As ruas no entorno da praça onde fica a associação de moradores do bairro Camaquã, na zona sul de Porto Alegre, estavam mais silenciosas do que de costume nesta terça-feira (20). Nem mesmo o som das crianças a caminho da escola do bairro foi ouvido pela vizinhança nos últimos dois dias.
Isso porque no último domingo (18), o local foi palco de um ataque a tiros que resultou em um triplo homicídio durante uma partida de futebol. A polícia suspeita que a motivação para o crime seja uma disputa entre facções rivais. Dois suspeitos estão presos.
No topo da Rua Eucalipto, uma ladeira que cruza a Professor Doutor João Pitta Pinheiro Filho, onde fica a praça, um grupo de pessoas conversava quando Zero Hora chegou ao local na tarde desta terça.
Os moradores preferiram não comentar sobre o ocorrido e limitaram-se a dizer que as informações que tinham eram as mesmas que já foram noticiadas.
"Sempre foi um bairro tranquilo", diz moradora
Em um estabelecimento comercial junto à praça, a atendente disse que estava fritando pastéis no momento do crime e que não viu nada. Ela também afirmou não saber ao certo o que havia acontecido, nem onde.
Já uma vizinha de outro ponto do bairro conta que estava em casa na tarde de domingo assistindo televisão quando ouviu o som dos disparos. Segundo ela, ao longo do dia houve fogos de artifício na praça em razão do jogo de futebol e que, por isso, não percebeu que os estrondos seriam de tiros.
Ela recorda que só percebeu que algo de estranho acontecia quando viu as pessoas que estavam na praça correndo rua abaixo. Um rapaz se refugiou na área coberta em frente à casa da moradora. O jovem, que carregava um par de tênis nas mãos, foi quem a avisou para se proteger. A mulher disse que conhecia o homem de 41 anos que foi assassinado e lamentou pelas mortes.
— Fiquei chocada quando soube. Aqui sempre foi um bairro tranquilo. Isso nunca tinha acontecido — comentou.
Execução à luz do dia
No domingo, um jogo de futebol reuniu diversas pessoas da comunidade no campo de areia localizado ao lado da associação de moradores. Por volta das 18h, pelo menos três homens chegaram ao local e efetuaram diversos disparos contra os presentes. Agentes do 1º Batalhão de Polícia Militar (1º BPM) foram acionados para atender a ocorrência.
Segundo a Brigada Militar, o alvo do ataque seria um homem de 41 anos, que foi atingido no rosto e morreu no local. Além dele, um adolescente de 16 anos foi atingido e não resistiu aos ferimentos.
Outro homem, de 38 anos, também foi baleado. Após ser atendido no Hospital de Pronto Socorro (HPS), faleceu. Os três teriam vínculo familiar.
Uma adolescente de 15 anos foi ferida e levada para o HPS. Uma mulher de 30 anos também foi atingida e encaminhada para o Hospital Vila Nova. Segundo informações do 1º BPM, ambas têm o quadro de saúde estável e se recuperam bem.
De acordo com a BM, o homem de 41 anos que seria o alvo do ataque tem diversos antecedentes criminais, entre os quais um homicídio. Ele esteve preso até março. A BM aponta que ele seria vinculado a uma facção com base no Vale do Sinos.
Suspeitos presos na Cruzeiro
Na madrugada de segunda-feira (19), a BM prendeu dois suspeitos pelo ataque. Segundo o major Ademir Henz, subcomandante do 1º BPM, os homens foram detidos nas imediações da Vila Cruzeiro, de onde teriam se deslocado para cometer o crime.
Um dos presos é um homem de 26 anos, que é investigado por envolvimento em pelo menos quatro homicídios, além de responder por delitos como porte ilegal de arma de fogo, dois roubos a estabelecimento comercial e receptação. O outro preso é um jovem de 19 anos sem antecedentes. Henz aponta que ambos teriam ligação com uma facção sediada na Cruzeiro, que seria rival à que a vítima integrava.
Conforme o subcomandante, um terceiro suspeito já foi identificado e há, ainda, um quarto investigado, que teria dirigido o automóvel usado no crime. O veículo, no entanto, ainda não foi localizado.
Reforço da segurança na área
A BM reforçou o policiamento tanto na região em que o crime ocorreu, no bairro Camaquã, quanto na localidade em que os suspeitos foram presos, na Cruzeiro. De acordo com o major Ademir Henz, a corporação já impediu a realização de eventos na associação em outras ocasiões para garantir a segurança da comunidade.
— Estamos fazendo saturação 24 horas por dia por prazo indeterminado nos pontos mais críticos. Nos pontos alvos dos atentados e de onde saíram os responsáveis — explica o oficial.
O caso é investigado pela 6ª Delegacia de Homicídios da Capital, que não se manifestou em razão do embargo definido pela Associação dos Delegados de Polícia do RS (Asdep), que pede reajuste salarial para a categoria.