Era pelas redes sociais que criminosos monitoravam a rotina dos seus alvos: moradores de condomínios de alto padrão de capitais brasileiras. Pelas postagens, sabiam os lugares que elas costumavam frequentar, e, inclusive, quando estavam fora de casa, em viagens.
A mesma estratégia era adotada por um grupo de São Paulo – alvo de operação da Polícia Civil gaúcha. A ofensiva, que culminou na prisão de quatros suspeitos, investiga a quadrilha por suspeita de ter praticado ao menos sete furtos para levar joias, relógios de luxo, armas, dólares e outros itens de alto padrão.
O esquema, que começava na internet, passava por outras etapas. Após definirem quem seriam as vítimas, os criminosos viajavam de São Paulo até o Rio Grande do Sul para cometer os ataques. Para ingressar nos condomínios faziam uso de outra tática. Chegavam ao local, vestidos como adolescentes, com roupas de grife, e circulavam à vontade, como se estivessem acostumados a frequentar o local.
Dessa forma, a quadrilha ludibriava a segurança e conseguiam cruzar pela portaria, para acessar a área dos apartamentos. No início da investigação, a polícia chegou a suspeitar que pudesse haver algum envolvimento por parte de quem trabalhava nas portarias.
— Não houve participação dos porteiros. Eles não faziam o aliciamento da equipe de segurança. Os fatos não aconteceram só no RS, e eles usaram o mesmo modo de ação em outros Estados. Entravam com autorização da portaria, não porque os porteiros estavam envolvidos, mas porque ficavam com temor de barrar aquela pessoa e depois serem cobrados. Eram, inclusive, empresas diferentes de segurança — explica a delegada Adriana Regina da Costa, diretora do Departamento de Polícia Metropolitana.
As prisões
As investigações da 3ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre conseguiram identificar seis suspeitos de participar do esquema. Desses, quatro foram presos na terça-feira (16) em São Paulo. Os presos tinham 23, 25, 27 e 28 anos – três deles com antecedentes por crimes como furtos e receptação. Eles foram conduzidos ao RS.
Além dos quatro, a polícia conseguiu identificar ainda dois suspeitos, ambos de 21 anos, de serem os responsáveis por ingressar nos condomínios. A dupla ainda é procurada pelos policiais — os nomes dos investigados não foram divulgados pela polícia.
— Eles já vêm de São Paulo com endereço previamente identificado. Geralmente, um ou dois entram, como se fosse um morador, vestido com roupas boas, aparentando ser uma pessoa normal, de classe média alta. Acenam para o porteiro, que, inadvertidamente, abre a porta, achando que é um morador ou familiar. Lá dentro, arrombam a porta do apartamento. Eles já têm informações prévias de investigações pela internet, dados das vítimas, como número de filhos, onde trabalham, renda per capita. Fazem uma cuidadosa investigação nas redes sociais das vítimas — explica a delegada Rosane de Oliveira, da 3ª DP.
Os casos
Os ataques em Porto Alegre ocorreram em bairros como Moinhos de Vento, Praia de Belas, Rio Branco, Jardim Europa e Bela Vista. Somente num dos casos, em fevereiro deste ano, no bairro Moinhos de Vento, os bandidos levaram objetos que somam cerca de R$ 3,2 milhões. Foram furtados itens como joias, relógios, uma pistola e valores em dólares e real.
Segundo a polícia, um dos planos dos criminosos era ir até o apartamento em datas nas quais as vítimas não estavam em casa, por exemplo, quando em viagens.
— Num dos casos, um dos criminosos ficou duas horas tentando arrombar uma porta blindada, num prédio de luxo — explica a delegada Rosane.
Após os furtos, os criminosos deixavam o local levando os objetos em mochilas ou malas. Eles usavam carros alugados para fazer o transporte. Do lado de fora, parte da quadrilha, responsável pelo monitoramento do local, aguardava para a fuga.
Imagens obtidas dentro dos condomínios foram essenciais para que a polícia chegasse até os suspeitos. O mesmo grupo, segundo os policiais, foi identificado em ações em Estados como Rio de Janeiro e São Paulo.