A corregedoria da Polícia Rodoviária Federal (PRF) pediu mais dois meses para finalizar o processo administrativo disciplinar contra três agentes envolvidos no atendimento ao acidente que matou a adolescente Barbara Andrielli Mendes de Moraes, 15 anos, na BR-290, a freeway. Com isso, a apuração, que começou logo após a data do acidente, em 6 de março, poderá ter até seis meses de duração.
À época da colisão, GaúchaZH confirmou que não foi feito o teste do bafômetro no condutor — o médico Leandro Toledo de Oliveira — nem no local do acidente, nem no hospital de Santo Antônio da Patrulha, para onde ele foi levado após apresentar um surto de asma. O motorista já tinha a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) suspensa por dirigir embriagado. Naquele dia, segundo a investigação da Polícia Civil, o médico voltava de uma festa.
Em depoimento, após o começo da investigação contra eles, os policiais declararam que o médico recusou o teste. A informação, no entanto, não consta no boletim de ocorrência registrado pelos agentes na Polícia Civil 85 horas após o acidente. Essa demora também virou alvo de apuração contra eles.
A PRF explicou que o adiamento ocorre devido a outras demandas em curso. A investigação é acompanhada de perto pelo Ministério Público Federal. O órgão tem acesso a todo o material apurado e é responsável por fiscalizar a investigação. Segundo a PRF, três agentes de conduta isenta foram escolhidos para avaliar os atos dos policiais naquele dia e podem recomendar até na demissão dos envolvidos.
Em maio, o que antes era apenas uma sindicância interna ganhou o status de processo administrativo. Na oportunidade, o corregedor da PRF no Rio Grande do Sul, Leandro Wacholtz, declarou que a sindicância apontou para "possível erro de conduta" de todos policiais que estiveram no local do acidente e o responsável pela equipe, que estava em uma base da PRF. Mesmo entendendo haver "fatos obscuros e que precisam ser explicados", o corregedor da corporação entendeu que não havia a necessidade de afastar os policiais.
Médico virou réu
Em 19 de junho, a Justiça de Santo Antônio da Patrulha tornou réu o médico por homicídio doloso eventual — quando se assume o risco de matar — duplamente qualificado e outras três tentativas de homicídio. Segundo a denúncia, "bêbado e em alta velocidade", o acusado atingiu duas motocicletas na BR-290, a freeway, no dia 3 de março de 2019, causando a morte de Bárbara Andrielli Mendes de Moraes, 15 anos.
A batida da BMW X5 do médico nas duas motos também feriu o pai, a mãe e um amigo da família da adolescente, que viajavam juntos e foram arremessados com a força da colisão. A mãe da vítima tem recuperação demorada por ter quebrado os ossos de uma das pernas e até hoje não conseguiu voltar ao trabalho.
O médico responde em liberdade. A defesa reforça que não há provas de que o motorista conduzia o carro após ter ingerido bebidas alcoólicas. "Até agora o que existe são meras suposições, e que no momento exato do acidente nenhuma autoridade ou especialista atestou", declarou em nota o advogado Guilherme Volante.
O fórum de Santo Antônio da Patrulha também entendeu melhor repassar o caso dos policiais à Justiça Federal. Dois deles foram indiciados pela Polícia Civil por prevaricação - quando um funcionário público não realiza sua função para satisfazer interesse pessoal.
Linha do tempo
3/3/2019 – Batida na freeway mata Bárbara e fere seu pai, mãe e amigo. Testemunhas dizem que o motorista apresentava sinais de embriaguez. Médico, com CNH suspensa, declara ter crise de asma, é levado para hospital e liberado sem sequer comparecer em uma delegacia ou passar por bafômetro.
6/3/2019 – Enquanto GaúchaZH procurava informações sobre o acidente com autoridades, o caso é registrado pela PRF na Polícia Civil, 85 horas depois. Nem sequer a assessoria de comunicação da corporação no Rio Grande do Sul sabia do ocorrido. A reportagem tem acesso ao documento e percebe que o médico não foi submetido ao teste do bafômetro. A PRF diz que vai abrir sindicância para apurar os fatos.
7/3/2019 – Procurado pela reportagem, o delegado responsável pela investigação, Valdernei Tonete, afirma que o caso não será prioridade e será apurado "na medida do possível".
8/3/2019 – Após a entrevista, a chefe da Polícia Civil do Rio Grande do Sul, Nadine Anflor, determina que a delegacia priorize a investigação, diz que o delegado se enganou e oferece agentes para reforçar a equipe.
14/3/2019 – Os três policiais rodoviários que atenderam o acidente prestam depoimento em sindicância interna para esclarecer o motivo na demora para registrar a ocorrência e de não submeter o motorista ao bafômetro.
22/3/2019 – Mãe de adolescente recebe alta do hospital. Em junho, ela ainda apresenta dificuldades de locomoção.
9/4/2019 – Médico é indiciado pela Polícia Civil, um mês e seis dias depois do acidente. Apesar de constatar embriaguez, polícia entende que o caso é um homicídio culposo – sem intenção de matar. Policial rodoviário é indiciado por prevaricação.
12/4/2019 – Quatro dias após indiciamento, reportagem de GaúchaZH tem acesso ao inquérito. Até então, delegado não havia detalhado a investigação para a imprensa. Documento aponta que médico voltava de festa, supostamente embriagado e em alta velocidade.
8/5/2019 – PRF entende que houve "possível erro de conduta" de agentes e abre processo que pode resultar em demissão de policiais. O prazo da apuração termina em julho.
19/6/2019 – Justiça torna réu motorista por homicídio qualificado com dolo eventual e três tentativas de homicídio.