O Ministério Público do Rio Grande do Sul, por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) desarticulou, nesta sexta-feira (22), um esquema comandado por facção a partir do interior do Presídio Regional de Pelotas (PRP), no sul do Estado, de venda de drogas, lavagem de dinheiro e agiotagem.
Cerca de 700 agentes cumprem mais de 170 mandados judiciais, incluindo 19 prisões e remoção de apenados, contra organização criminosa que movimentou mais de R$ 32 milhões. Os mandados são cumpridos em 13 cidades no RS, Santa Catarina e Paraná.
Foram cumpridos 19 mandados de prisão preventiva, 156 mandados de busca e apreensão, além da remoção de oito apenados do PRP e bloqueio de 1,3 mil contas bancárias.
No Rio Grande do Sul, são 152 mandados de busca e 18 prisões, em Santa Catarina são dois mandados de busca e no Paraná dois mandados de busca e uma prisão, a do homem apontado como líder da facção gaúcha investigada pelo GAECO. Os crimes apurados são de organização criminosa, lavagem de capitais, tráfico de drogas, corrupção ativa e passiva.
Operação Caixa-Forte II
Essa operação surgiu a partir de uma apreensão realizada em dezembro do ano passado, quando um grupo montou um centro operacional no PRP para ingressar no local com materiais como celulares e drogas. Com as apreensões realizadas na primeira etapa, iniciou-se uma série de investigações que desencadearam a operação desta sexta-feira.
O promotor de Justiça Rogério Meirelles Caldas, do 10° Núcleo do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do MPRS, informou que “foi identificada a estrutura hierárquica do grupo, com núcleos que vão da gerência às finanças, envolvendo diversos laranjas.”
Foi realizada uma revista no PRP, resultando na remoção de oito líderes da organização criminosa, sendo sete com prisões decretadas pelos crimes apurados na operação. Além disso, outras revistas foram realizadas na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (PASC) e no Presídio Regional de Bagé, em razão da participação de outros detentos nas atividades ilícitas.
Ele também descobriu que, em 10 meses do ano passado, a facção movimentou R$ 2,6 milhões somente com o tráfico e ingresso de celulares no presídio.
Operação El Patron
O promotor Rogério Caldas diz que a facção também se envolvia com jogos de azar e rifas. Sobre a agiotagem, ele destaca que a organização criminosa utilizaria um aplicativo para a realização de operações de microcrédito. Por meio de laranjas, o grupo realizaria empréstimos com anúncios nas redes sociais e agiria como se utilizasse empresas especializadas ou idôneas. No entanto, foram comprovados juros na casa dos 50%, 60%, 80%, 100% e até mesmo 280%. As cobranças eram feitas por meio de métodos usados no crime, ou seja, devedores eram ameaçados e sofriam outros tipos de sanções mais graves por parte dos integrantes da facção.
A maior parte dos mais de R$ 32 milhões movimentados era com empréstimos, jogos de azar, rifas e também lavagem de capitais. Sobre esta questão, foi autorizada pela Justiça a busca e apreensão de 28 veículos e de quatro imóveis em Pelotas. Outra forma de lavagem era por meio da aquisição ou investimentos em empresas. São 10 ao todo: açougues, frigorífico e uma imobiliária no Rio Grande do Sul e mais duas imobiliárias em Santa Catarina. Por fim, também havia lavagem de capitais por meio de depósitos em 1,3 mil contas bancárias em nome de laranjas.
A operação contou com apoio dos GAECOs dos Ministérios Públicos de Santa Catarina e Paraná, Brigada Militar, Superintendência dos Serviços Penitenciários (SUSEPE), Receita Estadual, Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (SEAPI), Vigilância Sanitária Estadual e Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO), foram deflagradas as operações Caixa-Forte II e El Patron. Interligadas, uma apura a venda de drogas e ingresso de materiais ilícitos para o interior do presídio, inclusive com a participação de um policial penal, enquanto a outra investiga um esquema de microcrédito com juros de até 280% e métodos de cobrança nos moldes de uma organização criminosa. São mais de cem pessoas investigadas, entre elas, 27 detentos, e 10 empresas.