Passada uma semana da suspensão das exportações de mais sete frigoríficos de aves da BRF para a União Europeia (UE), incluindo uma unidade no Rio Grande do Sul e totalizando 10 plantas no país, o futuro dos embarques ainda é incerto. A medida determinada pelo Ministério da Agricultura, após a gigante de alimentos ter sido alvo de operação da Polícia Federal (PF), colocou em xeque a credibilidade da empresa que chegou a reinar como a maior exportadora mundial de carne de frango. O tamanho do estrago pode ser dimensionado pela participação da companhia, dona das marcas Sadia e Perdigão, no mercado brasileiro, de 28%. No Rio Grande do Sul, a relevância da BRF é ainda maior, com 40% da produção.
– O baque inicial é inevitável. Mas é preciso ter em mente que o problema é isolado, que temos qualidade de produto – pondera Nestor Freiberger, presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav).
Em Serafina Corrêa, no norte do Estado, o frigorífico de aves impedido temporariamente de exportar à UE emprega cerca de 10% da população do município – com pouco mais de 16 mil habitantes.
– É de longe a maior empregadora da cidade (a BRF), com 1,6 mil funcionários – relata Vando Dalmás, secretário municipal da Agricultura.
A planta industrial no município trabalha basicamente voltada ao mercado externo, incluindo países da Ásia e do Oriente Médio. Cerca de 80% da produção da unidade é exportada, segundo o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Alimentação de Serafina Corrêa.
– Por enquanto, não sabemos se haverá alguma mudança no fluxo de produção – informa José Modelski Júnior, secretário-geral da entidade sindical.
Do total exportado pelo frigorífico, o dirigente calcula que pelo menos 20% tinham como destino países da UE – principalmente cortes de peito sem pele e sem osso.
Para ABPA, autoembargo foi excesso de cautela
O embargo da planta gaúcha ocorreu no último dia 16, juntamente com outras seis unidades espalhadas pelo país. Diante da tensão criada pela ameaça dos europeus, o Ministério da Agricultura declarou autoembargo de 10 plantas de aves da BRF.
– Na minha avaliação, foi uma medida excessiva de cautela. Temos uma história de 40 anos de parceria com a União Europeia, que aprendeu a respeitar a produção brasileira – critica Francisco Turra, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
A entidade calcula que o bloco responda por pelo menos 10% dos negócios externos da BRF no segmento aves. Com os embarques aos países europeus suspensos temporariamente, a empresa terá de redirecionar a produção excedente para o mercado interno.
– A capacidade de estocagem das indústrias é limitada – confirma Turra.
Além do problema logístico, o embargo significará prejuízos à BRF. Enquanto o quilo do peito de frango é exportado a US$ 3,70 (equivalente a R$ 12,50 na cotação atual do dólar), no mercado brasileiro o mesmo produto é vendido a R$ 4 o quilo – três vezes menos.