A Justiça determinou que Adir Aliatti, 69 anos, o líder da Comunidade Osho Rachana, em Viamão, cumpra uma série de medidas restritivas de liberdade. A decisão é desta sexta-feira (13) e foi adotada como alternativa ao pedido de prisão preventiva apresentado pela Polícia Civil.
As medidas valem para dois dos três investigados: Aliatti e um filho. Eles terão de usar tornozeleira eletrônica, entregar os passaportes e estão proibidos de fazer contato, seja pessoal ou virtual, com as vítimas que viveram na comunidade.
A dupla está impedida de frequentar o sítio em que Aliatti teria cometido delitos como tortura psicológica, curandeirismo e estelionato. Ele também é investigado por supostamente ter causado prejuízo financeiro às pessoas que moravam na comunidade, sob sua liderança.
A terceira investigada é uma filha de Aliatti, contra a qual não há restrições no momento. Os filhos são suspeitos de terem participado e dado suporte às supostas atividades delituosas.
— O descumprimento de qualquer uma das medidas impostas possivelmente vai acarretar em prisão preventiva — diz a delegada Jeiselaure de Souza, titular da 1ª Delegacia de Polícia de Viamão.
Aliatti foi alvo de uma operação da Polícia Civil na quarta-feira (11), quando foram cumpridos mandados de busca e apreensão e de bloqueio de bens. No mesmo dia, após análise inicial das descobertas no sítio e dos depoimentos de novas testemunhas, definidos pela delegada como “impactantes”, foram feitos os pedidos de prisão preventiva de Aliatti e do filho.
Na manhã desta sexta-feira, a 3ª Vara Criminal de Viamão emitiu decisão com as medidas alternativas ao encarceramento. Embora tenha buscado a prisão, a delegada avalia que as restrições são suficientes para auxiliar o andamento da investigação.
— O objetivo é evitar que ele fuja ou ameace as vítimas — diz Jeiselaure, que marcou interrogatórios dos três suspeitos para a próxima semana.
A Polícia Civil divulgou um número de telefone para possíveis vítimas que desejarem colaborar com as investigações: 51 99841 6606.
A comunidade Osho Rachana
Em uma área rural da Região Metropolitana, homens e mulheres eram atraídos com um discurso de desprendimento, libertação diante do status quo, ruptura com a vida pretérita, curas e evolução espiritual por meio de terapias bioenergéticas e autoconhecimento. A vida no local também teria a conotação de sexualidade livre.
Cerca de cem pessoas chegaram a viver no sítio, mas recentemente o número havia caído para aproximadamente 20. Aliatti também é conhecido como Prem Milan, espécie de rebatismo em sânscrito, antiga língua originária da Índia e do Nepal.
Nas chamadas terapias, Aliatti extrairia intimidades das pessoas, o que era usado posteriormente como forma de controle e imposição de medo. Ele incentivava uma ruptura com a vida pretérita, inclusive com familiares, e teria a capacidade de incutir nos discípulos que eles seriam infelizes fora da Osho Rachana. Há relatos de que, nas sessões, agredia moradores que não tinham reações emocionais desejadas por ele.
No aspecto econômico, os relatos apontam dois modelos de moradia no sítio liderado por Aliatti. Os que tinham emprego formal podiam sair diariamente para trabalhar. Para viver no local, tendo pouso, alimentação e espaços de lazer, pagavam um aluguel. As informações são de que, ultimamente, esse custo era de pelo menos R$ 5 mil por mês. Os que não tinham uma atividade tradicional eram envolvidos nos negócios da Comunidade Osho Rachana. Comercializavam nas ruas de Porto Alegre, do Litoral e de cidades de outros Estados itens como agendas, cadernos e até pães de porta em porta.
O dinheiro, depois de custeadas despesas, iria para Prem Milan, apesar do discurso de reversão à comunidade. Também havia as imersões, espécie de cursos intensivos de bioenergia, alguns deles focados em sexualidade. Para essas “maratonas”, os custos variavam de R$ 8 mil a R$ 12 mil. Existiriam pressões para a adesão aos intensivos.
Uma outra forma de o líder Aliatti arrecadar recursos era com a contração de empréstimos. Os seus seguidores seriam induzidos a tomar o financiamento diretamente ou ingressar na condição de fiador com bens pessoais.
A Polícia Civil estima que Prem Milan tenha obtido e desviado mais de R$ 20 milhões dos fiéis. Ainda assim, teria alcançado um prejuízo de R$ 4 milhões nas operações que realizou. Ele teria vício em apostas esportivas e teria perdido cerca de R$ 300 mil com a prática somente em 2024. O líder também teria gasto recursos em viagens de luxo.
Contraponto
A reportagem contatou o advogado Rodrigo Oliveira de Camargo, defensor de Aliatti, que se manifestou em nota:
“A defesa técnica de Adir Aliatti refuta a hipótese levantada pelos denunciantes e já se colocou à disposição das autoridades. Aliatti confia na Justiça e não se furtará de prestar todos os esclarecimentos devidos nos foros e momentos adequados. Até onde teve conhecimento dos fatos investigados, a materialidade da narrativa não se sustenta por falta de elementos”.