A região do Alto Camaquã situa-se na parte superior da bacia do rio Camaquã e engloba os municípios de Bagé, Caçapava do Sul, Canguçu, Encruzilhada do Sul, Lavras do Sul, Piratini, Pinheiro Machado e Santana da Boa Vista. A região se caracteriza por um mosaico de campo e floresta que contém uma diversidade vegetal única. É a maior área preservada no Estado, com mais de 70% da vegetação original. Essa vegetação, a topografia acidentada, a riqueza em cursos d'água e as características formações rochosas constituem paisagens ímpares. Predominam propriedades pequenas e médias, tendo a pecuária sobre campo nativo como atividade principal. Todos esses aspectos, somados a particularidades históricas, fazem desse um território altamente diferenciado.
Há cerca de 10 anos, a Embrapa Pecuária Sul, iniciou projeto local de desenvolvimento territorial sustentável tendo como base a ecologização da pecuária familiar. Por meio de uma rede de unidades experimentais participativas, a iniciativa permitiu avanços significativos no manejo dos campos e na adaptação de tecnologias para o pecuarista familiar, contribuindo para o incremento da produção animal diferenciada e a conservação dos recursos naturais.
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O programa fomentou igualmente o desenvolvimento do associativismo dentro das comunidades rurais e entre as diferentes comunidades dos oito municípios. Em 2009, o conjunto de associações fundou a Associação para o Desenvolvimento Sustentável do Alto Camaquã (ADAC), a qual criou e registrou a marca coletiva Alto Camaquã. A identificação garante que todos os produtos e serviços ali gerados tenham uma identidade e qualidades associadas à origem territorial e à forma de fazer, apoiadas no uso adequado dos recursos naturais. Atualmente, cerca de 30 produtos carregam a marca, distribuídos em cinco linhas: carnes, turismo, artesanato, produtos transformados e produtos primários. Além do tradicional artesanato em lã, ressaltam-se o mel e as carnes, principalmente ovina, cujas qualidades diferenciadas derivam da rica diversidade florística regional.
A proposta evidencia o quanto as características próprias do território são fundamentais para estratégias de desenvolvimento sustentáveis. E, no presente caso, promovendo a imagem de região preservada (com grande potencial turístico), sistemas de produção fortemente relacionados com a natureza, pessoas organizadas coletivamente, manejo conservacionista dos recursos e produtos saudáveis. É fundamental conhecer melhor essa estratégia de desenvolvimento (altocamaqua.com.br) antes de decidir por alternativas nem sempre sustentáveis.
Carlos Nabinger é mestre em Fitotecnia e doutor em Zootecnia, professor da Faculdade de Agronomia da UFRGS
nabinger@ufrgs.br