A proibição a 20 frigoríficos brasileiros de vender carne de frango à União Europeia impactará em 9% das exportações gaúchas do produto. O percentual refere-se ao volume embarcado a países do bloco por duas unidades da BRF instaladas no norte do Estado: em Marau e Serafina Corrêa – ambas desabilitadas para o mercado europeu.
A decisão, anunciada ontem pela Comissão Europeia, deverá ser publicada dentro de 15 dias, quando passará a ter validade. Em nota, o órgão atribuiu a medida a "deficiências detectadas no sistema de controle oficial brasileiro".
O embargo é desdobramento da Operação Trapaça, deflagrada em março e que teve como alvo a investigação de um suposto esquema de fraudes na BRF – maior exportadora de carne de frango do país, dona das marcas Sadia e Perdigão.
Das 20 unidades atingidas, 12 são da companhia e oito de empresas e cooperativas de Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e São Paulo. No Rio Grande do Sul, a BRF domina 40% do mercado de produção de carne de frango. As duas unidades descredenciadas somam 4,4 mil funcionários.
– É inevitável a preocupação entre os trabalhadores – diz Alcemir Valdemar Pradegan, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação de Marau.
O clima de apreensão também é relatado entre funcionários do frigorífico em Serafina Corrêa.
– Por enquanto, está tudo igual, mas o temor é de férias coletivas e até demissões – conta José Modelski Júnior, secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação de Serafina Corrêa.
A terceira planta da BRF no Estado, instalada em Lajeado, não era credenciada à UE. Diretor-executivo da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), José Eduardo dos Santos, diz que a saída para minimizar os impactos do embargo nas indústrias será a busca por mercados que absorvam o volume excedente – principalmente de peito, o corte mais exportado ao mercado europeu.
– A China acena com habilitação de novas unidades. Estamos com tratativas avançadas com o Chile também – adianta Santos.
Além do problema logístico, o embargo significará prejuízos à BRF. Enquanto o quilo do peito de frango é exportado a US$ 3,70 (equivalente a R$ 12,50 na cotação atual do dólar), no mercado brasileiro o mesmo produto é vendido a R$ 4 o quilo.
– A UE representa uma margem importante para as empresas brasileiras. O impacto não é apenas no volume si, mas na remuneração – afirma Cláudia Santana, auditora federal agropecuária do setor de aves e ovos do Ministério da Agricultura no Estado.
A Associação Brasileira de Proteína Animal considera infundada a decisão tomada pelo bloco europeu e a vê como medida protecionista que não se ampara em riscos sanitários ou de saúde pública.
O impacto nas plantas do RS:
Marau
- Com cerca de 2,8 mil funcionários, o frigorífico de Marau (foto abaixo) é o principal empregador do município.
- Tem capacidade para abater 218 mil frangos por dia.
- Do volume produzido, em torno de 80% é destinado ao Exterior, segundo o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação de Marau.
- A União Europeia responde por cerca de 20% das vendas externas da unidade, informa o sindicato.
Serafina Corrêa
- Emprega 1,6 mil pessoas na unidade de abate de frango.
- A quantidade de funcionários representa 10% da população do município, de 16 mil habitantes.
- Cerca de 80% da produção da unidade é exportada, segundo o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação de Serafina Corrêa.
- Aproximadamente 20% dos embarques tinham como destino países do bloco europeu.