A intensa movimentação de pedestres, ciclistas e visitantes que frequentavam as estruturas do Pontal Shopping foi abruptamente substituída pela presença constante de viaturas e embarcações da Polícia Federal (PF) nas últimas semanas. O local, de onde partiram expedições que resgataram mais de 3 mil flagelados das cheias, hoje serve como centro de operações das equipes de patrulhamento da chamada Operação Esperança.
A mudança da paisagem se fundamenta justamente pela localização do Pontal, às margens do Guaíba. O coordenador do Centro de Comando Operacional da PF na Operação Esperança, delegado Thiago Delabary, explica que a posição estratégica, com menor distância para o acesso às cidades de Guaíba e Eldorado do Sul — duas das mais atingidas pelas enchentes — foi critério determinante para a instalação do centro de operações no local.
— Além dessa missão humanitária, passamos a fazer também uma operação de patrulhamento. Nos primeiros dias, muitas pessoas não quiseram sair de suas casas por medo de saques e depois mudaram de ideia com o avanço das águas. Como ficavam sem água, sem luz, com comorbidades, eles reavaliavam e pediam resgate dias depois. Houve um período de transição, mas chegou um momento em que não havia mais pessoas querendo sair de suas casas, somente resgates de animais — explica Delabary.
Do lado de fora do shopping, uma fileira de embarcações e viaturas ficam posicionadas sobre a ciclovia, no aguardo das missões. Na tenda montada de frente para o ponto de embarque, dois policiais atuam 24 horas no atendimento das demandas que chegam por água ou terra. O posto de embarque do Catamarã é de onde os agentes saem pela manhã e retornam ao fim do dia nos barcos.
Atualmente, o foco são os patrulhamentos ostensivos das regiões alagadas, como as ilhas, na outra margem do Guaíba. Os patrulhamentos também ocorrem em outros pontos que permanecem inundados, como os bairros Sarandi e Humaitá, na Zona Norte.
Os policiais seguem ainda atentos à situação no sul do Estado, que continua em alerta com o risco de elevação da Lagoa dos Patos em cidades como Pelotas, Rio Grande e São Lourenço do Sul. Caso seja necessário, será encaminhado reforço ao efetivo que já atua na região.
O delegado Delabary pontua que a operação envolve cerca de 400 policiais. Além dos agentes gaúchos, há policiais vindos de diferentes localidades do país. Os reforços vieram do Paraná, Santa Catarina, Distrito Federal, Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Bahia e Pará.
A PF conta também com 80 agentes atuando em grupos especiais de Polícia Marítima (NEPOM), Grupos Táticos (COT e GPI) e Aéreo (CAOP). Em Eldorado do Sul foi montada uma base fixa da PF para garantir a segurança dos estabelecimentos e residências por terra também.
As ações integradas foram organizadas em coordenação com a Secretaria da Segurança Pública do RS (SSP). Desde o início das operações, já foram verificadas 44 ocorrências envolvendo disparo de arma de fogo e checagem de suspeitos, entre outras.
Era uma mobilização muito mais humanitária do que policial. Foi uma grande lição para todos.
DELEGADO THIAGO DELABARY
Coordenador do Centro de Comando Operacional da PF na operação.
— Quando a crise se anunciou, nós já estávamos com os barcos na água com os recursos que nós tínhamos. Nos mobilizamos em tempo hábil e trabalhamos muito nos primeiros dias de salvamento. Era uma mobilização muito mais humanitária do que policial. Foi uma grande lição para todos — frisa o delegado Delabary.
Apoio estrutural
O delegado também agradece o apoio da administração do Pontal por disponibilizar a estrutura para o recebimento das vítimas. As ações de acolhimento são realizadas tanto na área externa, quanto na parte interna do complexo.
— O Pontal Shopping atuou como parceiro da operação da PF por entender que esse era um momento de união, solidariedade e de mobilizar esforços para a ação. Colocamos nossa estrutura à disposição, buscamos facilitar a logística da operação de resgate e ser um ponto de apoio aos agentes e todas as equipes que de forma incansável trabalharam pela população — diz a gerente-geral do shopping, Amélia Siqueira.
UTI veterinária precisa de doações
A partir desta semana, o Pontal Shopping passou a contar com um ponto de apoio ao Hospital de Campanha Veterinário do Gasômetro. A estrutura montada no local tem uma UTI veterinária para atender os animais resgatados que chegam ao Gasômetro e que precisam de cuidados médicos.
A UTI foi estruturada no subsolo do shopping, que cedeu uma área do seu estacionamento para viabilizar a ação. No momento, são necessários voluntários e doações de equipamentos de atendimento veterinário, como: caixa cirúrgica, oxímetro, balança, suporte para soro, armários para medicamentos, medidor de glicose, monitores cardíacos, mesa de apoio para centro cirúrgico, medidor de pressão arterial, entre outros.
Quem puder ajudar, pode acessar o perfil @sos.pontalshopping no Instagram, onde é possível acompanhar as informações do espaço mantido pelos voluntários.
Dados da operação
- 400 policiais federais mobilizados
- 80 agentes em grupos táticos
- 9 Estados mandaram reforços
- 24 embarcações de resgate
- 9 motos aquáticas
- 3.131 pessoas resgatadas
- 124 quilos de skunk apreendidos
- 44 ocorrências atendidas