Jovens, vestidos como adolescentes, com roupas de grife, andando à vontade pelos condomínios. É assim que uma quadrilha se comporta com intuito de ingressar sem levantar suspeitas em prédios de áreas nobres e furtar joias, relógios, dólares e outros itens de valor. Os criminosos se passam por parentes dos proprietários e ludibriam a segurança para cruzar pela portaria e ingressar nos residenciais. Os alvos dos criminosos são produtos que não podem ser rastreados. O grupo especializado em furtos vem agindo em Porto Alegre e está no radar da Polícia Civil.
Neste ano, chegaram ao conhecimento dos policiais pelo menos cinco casos nos quais os ladrões agiram de forma semelhante. A suspeita é de que se trate do mesmo grupo. Os ataques aconteceram no bairro Moinhos de Vento, em janeiro, no Higienópolis, em fevereiro, e nos bairros Bela Vista e Rio Branco, estes dois últimos neste mês. Houve ainda um quinto episódio, no Jardim Europa, no qual os criminosos chegaram a ingressar no prédio, mas uma vizinha ouviu barulhos na porta do apartamento e eles fugiram sem conseguir entrar no imóvel.
Os policiais vêm investigando essa prática há cerca de dois anos, segundo o Departamento de Polícia Metropolitana (DPM). As delegacias da Capital e o setor de inteligência do DPM se uniram para tentar identificar quem são os bandidos por trás desses furtos. Os ladrões são seletivos na hora de escolher os alvos e buscam invadir apartamentos onde sabem que encontrarão produtos de alto valor. As coberturas dos prédios estão entre as principais escolhas. A polícia não informa valores, mas confirma que os itens levados pela quadrilha somam quantias milionárias.
O grupo especializado é formado tanto por homens, como por mulheres, bastante jovens. Em alguns casos, aparentam ser estudantes, carregando cadernos e livros. Durante a ação, os ladrões não escondem o rosto, e agem normalmente como se fossem pessoas acostumadas a circular pelo condomínio. Segundo a polícia, tudo faz parte da farsa para enganar as equipes das portarias, e convencer os trabalhadores de que eles são parentes dos moradores.
— Em alguns casos eles entram sozinhos ou em dupla, e o restante do grupo fica aguardando do lado de fora. Em outros, um entra primeiro e depois abre a porta para o outro. A equipe da portaria, com receio de barrar a entrada, acaba permitindo o ingresso — explica a delegada Adriana Regina da Costa, diretora do DPM.
Após passar pela portaria, os criminosos conseguem entrar na área privada dos condomínios e seguem até o acesso ao apartamento. Para abrir a porta do imóvel, costumam usar ferramentas que levam escondidas junto ao corpo. Ali dentro, permanecem cerca de uma hora, vasculhando o local em busca do cofre e de outros itens de valor. Quando existem armas, elas também são levadas pela quadrilha.
Os bandidos costumam usar mochilas ou malas do próprio apartamento para ir embora levando os itens furtados. Num dos casos na Capital, o ladrão saiu andando num skate que havia furtado. Durante a ação dos bandidos, outro integrante permanece monitorando a movimentação do lado de fora do condomínio, para alertar caso algum morador retorne. Os ladrões fogem de carro, levando os produtos furtados.
Grupo de fora
Segundo a Polícia Civil, a investigação para identificar os autores conta com a colaboração de forças de segurança de outros Estados. Uma das suspeitas é de que a origem do grupo seja São Paulo, onde há registros de fatos semelhantes. A quadrilha teria atuação em diversos locais do país, entre eles o Rio Grande do Sul, para onde viajaria para cometer os furtos e depois retornaria para o Estado de origem.
Em outubro de 2021, a polícia desarticulou em São Paulo uma quadrilha especializada nesse tipo de crime. Os bandidos também agiam em outros Estados, como Rio de Janeiro, Ceará e Mato Grosso do Sul. Cinco suspeitos de integrarem o grupo foram presos naquela ocasião. Os bandidos eram especializados no ingresso clandestino em condomínios de alto padrão. Para entrar nos locais, segundo a polícia paulista, os ladrões monitoravam as vítimas e chegavam a clonar tags de entrada dos condomínios.
— A Polícia Civil está atenta e tratando com prioridade a investigação, principalmente com o trabalho integrado com outros Estados, e o trabalho de inteligência — garante a delegada Adriana sobre os casos ocorridos em Porto Alegre.
Recentemente, a polícia divulgou outro tipo de crime também envolvendo um grupo formado por paulistas. No último fim de semana, quatro suspeitos de cometerem assaltos em residências em áreas nobres da Capital foram presos pela Polícia Civil. Após uma perseguição pela freeway, três paulistas e um mineiro foram presos. No caso mais recente, em fevereiro, durante o feriado de Carnaval, os bandidos tinham roubado cerca de R$ 2 milhões em joias de uma casa, no bairro Boa Vista. Neste tipo de crime, no entanto, os alvos são residências e a forma de agir da quadrilha é diferente, rendendo os funcionários e usando armas de fogo.
Prevenção
Um dos objetivos da polícia é também deixar as empresas de segurança e equipes que trabalham nas portarias alertas. A Polícia Civil pretende realizar reuniões com os trabalhadores para repassar informações sobre o modo de ação da quadrilha.
— É importante que as seguranças, as portarias de condomínios fiquem atentas para verificar se há realmente autorização dos proprietários para essas pessoas que chegam nesses prédios — alerta a delegada.