A Polícia Civil e o Instituto-Geral de Perícias (IGP) cancelaram a coletiva prevista para a manhã desta quarta-feira (21) sobre o caso da menina Kerollyn Souza Ferreira, nove anos, encontrada morta no último dia 9 dentro de um contêiner de lixo. Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP) do Estado, houve decreto de sigilo no caso pela Justiça de Guaíba.
Estava agendada para 10h na sede da SSP, na zona norte de Porto Alegre, a divulgação dos resultados dos laudos periciais. Os exames são considerados essenciais para explicar como se deu a causa da morte da criança.
A mãe dela, Carla Carolina Abreu Souza, 29 anos, está presa e é investigada por homicídio. Uma das suspeitas é de que a menina possa ter morrido em razão da ingestão de um sedativo.
Em depoimento, Carla confirmou à polícia ter administrado meio comprimido de clonazepam na filha. No entanto, somente a perícia deve apontar se isso realmente causou a morte da menina.
Não havia sinais aparentes de violência no corpo de Kerollyn. Além da causa da morte, a forma como o corpo da criança teria chegado até o contêiner de lixo ainda precisa ser esclarecida.
Tanto a polícia, responsável pela investigação, como o IGP, que produziu os laudos, se manifestariam na coletiva desta manhã. Seriam divulgados detalhes dos exames pelo chefe da Polícia Civil, delegado Fernando Sodré, e pela diretora-geral do IGP, Marguet Mittmann.
No entanto, em razão da decretação de sigilo pela Justiça, isso não irá ocorrer. As duas instituições divulgaram nota, informando o cancelamento.
O chefe da Polícia Civil também confirmou o cancelamento, atendendo à determinação judicial.
— Ainda não tivemos acesso ao teor completo da decisão — disse nesta manhã.
Segundo Sodré, o inquérito do caso ainda não foi concluído pela polícia. Na coletiva, seriam divulgados, além dos resultados dos laudos periciais, os próximos passos da investigação a partir disso. Quando o inquérito for finalizado, a polícia deve divulgar as informações sobre a conclusão.
No início da tarde desta quarta-feira, o Judiciário, por meio de nota, se manifestou acerca da decisão de decretar o sigilo do caso.
Segundo o Judiciário, o inquérito policial, e pedidos relacionados já haviam sido distribuídos de forma sigilosa, mas com um grau inferior, de nível 1. Em nova decisão judicial, foi elevado o grau de sigilo. Ainda conforme o Judiciário, isso se deu como medida de segurança, "uma vez que foi detectado um alto número de acessos indevidos aos autos, ou seja, de usuários que não atuam no feito".
Segundo a explicação enviada pelo Judiciário, o caso se encontra em fase de investigação, "e o acesso indevido, pode não só prejudicar as diligências que estão em andamento, mas também comprometer procedimentos futuros, além de gerar constrangimento aos familiares da vítima".
O Judiciário afirma que o sigilo será mantido enquanto houver necessidade para as investigações.
O caso
Após a morte de Kerollyn ser descoberta, uma série de relatos de negligência e maus-tratos que seriam praticados pela mãe chegou ao conhecimento da polícia. Vizinhos alegam que a criança era agredida, passava fome e costumava perambular sozinha na rua, inclusive à noite. Os moradores também alegam que o Conselho Tutelar foi acionado inúmeras vezes sobre o caso.
Em razão disso, a Polícia Civil de Guaíba chegou a pedir a prisão preventiva da mãe pelo crime de tortura. No entanto, o Ministério Público entendeu que havia elementos suficientes para pedir a prisão temporária da mulher por suspeita de homicídio.
As circunstâncias da morte da criança, no entanto, ainda precisam ser esclarecidas. O Conselho Tutelar de Guaíba afirma que sempre conferiu as denúncias envolvendo Kerollyn e a família, mas que nunca recebeu relatos de maus-tratos.