatura interna no verão e conteve o frio no inverno.
O manejo inadequado das colmeias também influencia. As caixas devem ficar à sombra e é preciso atenção à nutrição. Para que as abelhas não passem fome, o apicultor não pode retirar todo o mel, precisa deixá-las em locais com boa oferta de pólen e distante das lavouras.
Um caminho para amenizar o problema é o diálogo. Diretora do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal, Silvia Fagnani ressalta que o apicultor deve avisar os vizinhos que produzem grãos sobre a presença de enxames, enquanto os agricultores devem comunicar os dias de aplicação de defensivos para que o apicultor possa resguardar suas colmeias.