O ciclo econômico movido pelos frigoríficos começa no campo, onde as aves são criadas no sistema de integração. E se o modelo é eficiente por garantir o fomento e a compra da produção, preocupa pela dependência dos produtores a poucas indústrias. Somente em 10 municípios do Planalto Médio, estima-se que mais de 500 agricultores sejam integrados da BRF e da JBS – as maiores empresas do setor no Brasil, ambas alvo de operações policiais.
– Os produtores não têm muita opção. Embora a integração seja um modelo que tenha dado certo, o risco é justamente a total dependência da indústria – diz Nauro Nizzola, coordenador regional da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetag) e presidente do Sindicatos dos Trabalhadores Rurais de Casca.
Assim como entre os funcionários dos frigoríficos, o sentimento é de insegurança no campo em relação ao que virá pela frente.
– Muitos produtores têm na avicultura a principal atividade econômica. Sem contar os financiamentos assumidos para reformas em galpões – relata Nizzola.
Com dois aviários no interior do município de Casca, Gilmar Canozza concluiu no ano passado a reforma em um dos galpões para adaptação ao modelo dark house (casa escura, em inglês) – sistema americano de criação com controle da temperatura e luminosidade dos aviários.
Há um ano também, a propriedade da família Canozza recebeu a certificação Global Gap, referência mundial em segurança e sustentabilidade da produção agropecuária.
– Esse reconhecimento nos deu acesso aos mercados mundiais mais exigentes de carne – conta o produtor, que trabalha ao lado da mulher, Renilda Franceschi, e dos filhos Gilson, 25 anos, e Gislene, 27 anos.
Com 28 mil aves alojadas, e financiamento do galpão para pagar em sete anos, Nizzola ainda não sentiu nenhum impacto do embargo europeu.
– Estamos na expectativa de que isso tudo seja algo passageiro – disse o produtor, integrado da BRF há mais de 20 anos, desde a época da Perdigão.