A vendedora de joias que passou por um assalto no bairro Chácara das Pedras, em Porto Alegre, define o episódio como "assustador e muito traumático". A mulher e o filho de sete anos estavam dentro do carro da família quando foram abordados por dois criminosos, que levaram celulares, veículo e dinheiro da conta bancária, por meio de transferências. O prejuízo ultrapassa a quantia de R$ 100 mil. O caso ocorreu em janeiro, mas ganhou destaque porque os assaltantes, que são irmãos, foram presos na quarta-feira (27).
Sob anonimato, a vítima do assalto conversou com a reportagem. Contou que, por volta das 15h do dia 24 de janeiro, uma quarta-feira, estacionou o carro em uma rua do bairro Chácara das Pedras, zona norte da Capital. Ela desceu do veículo e se dirigia ao banco traseiro, para pegar o filho de sete anos, quando foi abordada por um criminoso armado. O homem a fez entrar no veículo de novo, e sentaram os três na parte de trás. Em seguida, um segundo assaltante embarcou no banco do motorista e passou a conduzir o carro, um Hyundai Creta.
A vítima diz que estava indo visitar uma amiga e que levava consigo o material de trabalho para mostrar a ela.
— Me abordou dizendo para eu não gritar que ia tomar tiro. Eles queriam dinheiro, o tempo todo falavam de fazer Pix. Sempre me ameaçando com a arma, falava que ia nos matar. Foi uma situação muito difícil, ainda mais por estar com meu filho junto.
A vendedora conta que, ao entrar no veículo novamente, tentou esconder na roupa o mostruário de joias. Contando somente o valor das peças, o prejuízo é avaliado em cerca de R$ 100 mil.
— Ele achou que era uma arma. Apertou meus braços, me deu uma coronhada. Aí puxou e viu as peças. Eu disse que era meu mostruário de trabalho, que faço revendas, mas não adiantou, também foi levado. Foi uma infeliz coincidência eu estar com ele, porque não costumo levar. É que iria mostrá-lo naquele dia.
Pix no nome do criminoso
A vítima conta que a chave Pix informada pelo assaltante não estaria funcionando. O homem então teria pedido outra chave por meio de uma conversa no WhatsApp.
— Ele estava conversando com alguém por mensagem e passaram outro Pix, um CPF. Depois a polícia descobriu que era do comparsa, do homem que estava dirigindo o carro. Me fizeram abrir todos os aplicativos de banco, queriam todo o dinheiro que pudessem levar.
A vítima conta que teve de transferir R$ 1 mil durante a ação. Ela ainda teve os dois celulares levados. Os assaltantes exigiram a senha dos aplicativos de banco e realizaram outra transferência posteriormente, de R$ 2,8 mil. Depois, ainda contratam um empréstimo de R$ 12 mil pelo aplicativo.
A vendedora afirma que, exceto pelos R$ 1 mil transferidos durante o roubo, as demais transferências foram ressarcidas pelo banco. O empréstimo foi cancelado.
Segundo a Polícia Civil, um dos fatores que ajudou a chegar a autoria do crime foi justamente o fato de o Pix do próprio assaltante ter sido usado. Por causa desse "erro", a operação realizada para prender os dois recebeu o nome de Mestres do Crime. Essa ação ocorreu na quarta-feira (27).
— Esse fato evidenciou a participação dele no roubo, algo bem incomum. Nós tínhamos também a informação de que os dois eram bem parecidos, e depois descobrimos que são irmãos — pontua o delegado Eibert Moreira Neto, diretor da Divisão de Investigação do Deic.
Conforme o delegado, os dois homens "fazem parte de uma família já conhecida das forças de segurança pública" e têm envolvimento "em uma série de crimes na Capital, entre eles, tráfico de drogas, homicídios, roubo de veículos e roubos a residência".
No meio da rua
As vítimas ficaram ao menos meia hora em poder dos criminosos, circulando no veículo. Ao fim do assalto, a mulher e a criança foram deixadas em uma rua do bairro Vila Nova, na Zona Sul, e os assaltantes fugiram com o carro, que foi localizado dois dias depois do fato.
— Nos largaram no alto de um morro, numa rua. Eu e meu filho ficamos fazendo sinal para os carros que passavam ali, pedindo ajuda. Até que um motorista de aplicativo parou e nos levou até um posto de gasolina, onde acionamos a polícia.
Prejuízo emocional
Além do prejuízo financeiro, a mulher conta que tanto ela quanto o filho lidam com o impacto emocional de ter passado pela situação. Mesmo cerca de dois meses após o fato, os dois seguem com acompanhamento psicológico.
— A gente vai vivendo um dia de cada vez, tentando retomar a rotina. Sigo cuidando de mim e do meu filho. Mas é algo muito traumático, assustador. A gente fica muito assustada, com medo das pessoas na rua, em um estado de alerta. Ainda a gente precisa agradecer por estar bem, por que qualquer outro cenário que tivesse ocorrido seria enlouquecedor.
Denuncie
Denúncias e informações sobre crimes podem ser encaminhadas, de forma anônima, ao Deic por meio do Disque-Denúncia, no telefone 0800-510-2828.