O número de crianças e adolescentes usando a internet é cada vez maior – entre 2019 e 2021, o índice de pessoas com idades de nove a 17 anos aumentou de 89% para 93%. No entanto, apesar de o período coincidir com a pandemia e a realização de aulas remotas, o uso nessa faixa etária ocorreu em maior proporção para o acesso a redes sociais (77,8%) do que para pesquisas para trabalhos escolares (71,2%).
As informações são fruto do estudo TIC Kids Online Brasil 2021, lançado nesta terça-feira (16) pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). O levantamento envolveu entrevistas com 2.651 crianças ou adolescentes e suas famílias entre outubro do ano passado e março deste ano.
A pesquisa apontou uma alta frequência de uso da internet por pessoas dessa faixa etária – o percentual, que em nível nacional ficou em 79,9% de pessoas acessando a rede mais de uma vez por dia, é ainda maior na Região Sul, que registrou um índice de 83,6%.
As crianças e adolescentes do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do Paraná também usam mais as redes sociais do que a média brasileira, além de baixarem mais músicas e filmes e conversarem mais na internet sobre política ou problemas de sua cidade ou do país. Por outro lado, compartilham menos na internet textos, imagens ou vídeos e jogam menos online com outros jogadores (confira os percentuais na tabela).
Em nível nacional, se em 2018 a proporção de usuários de internet com nove a 17 anos que tinham perfil no Instagram ainda era minoria (45%), em 2021, seis em cada 10 pessoas dessa faixa etária (62%) acessavam a rede social. No TikTok, o percentual é semelhante: 58% têm conta no aplicativo. A prevalência de uso da plataforma está nas classes sociais AB (79%).
A incidência de perfis no Facebook, por outro lado, caiu de 66% para 51% entre esse público no período. Já o WhatsApp segue sendo a plataforma utilizada por mais crianças e adolescentes, passando de 70%, em 2018, para 80%, em 2021, estando difundida em todos os estratos sociais.
Em 2021, o acesso à internet se deu principalmente pelo telefone celular nos diferentes extratos sociais. Para 53%, este foi o único dispositivo usado, realidade que se verificou mais presente nas classes DE (78%) e C (52%) do que nas classes AB (18%). Esse é um dado que chama a atenção da coordenadora da pesquisa, Luísa Adib.
— O alto percentual de crianças e adolescentes usuários da internet é um grande avanço, mas ainda há quase 2 milhões deles sem acesso e uma forma de uso muito distinta entre as classes sociais. O celular é o único dispositivo de acesso por metade da população. Precisamos ter um olhar atento à qualidade desse acesso — alerta Luísa.
A coordenadora do estudo destaca, ainda, que a internet cria muitas oportunidades, mas precisa que o uso seja mediado por pais e responsáveis, que devem participar ativamente do que acontece com os pequenos tanto offline quanto online.
— Não existe atividade essencialmente boa ou ruim: isso vai depender da habilidade da criança e dos seus responsáveis para se ter um aproveitamento das oportunidades que existem na internet. Pode ser um espaço de criação e compartilhamento de conteúdo, socialização, participação cívica e política, mas tudo isso também pode envolver riscos — observa.
Luísa pontua, ainda, que o uso saudável da internet não é responsabilidade de um único ator. Para além dos adultos que convivem de forma mais próxima com aquelas crianças e adolescentes, também têm participação nisso as escolas, os colegas, os setores públicos e as plataformas. A aposta, em sua opinião, é sempre no diálogo e no acompanhamento dos pequenos.