Uma consecução de crimes, cercados por ingredientes de perversidade, terá análise em julgamento que ocorre nesta quinta-feira (12), em Taquara. O júri terá início às 9h, no Fórum da cidade, com expectativa de que dure dois dias. Seis réus são acusados de sequestrar, torturar, manter em cárcere, assassinar por asfixia, roubar pertences e queimar os corpos de Antonio Celestino Lummertz e Lonia Gabe.
Com 59 e 67 anos à época, respectivamente, homem e mulher foram capturados, apontou a investigação policial, em 2 de fevereiro de 2014, na localidade rural de Linha Faxinal de Dentro, município de Vale do Sol, no Vale do Rio Pardo.
Os réus teriam invadido a propriedade do casal, em dois carros, e os levado a força para Rolante, no Vale do Paranhana. Celestino e Lonia teriam sido mantidos em cativeiro na casa da suposta mentora dos crimes, no interior daquele município, até a madrugada de 8 de fevereiro, quando teriam sido asfixiados.
Quem vai a julgamento
O Ministério Público acusou e o Tribunal de Justiça do Estado determinou que fossem submetidos ao Tribunal do Júri:
- Marli Machado Martins, apontada como autora do plano criminoso;
- Valdir Ribeiro de Carvalho;
- Michele Martins Justo;
- Ronaldo Behenck Justo;
- Isaías Borges Zvoboda; e
- Anderson de Oliveira Cardoso.
Os seis responderão por dois homicídios quadruplamente qualificados (motivo torpe, recurso que impossibilitou a defesa das vítimas, para obter vantagem e tentar assegurar a ocultação de outros crimes).
Além disso, serão julgados por sequestro e cárcere privado, roubo duplamente majorado, tortura, falsidade ideológica, ocultação e destruição de cadáver, furto qualificado e formação de quadrilha.
Brutalidade
A perícia apontou que o casal foi morto por ação de esganadura mecânica. Lonia foi surpreendida enquanto dormia e estrangulada até a morte. Celestino foi arrebatado durante a madrugada, enquanto levantava-se para ir ao banheiro e ainda estava sem a perna mecânica que utilizava. Ele também foi esganado até perder os sentidos e morrer.
Queima dos cadáveres
Os corpos do casal, indicam as investigações e aponta a denúncia, foram colocados dentro de uma carcaça de geladeira, que estava no pátio da residência onde ocorreu o cárcere. Os restos mortais foram incinerados por cerca de 14 horas e depois dispensados à beira de uma via rural entre Rolante e Santo Antônio da Patrulha.
Para justificar o desaparecimento das vítimas, que vinha sendo investigado pela Polícia Civil em Vale do Sol, os autores dos crimes tentavam despistar as autoridades e familiares do casal, fornecendo, de acordo com o Ministério Público, até mesmo notícias falsas que davam a entender que Antônio Celestino poderia ter matado Lonia e fugido para o Estado do Mato Grosso.
Motivação
De acordo com o Ministério Público, Celestino havia sido testemunha de um homicídio qualificado praticado pela denunciada Marli, em 1999, em Torres. Para tentar reverter sua condenação por este crime, a mulher planejou as mortes do casal e contou com o auxílio dos demais réus, aponta a denúncia.
No cativeiro, Celestino foi obrigado a escrever, de próprio punho, uma carta na qual inocentava Marli da acusação e assumia a autoria do crime.
Ainda, segundo o MP, ele ainda foi forçado a gravar um vídeo em que falava o que escrevera na carta. Depois, foi levado até um tabelionato na cidade de Osório, onde teria sido coagido a reconhecer firma em um documento manuscrito em que confirmava ter escrito a carta e gravado o vídeo por livre e espontânea vontade.
Contraponto
O advogado Carlos Sandoval, representante do réu Ronaldo Behenck Justo, afirmou que sustentará que a participação do seu representado teria ocorrido em "menor grau de responsabilidade".
Sandoval afirma que Justo teria dirigido automóvel para levar Anderson até o cativeiro e, depois disso, teria emprestado o veículo, de sua propriedade, aos demais réus.
— Ele não participou do sequestro, do assassinato, roubo, cárcere. Meu cliente carregou este familiar e emprestou o carro a pedido dele — descreve o defensor.
A reportagem não localizou representantes de outros réus. O espaço permanece aberto para as manifestações.