Você costuma comer carne ovina com frequência? Se a resposta for positiva, você faz parte de um grupo seleto no país. Embora os números não sejam precisos, por conta da clandestinidade de grande parte dos abates, a estimativa é de que o consumo anual no país não passe de 400 gramas per capita – contra 40 quilos de frango, 38 quilos de carne bovina e 15 quilos de suína, por exemplo.
Os motivos para a baixa presença nas refeições vão da pouca disponibilidade de oferta ao desconhecimento do produto.
— Muitas pessoas têm preconceito com a carne ovina baseada em uma experiência negativa no passado, provavelmente de um produto mal acabado ou sem procedência — diz Marcelo Rorato, diretor comercial do Frigorífico Estância, com sede em Santana do Livramento, na fronteira com o Uruguai.
A indústria, fundada há três anos, fornece carne ovina para redes de supermercados de Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Campo Grande e Cuiabá – além de restaurantes.
Muitas pessoas têm preconceito com a carne ovina baseada em uma experiência negativa no passado, provavelmente de um produto mal acabado ou sem procedência
MARCELO RORATO
diretor comercial do Frigorífico Estância
— Os cortes porcionados e mais elaborados fizeram com que a carne ganhasse espaço nos últimos anos. A inclusão de pratos em cardápios de restaurantes também ajuda a criar o hábito – completa Rorato.
No Brasil, o consumo de carne ovina é habitual para 52 milhões de pessoas — 25% da população, segundo pesquisa da Embrapa.
— A informalidade ainda é muito grande, isso prejudica a organização do setor – indica Paulo Schwab, presidente da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (Arco).
Outro problema é a oferta sazonal ao longo do ano. A maior disponibilidade do produto é encontrada de outubro a abril, quando os criadores terminam os animais para o abate. Nos meses de outono e inverno, a escassez faz os preços ficarem mais altos — afastando consumidores.
A produção nacional de carne ovina não é suficiente para atender à demanda da população, destaca Schwab. Das 80 mil toneladas consumidas no Brasil em 2017, quase 20% foram trazidas do Uruguai.
Carne de cordeiro é diferente de ovelha
Entre 12% dos brasileiros que nunca comeram carne ovina e 35% que consumiram poucas vezes na vida, segundo pesquisa da Embrapa, provavelmente muitos não saibam a diferença entre cordeiro e ovelha.
— Só trabalhamos com cordeiros, animais de até um ano de idade e sem dentes, que resultam em uma carne delicada, levemente rosada e com baixo teor de gordura — explica Pedro Claudio Gigena, um dos proprietários do Qualidade Gourmet, casa de carne de cordeiro inaugurada há um ano em Porto Alegre.
Muitos clientes que vêm a nossa loja se surpreendem quando mostramos todas as opções de cortes e de pratos que podem ser feitos com carne ovina
CLAUDIO GIGENA
Proprietário da casa de carne Qualidade Gourmet
No ano passado, o grupo de cinco sócios, todos gourmets, apostou no negócio oferecendo 20 cortes da carne de cordeiro — produzida na Fazenda Passo do Lagoão, em Lavras do Sul, na região da Campanha.
— Muitos clientes que vêm a nossa loja se surpreendem quando mostramos todas as opções de cortes e de pratos que podem ser feitos com carne ovina — conta Gigena.
Na casa de comércio, um dos cortes mais disputados é o carré francês, que é também o mais valorizado — com o preço do quilo próximo de R$ 70.
— Mas temos opções do quilo por R$ 15, como a carne de pescoço, que resulta em molho delicioso – exemplifica o gourmet.
Para quem não costuma comer
- Verifique a procedência da carne. Ela deve ter inspeção oficial, o que garante a segurança e a qualidade.
- A carne de cordeiro pode substituir qualquer proteína animal, como bovina, ave e frango em risotos, molhos e hambúrgueres.
- Carne de cordeiro (animal de até um ano, sem dentes de leite) é diferente de carne de ovelha (superior a um ano, com dentes).
- Quanto mais jovem o animal, mais macia e com menos gordura será a carne.
- Os cortes mais procurados são filé mignon, carré, picanha, paleta e pernil.
- Temperar apenas com sal (ou salmoura) e ervas finas (a gosto) para não descaracterizar o sabor.