Com férias coletivas em quatro frigoríficos, dois no Paraná e outros dois em Santa Catarina e Goiás, a BRF tenta reorganizar o fluxo de produção para evitar que uma superoferta no mercado nacional derrube mais o preço do produto.
Em baixa desde o começo do ano, a cotação da carne de frango pode cair ainda mais nas próximas semanas – quando o embargo europeu a 20 frigoríficos brasileiros será efetivado.
– A produção que deixará de ser embarcada provocará uma pressão baixista no mercado – prevê Fábio Silveira, sócio-diretor da MacroSector Consultores.
E como o ciclo de produção das aves é curto, em torno de 45 dias, os efeitos deverão ser sentidos já nos meses de maio e junho.
Se para o consumidor a previsão agrada, para indústrias e produtores significa margens menores – em um período de consumo ainda em recuperação e alta do preço do milho, um dos principais insumos do setor. De janeiro até a última semana de abril, o preço pago ao produtor nas granjas caiu em média 18,5%, segundo dados da Scot Consultoria.
– A recuperação do consumo no mercado interno está muito lenta. E se a produção excedente não for redirecionada, a oferta irá aumentar – diz a zootecnista Juliana Pila, analista de mercado da consultoria.
Apesar de preverem baixa de preço, especialistas estimam que o recuo não será tão acentuado. Em torno de 10%, segundo a MacroSector Consultores.
Imagem arranhada no mercado mundial
Como efeito de médio e longo prazos, as indústrias terão um desafio mais árduo para enfrentar: a de recuperar a reputação do frango brasileiro lá fora.
– A Carne Fraca provocou fortes arranhões na imagem brasileira. Será preciso muito esforço de marketing para essa reconstrução – alerta Silveira.
Vice-presidente de mercado da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin retornou na última quinta-feira da Europa, onde manteve reuniões com adidos agrícolas e associações de importadores em Bruxelas e Amsterdam, durante encontro do Conselho Internacional de Avicultura.
– A Operação Trapaça foi a oportunidade que a Comissão Europeia encontrou para reduzir a participação da carne brasileira no mercado europeu. O critério usado é irregular e injusto – destacou Santin, referindo-se à salmonela, apontada como justificativa para o embargo.
O Brasil, maior exportador mundial do produto, tentará expor a situação em painel na Organização Mundial de Comércio (OMC). Na quarta-feira, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) aprovou, por unanimidade, um pedido do Ministério da Agricultura para dar início a estudos para o governo a fazer uma reclamação formal à OMC contra a decisão da União Europeia.
Sobraram 30 plantas habilitadas a vender carne de frango à UE. As exportações brasileiras para o bloco representavam 11% em receita e 7,6% em volume. Como o ciclo de produção é curto, cerca de 45 dias, impacto nas cotações ocorrerá a partir de maio.
Gigante de alimentos
– 50 unidades no mundo, das quais 35 no Brasil
– 110 mil colaboradores em 150 países
– Mais de 80 mil colaboradores no Brasil
– Portfólio com mais de 30 marcas, como Sadia, Perdigão e Qualy
– 13 mil produtores de suínos e de frango integrados no Brasil
– 30 mil fornecedores (sendo 4 mil de grãos, farelos e óleos)
– Responde por 30,2% do mercado de frango
– No RS, domina quase 40% do mercado, com unidades em Marau, Serafina Corrêa e Lajeado
A última década
2008
Perdigão adquire a Eleva (antiga Avipal, no RS), e a Cotochés (lácteos, em MG).
2009
Fusão da Perdigão e Sadia, criando a BRF Brasil Foods S/A.
2010
BRF torna-se a terceira maior empresa exportadora do Brasil, a primeira em aves e a líder na produção de proteínas.
2011
Aquisição das marcas argentinas Avex (aves) e Dánica (margarina).
2012
Compra da Quiq Foods, na Argentina, e 49% da Federal Foods, distribuidora da marca Sadia no Oriente Médio, e 49% da Federal Foods, distribuidora no Oriente Médio. Associa-se à chinesa Dah Chong Hong, para distribuição de produtos e do serviço Food Service em Hong Kong e Macau.
2013
Empresário Abilio Diniz passa a integrar o Conselho Administrativo da empresa.
2014
Aquisição da distribuidora Alyasra, do Kuwait. Inaugura primeira fábrica de processados no Oriente Médio, nos Emirados Árabes Unidos.
2015
Avanço da internacionalização, para Cingapura, Qatar e Argentina. Forma joint-venture para atuar no Reino Unido, Irlanda e Escandinávia.
2016
Grupo avança nas aquisições no Brasil e em outros países. A BRF registra o primeiro prejuízo desde sua criação, no valor de R$ 372 milhões.
2017
Operação Carne Fraca atinge BRF e JBS ao investigar esquema de venda de carne adulterada, com envolvimento de funcionários e fiscais federais agropecuários. Com o escândalo, que abalou o mercado nacional e a inserção internacional do produto brasileiro, as perdas da BRF chegaram a R$ 1,1 bilhão.
2018
A Operação Trapaça é desencadeada pela Polícia Federal em cinco Estados, incluindo o Rio Grande do Sul. A terceira fase da Operação Carne Fraca revelou um esquema de fraudes envolvendo laboratórios e a própria BRF na análise de bactéria salmonela em lotes de carne de frango. No dia 26 de abril, Pedro Parente é eleito para a presidência do Conselho de Administração, substituindo Abilio Diniz.