A Agrovino, feira de ovinos de verão, que se encerra neste final de semana, em Bagé, trouxe à discussão a importância de organizar e fomentar a cadeia da carne. Com participação de 190 exemplares para julgamento, a edição superou a do ano passado, que contou com 175 animais. Em negócios, a expectativa deste ano é ficar próximo aos R$ 375 mil fechados em 2015.
O presidente da Associação Bageense de Criadores de Ovinos (Abaco), Geraldo Brossard Corrêa de Mello, explica que há espaço para crescer em rebanho geral, mas considera que a mostra - em sua nona edição - está se consolidando.
– É uma feira nova, que tem espaço para crescer principalmente em rebanho geral, mas tanto nos animais de corte quanto nos de pista, as vendas têm registrado preços acima da média – comemora Mello.
Uma das iniciativas discutidas durante o encontro, e que deve estimular o consumo por meio do turismo, é a Rota do Cordeiro, que reúne 12 polos produtores de caprinos e ovinos no Brasil. O programa do Ministério da Integração, Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (Arco) e Embrapa visa o desenvolvimento econômico das regiões por meio de sistemas de produção sustentáveis com assistência técnica sem custo ao produtor.
Paulo Afonso Schwab, presidente da Arco e da Câmara Nacional de Caprinos e Ovinos, detalha que dois roteiros foram definidos no Estado para o projeto: Campanha e Alto Camaquã. Esta última está mais avançada em sua organização, inclusive como Arranjo Produtivo Local (APL), e se prepara para aderir ao programa Produção Integrada de Sistemas Agropecuários em Cooperativismo e Associativismo Rural (Pisacoop), do Ministério da Agricultura, para qualificar a cadeia com ações de assistência técnica.
Alto Camaquã se credenciou e está em fase de elaboração de projeto para financiamento de R$ 5 milhões no BNDES, por meio de convênio com a Embrapa.
– Os recursos serão aplicados dentro e fora da porteira. Este projeto resolverá dois dos principais gargalos, de eficiência produtiva e no processo de industrialização – detalha Mateus Garcia, presidente da Associação para o Desenvolvimento Sustentável do Alto Camaquã (Adac), que é a gestora do APL.
– Este será o ano de mudar o cenário da ovinocultura na Campanha e Fronteira Oeste – afirma Edegar Franco, engenheiro agrônomo e assessor técnico da Arco, lembrando que as duas regiões respondem por 60% da ovinocultura gaúcha.
Selo de qualidade amplia adesões
Entre os maiores desafios está ampliar a oferta e fazer o consumidor perceber a qualidade da carne. Após os primeiros resultados do programa Carne Certificada Corriedale, lançado há dois anos, em 2016 ganhou fôlego a adoção do Selo Cordeiro Gaúcho.
Implantado há exato um ano, já chancela a produção de quatro frigoríficos e uma nova unidade está em fase final de licenciamento - Estância, de Santana do Livramento.
– Há um potencial fantástico – afirma Franco, lembrando que o consumo per capita de caprinos e ovinos no Brasil está entre 400 gramas e 700 gramas ao ano.
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O selo chancela origem e qualidade, e exige boa cobertura de gordura, marmoreio, padronização dos exemplares e inspeção de veterinário no frigorífico. De janeiro a dezembro de 2016 foram abatidos 16.788 animais certificados nas plantas participantes do projeto. Para 2017, a meta é chegar a 40 mil cordeiros dentro do programa.
A certificação traz benefícios para todos. Para o produtor, a vantagem é a valorização em cerca de 10% no preço recebido. Para a indústria, é o recebimento de lotes padronizados. E, para o consumidor, a garantia de qualidade.
Falta informação para desenvolver o sistema produtivo
A estimativa do rebanho gaúcho de ovinos pela Secretaria da Agricultura é de 3,26 milhões de cabeças (queda de 8,85% em relação a 2015), menos de um quarto do total no país (que inclui também caprinos). Mas Paulo Afonso Schwab diz que se deve analisar com cuidado as estatísticas em razão da participação da agricultura familiar, que não fornece para grandes players pela baixa produção.
– Talvez o rebanho tenha estacionado. O mercado informal não está nas estatísticas. Temos material genético entre os melhores do mundo e diversas raças – informa Schwab, destacando que o setor não enfrenta mais problema de sazonalidade.
Mas se a demanda é garantida, porque faltam investimentos na atividade? Schwab explica que o manejo, as enfermidades, a alta taxa de mortalidade e a baixa natalidade nos campos gaúchos dificultam a produção em larga escala. Há disponibilidade de pesquisas, mas o presidente da Arco comenta a carência de extensionistas e técnicos para trabalhar com o produtor na ponta.
– Ovinos e caprinos não têm uma cadeia produtiva organizada. Agora, estamos tentando juntar os elos, com a valorização da ovelha como lã, pele, carne e leite – afirma Schwab, reforçando que os temas devem ser tratados nas demais mostras de ovinos.
Uma das mais importantes é a Feira e Festa Estadual da Ovelha – Feovelha –, em Pinheiro Machado, que costuma ser a balizadora de preços para o mercado. A expectativa é de valorização dos negócios em pista. Em 2016, quando o faturamento ficou 53% abaixo de 2015, a média geral subiu 7%.
Curiosidades
Até 2015, apenas um frigorífico atuava exclusivamente com ovinos – Carneiro Sul, de Sapiranga. Em 2016 mais duas empresas especializadas abriram as portas: Coxilha Vermelha e Estância.
Frigoríficos certificados
Producarne, de Bagé
Carneiro Sul, Sapiranga
Coxilha Vermelha, Alegrete
Coqueiro, São Lourenço do Sul