A corregedoria da Polícia Rodoviária Federal (PRF) afirma que vai precisar de mais tempo para terminar o processo administrativo disciplinar contra três agentes envolvidos no atendimento da colisão que matou Barbara Andrielli Mendes de Moraes, 15 anos, na freeway. A nova prorrogação é de 60 dias, sendo que em julho a corporação já havia pedido mais 60. Com isso, a apuração, que começou logo após a data da batida, em 3 de março, poderá ter até oito meses de duração.
A Polícia Rodoviária Federal explicou que está com dificuldade de localizar uma testemunha. Disse, também, que há diligências a serem conduzidas em outro Estado. A avaliação da corporação é que a nova prorrogação "cobriria as necessidades para encerrar o processo". O caso é investigado por três agentes da própria PRF considerados de conduta isenta.
Em maio, o que antes era apenas uma sindicância interna ganhou o status de processo administrativo. Na oportunidade, o corregedor da PRF no Rio Grande do Sul, Leandro Wacholtz, declarou que a sindicância apontou para "possível erro de conduta" de todos os policiais que estiveram no local do acidente e o responsável pela equipe, que estava em uma base da PRF. Mesmo entendendo haver "fatos obscuros e que precisam ser explicados", o corregedor da corporação entendeu que não havia a necessidade de afastar os policiais.
À época da colisão, GaúchaZH confirmou que o condutor do veículo — o médico Leandro Toledo de Oliveira — não foi submetido ao teste do bafômetro, nem no local do acidente, nem no hospital de Santo Antônio da Patrulha, para onde ele foi levado após apresentar um surto de asma. O motorista já tinha a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) suspensa por dirigir embriagado. Naquele dia, segundo a investigação da Polícia Civil, o médico voltava de uma festa.
Em depoimento, após o começo da investigação, os policiais declararam que o médico recusou o teste. A informação, no entanto, não consta no boletim de ocorrência registrado pelos agentes na Polícia Civil 85 horas após o acidente — documento ao qual a reportagem também teve acesso. Essa demora também virou alvo de apuração contra os agentes.
Médico virou réu
Em 19 de junho, a Justiça de Santo Antônio da Patrulha tornou réu o médico por homicídio doloso eventual — quando se assume o risco de matar — duplamente qualificado e outras três tentativas de homicídio. Segundo a denúncia, "bêbado e em alta velocidade", o acusado atingiu duas motocicletas na BR-290, a freeway, no dia 3 de março de 2019, causando a morte de Bárbara Andrielli Mendes de Moraes, 15 anos.
A batida da BMW X5 do médico nas duas motos também feriu o pai, a mãe e um amigo da família da adolescente, que viajavam juntos e foram arremessados com a força da colisão. A mãe da vítima tem recuperação demorada por ter quebrado os ossos de uma das pernas e até hoje não conseguiu voltar ao trabalho.
O médico responde em liberdade. Em sua última manifestação, a defesa reforça que não há provas de que o motorista conduzia o carro após ter ingerido bebidas alcoólicas. "Até agora o que existe são meras suposições, e que no momento exato do acidente nenhuma autoridade ou especialista atestou", declarou em nota o advogado Guilherme Volante.
O fórum de Santo Antônio da Patrulha também entendeu melhor repassar o caso dos policiais à Justiça Federal. Dois deles foram indiciados pela Polícia Civil por prevaricação — quando um funcionário público não realiza sua função para satisfazer interesse pessoal.
Linha do tempo
3/3/2019 – Batida na freeway mata Bárbara e fere seu pai, mãe e amigo. Testemunhas dizem que o motorista apresentava sinais de embriaguez. Médico, com CNH suspensa, declara ter crise de asma, é levado para hospital e liberado sem sequer comparecer em uma delegacia ou passar por bafômetro.
6/3/2019 – Enquanto GaúchaZH procurava informações sobre o acidente com autoridades, o caso é registrado pela PRF na Polícia Civil, 85 horas depois. Nem sequer a assessoria de comunicação da corporação no Rio Grande do Sul sabia do ocorrido. A reportagem tem acesso ao documento e percebe que o médico não foi submetido ao teste do bafômetro. A PRF diz que vai abrir sindicância para apurar os fatos.
7/3/2019 – Procurado pela reportagem, o delegado responsável pela investigação, Valdernei Tonete, afirma que o caso não será prioridade e será apurado "na medida do possível".
8/3/2019 – Após a entrevista, a chefe da Polícia Civil do Rio Grande do Sul, Nadine Anflor, determina que a delegacia priorize a investigação, diz que o delegado se enganou e oferece agentes para reforçar a equipe.
14/3/2019 – Os três policiais rodoviários que atenderam o acidente prestam depoimento em sindicância interna para esclarecer o motivo na demora para registrar a ocorrência e de não submeter o motorista ao bafômetro.
22/3/2019 – Mãe de adolescente recebe alta do hospital. Em junho, ela ainda apresenta dificuldades de locomoção.
9/4/2019 – Médico é indiciado pela Polícia Civil, um mês e seis dias depois do acidente. Apesar de constatar embriaguez, polícia entende que o caso é um homicídio culposo – sem intenção de matar. Policial rodoviário é indiciado por prevaricação.
12/4/2019 – Quatro dias após indiciamento, reportagem de GaúchaZH tem acesso ao inquérito. Até então, delegado não havia detalhado a investigação para a imprensa. Documento aponta que médico voltava de festa, supostamente embriagado e em alta velocidade.
8/5/2019 – PRF entende que houve "possível erro de conduta" de agentes e abre processo que pode resultar em demissão de policiais. O prazo da apuração termina em julho.
19/6/2019 – Justiça torna réu motorista por homicídio qualificado com dolo eventual e três tentativas de homicídio.
10/09/2019 - Após seis meses, PRF pede mais 60 dias para terminar a investigação interna.