A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Mais inusitado do que o produto, só o preço dele. É o café produzido com a "ajuda" do jacu, uma ave presente no sul e sudeste do Brasil, e que custa R$ 1,8 mil o quilo. Com um sabor suave, levemente adocicado e ácido, é produzido a partir das fezes do pássaro. Produzido em um fazenda no interior do Espírito Santo, é considerado uma iguaria no mercado.
— Para muitos, é o melhor do mundo — diz o produtor Henrique Sloper, "inventor" do Café do Jacu.
Mas nem sempre foi assim. Proprietário da Fazenda Camocim, localizada no município capixaba de Pedra Azul, Sloper lembra até hoje de quando viu, pela primeira vez, "uma tribo" de jacus em meio aos seus pomares.
— Foi uma verdadeira invasão! — brinca o produtor.
O que se tornou um problema, já que a ave endêmica da região Sul e Sudeste e ameaçadas de extinção se alimenta de grãos como o café, cultivado na fazenda, logo virou solução. E um negócio muito mais lucrativo.
Surfista nas horas vagas, o produtor conhecia um café produzido a partir de fezes de um mamífero chamado civeta. É o Kopi Luwak ou Café Civeta, "o mais caro do mundo". E foi então que teve a ideia de criar a receita para o Café do Jacu.
Além da fazenda ser orgânica e ter um sistema agroflorestal, tanto a colheita quanto a separação do café é manual. O jacu vive solto na região da propriedade — há cerca de 200 — e se alimenta de outros grãos, como semente de pitanga e de jabuticaba — que precisam descartadas na elaboração do produto. O Café do Jacu também passa por congelamento a vácuo para a retirada das bactérias.
Atualmente, das 200 toneladas de café colhidas nos cafezais da fazenda, três toneladas são de jacu, e são comercializadas para países como a Inglaterra, na loja de departamento Harrods.