
Na tarde do segundo dia do julgamento de David da Silva Lemos, nesta quarta-feira (14), começaram as explanações da advogada de acusação, do Ministério Público, e dos advogados do réu. Lemos é acusado de matar, em 2022, os quatro filhos: Yasmin, 11 anos, Donavan, oito, Giovanna, seis, e Kimberlly, três.
— A mãe não pôde ver o rosto dos quatro filhos nos caixões, porque foi tão cruel, que os caixões ficaram fechados. Ela não pode dar um beijo na testa e olhar o rosto deles uma última vez — afirmou a advogada Gabriela Souza, da acusação.
O julgamento está sendo presidido pelo juiz de Direito Marcos Henrique Reichelt, da 1ª Vara Criminal da Comarca de Alvorada, e deve ser concluído na noite desta quarta. A acusação é feita pelos promotores de Justiça Plínio Castanho Dutra, Leonardo Rossi e Daniela Fistarol. A assistente de acusação é Gabriela Souza.
Pai usou filhos para causar dor à ex-companheira, argumenta acusação
A advogada completou, ainda, que o pai das crianças "teve chances de parar" com o crime, mas que "escolheu" matar os menores:
— Ele teve muitas chances de parar. E ele escolheu matar essas crianças porque soube que o relacionamento dele com a ex-companheira havia terminado — acrescentou Gabriela.
Em complemento à fala da advogada, o promotor Plínio Castanho Dutra, da acusação, também reiterou a tese de que o homem usou os filhos para causar dor à ex-companheira:
— Tornou eles (as crianças) um instrumento de tortura contra a mãe — disse Dutra.
— Não existe sentença grande, intensa, forte o suficiente pra punir o que esse homem fez contra essas crianças — acrescentou o promotor.
Já o promotor Leonardo Rossi defendeu que o réu seja condenado com as seguintes qualificadoras: motivo torpe (morte dos filhos para causa sofrimento à ex-companheira); meio cruel (golpes de arma branca) e por asfixia (no caso da filha mais nova).
— Não reconhecer essas qualificadoras é aceitar que as 40 facadas desferidas nas vítimas e no peito de cada um de nós vai ficar impune — encerrou Rossi.
Defesa afirma que faca não tinha material genético do acusado
Já a defesa sustenta que não foi Lemos que praticou o crime. Os advogados afirmam que análises de materiais periciados, como na faca utilizada no crime, não concluíram pela presença de material genético dele.
— A ânsia era tanta de culpar alguém que se deixou passar muita coisa, e muita pergunta não foi respondida neste processo — afirmou a advogada Thaís Constantin.
Também representam Lemos os advogados Deise Dutra e Marçal Carvalho.
Réu ficou em silêncio
Durante o interrogatório, também na tarde desta quarta, David da Silva Lemos optou por ficar em silêncio.
Mais cedo, nesta quarta, o irmão de Thays da Silva Antunes, mãe das crianças, foi ouvido nesta quarta como informante.
Ele relatou morar no mesmo terreno que o casal e os filhos, e que o relacionamento entre Lemos e Thays era instável: eles terminam e retornavam, o que o descontentava. O tio afirmou ter orientado que ambos se separassem para resolver a situação.
O tio disse não ter presenciado agressões físicas por parte do réu contra a mãe e as crianças. No entanto, afirmou que Lemos aparentava ser distante dos filhos. Kimberlly, três anos, a vítima mais nova, era com quem ele tinha mais proximidade, conforme o relato.
— Notava que ele era ausente com as crianças. Não via entrosamento com elas. Pouca vezes notei ele brincando no pátio com as crianças — disse o tio.
Depoimento da mãe
A sessão no Tribunal do Júri teve início na terça-feira (13), em Alvorada, onde o crime aconteceu. No primeiro dia do julgamento, a mãe das crianças foi ouvida. No depoimento, ela observou que o crime abalou sua saúde física e psicológica.
— Eu só queria que os meus filhos saíssem lá de dentro e fossem embora comigo. E não foi isso que aconteceu — contou Thays da Silva Antunes.