A defesa de Carla Carolina Abreu Souza, 29 anos, presa sob suspeita de ter matado a filha Kerollyn Souza Ferreira, nove anos, em Guaíba, manifestou-se sobre o assunto pela primeira vez nesta sexta-feira (23). Os advogados Thais Constantin e Welynton Noroefé Domingues, que assumiram a representação na quarta (21), afirmam que vão buscar elementos para provar que a mãe não tem ligação direta ou indireta com a morte. Também sustentam que a prisão foi precipitada.
Na delegacia, Carla confirmou à polícia ter administrado meio comprimido de clonazepam na filha. Segundo Thais Constantin, o depoimento é inválido, pois Carla foi ouvida sem a presença de advogado.
— O que eu posso afirmar, nesse momento, é que ela foi ouvida sem a presença de um defensor. O que compromete bastante todas alegações que ela possa ter prestado perante a polícia. Não sabemos em que contexto ela foi ouvida, porque não havia defensor acompanhando esse ato. Então, a partir do acesso que tenhamos aos autos, vamos conseguir passar posicionamento melhor — afirmou Constantin.
Sem divulgar detalhes sobre a conversa que teve com Carla, a advogada afirma que ainda busca acesso integral aos autos da investigação. Nesta semana, a Justiça decretou um dos graus mais restritos de sigilo no caso, o que impede até que partes do processo tenham acesso a todo o conteúdo.
No início desta semana, a Polícia Civil chegou a marcar coletiva de imprensa para divulgar o resultado do laudo pericial que poderia apontar a causa da morte da menina. No entanto, a partir do sigilo decreto, a coletiva foi cancelada e, até o momento, a causa não foi revelada. A defesa afirma que também não teve acesso ao documento.
— Nos surpreende porque esses laudos não estão dentro do que nos foi liberado. Nós também estamos aguardando e, para nós, é crucial que ele apareça o quanto antes. No nosso entendimento, ele vai elucidar muita coisa do que estamos tentando e ouvimos da própria Carla — completou a advogada.
Segundo o Judiciário, o inquérito policial e pedidos relacionados já haviam sido distribuídos de forma sigilosa, mas com um grau inferior, de nível 1. Em nova decisão, foi elevado o grau de sigilo, como medida de segurança, "uma vez que foi detectado um alto número de acessos indevidos aos autos, ou seja, de usuários que não atuam no feito".
O Judiciário também explicou que o caso se encontra em fase de investigação, "e o acesso indevido pode não só prejudicar as diligências que estão em andamento, mas também comprometer procedimentos futuros, além de gerar constrangimento aos familiares da vítima".
O caso
O corpo de Kerollyn Souza Ferreira, nove anos, foi localizado na manhã de 9 de agosto, dentro de um contêiner de lixo, em Guaíba. Após a morte da menina ser descoberta, uma série de relatos de negligência e maus-tratos que seriam praticados pela mãe chegou ao conhecimento da polícia. Vizinhos alegam que a criança era agredida, passava fome e costumava perambular sozinha na rua, inclusive à noite. Os moradores também alegam que o Conselho Tutelar foi acionado inúmeras vezes sobre o caso.
Em razão disso, a Polícia Civil de Guaíba chegou a pedir a prisão preventiva da mãe pelo crime de tortura. No entanto, o Ministério Público entendeu que havia elementos suficientes para pedir a prisão temporária da mulher por suspeita de homicídio.
As circunstâncias da morte da criança, no entanto, ainda precisam ser esclarecidas. O Conselho Tutelar de Guaíba afirma que sempre conferiu as denúncias envolvendo Kerollyn e a família, mas que nunca recebeu relatos de maus-tratos.