Ecossistemas campestres ocupam 30% da superfície terrestre e estão presentes em todos continentes, menos na Antártida. Ocorrem nas mais variadas condições de precipitação (de 150 a 2 mil milímetros) e temperatura (de 0° a 25ºC). São ecossistemas pastoris, pois essa vegetação, constituída basicamente por gramíneas e outras espécies herbáceas, coevoluiu com herbívoros. No sul do Brasil, esse tipo de vegetação antecedeu a vegetação arbórea, a qual começou a avançar sobre os campos somente quando o clima tornou-se mais úmido e menos frio – há 10 mil anos.
No início da colonização europeia, os campos cobriam quase 70% do território gaúcho, o que determinou que a pecuária fosse a primeira e lógica forma de ocupação. Portanto, as bases da economia e, sobretudo, da cultura regional estão ligadas aos campos. Mas o que geralmente não consideramos é sua multifuncionalidade, ou seja, eles cumprem outras funções muito mais importantes do que a produção animal, de fibras, biocombustíveis, plantas medicinais e ornamentais etc. Seus outros empregos ecossistêmicos incluem a fornecimento de serviços de regulação climática, hídrica, controle de doenças e pragas e polinização. Mas também provê serviços culturais derivados da nossa coexistência concreta com o ecossistema (valores estéticos, educativos, turísticos, entre outros), além de serviços de suporte (sequestro de carbono, formação dos solos, ciclagem de nutrientes e produção primária). E, tudo isso, graças a uma rara e única biodiversidade.
Entretanto, somente ao final do século passado se começou a valorizar os campos por meio dos conceitos de serviços ecossistêmicos. Conceitos que, infelizmente, entre nós não estão bem compreendidos sequer por aqueles que vivem e trabalham no rural e muito menos pelos mentores de políticas públicas. Em consequência, hoje resta menos da metade da área original, altamente fragmentada e de forma desordenada, o que diminui ainda mais sua capacidade de prestação dos aludidos serviços. Ao contrário, quando existem, as políticas estão voltadas majoritariamente para os monocultivos de exportação ou mesmo para a exploração de recursos minerais, os quais representam ameaças para o bioma quando não inseridas em contexto mais holístico que considere a necessária integração de todas as atividades rurais e urbanas com a natureza que as sustenta.
Volto a insistir em educação para a natureza e ações de ordenamento territorial como necessidades urgentes para conservar ao menos parte do bioma e seus serviços e de forma economicamente sustentável. Tecnologia para isso existe, precisamos vontade política.
Carlos Nabinger é mestre em Fitotecnia e doutor em Zootecnia, professor da Faculdade de Agronomia da UFRGSnabinger@ufrgs.br