Dois presos da penitenciária federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, conseguiram escapar do cárcere na madrugada da última quarta-feira (14) e se tornaram os primeiros detentos da história a fugir de uma prisão de segurança máxima do sistema prisional federal. Tanto Ministério da Justiça e Segurança Pública quanto governos estaduais reforçaram suas redes de segurança para conseguir encontrar os fugitivos.
Deibson Cabral Nascimento e Rogerio da Silva Mendonça, suspeitos de terem ligações com a facção criminosa Comando Vermelho (CV), no Acre, ainda estavam foragidos até a tarde desta quinta-feira (15). Uma série de dúvidas sobre como a dupla teve êxito na fuga ainda ronda o caso.
O que se sabe até agora:
Como os dois presos conseguiram escapar?
Ainda não há informações oficialmente divulgadas de como Deibson Cabral Nascimento e Rogerio da Silva Mendonça conseguiram escapar da penitenciária de segurança máxima de Mossoró.
De acordo com o ministro Ricardo Lewandoswski, os dois presos utilizaram ferramentas encontradas dentro do presídio para escapar.
— Eles usaram um alicate que certamente estava jogado no canteiro de obras, quando deveria estar trancado, como ocorre em outras reformas de presídios— explicou.
A penitenciária federal está passando por uma reforma, e a Secretaria Nacional de Políticas Penais do Ministério da Justiça (Senappen) suspeita que essas obras possam ter facilitado a fuga dos dois detentos.
Quais ações o governo federal já tomou?
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandoswski, que não completou ainda um mês à frente da pasta, enfrenta a sua primeira crise no novo cargo. Sobre a fuga da dupla de detentos, o ministro determinou o afastamento da direção da Penitenciária Federal de Mossoró e nomeou um interventor para o posto — o ex-diretor da Penitenciária Federal de Catanduvas (PR) Carlos Luis Vieira Pires. A pasta pediu também pela revisão dos protocolos de segurança de todo sistema prisional federal.
O governo acionou a Polícia Federal e pediu ao órgão a inserção dos nomes de Deibson Cabral Nascimento e Rogerio da Silva Mendonça no Sistema de Difusão Laranja da Interpol e no Sistema de Proteção de Fronteiras para que os foragidos sejam procurados pela polícia internacional. De acordo com o governo federal, mais de cem agentes estão envolvidos nas buscas pelos foragidos.
Nesta quinta-feira, o ministério aumentou o nível de segurança das penitenciárias federais. A medida proíbe banhos de sol e visitas de familiares e advogados até sexta-feira (16). De acordo com a portaria do MJSP, também estão suspensas atividades educacionais, religiosas e laborais. A única exceção da portaria é para os atendimentos emergenciais de saúde realizados nas unidades.
A medida também determina limitação de acesso a áreas comuns. A norma justifica que as medidas foram tomadas diante da necessidade de esclarecer as circunstâncias da fuga que ocorreu em Mossoró.
Como está sendo feito o trabalho de buscas?
Uma equipe de cem agentes da Polícia Federal, cem da Polícia Rodoviária Federal e cem agentes das forças policiais locais atuam na busca. Também estão sendo utilizados três helicópteros (um da Polícia Federal, um da Polícia Rodoviária Federal e um do governo do Rio Grande do Norte) e drones para auxiliar na procura pelos fugitivos.
Segundo o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, as autoridades acreditam que os fugitivos estão em um perímetro de 15 quilômetros de distância do presídio, onde fica uma zona rural.
Além disso, uma casa rural foi invadida nas proximidades, onde houve furto de roupas e de comida.
Também foram acionadas a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal e a Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO), entidade que congrega as policiais federais e estaduais que combatem o crime organizado
Os dois fugitivos foram incluídos no Sistema de Difusão Vermelha da Interpol e no sistema de proteção de fronteiras.
Investigação
Para apurar as causas da fuga estão sendo realizadas dois tipos de investigação: uma de caráter administrativo, para apurar responsabilidades disciplinares e um inquérito policial que foi aberto no âmbito na Polícia Federal, para apurar eventual responsabilidade de natureza criminal e a participação de pessoas que possam ter facilitado a fuga dos dois detentos.
Quem são os fugitivos?
Os dois homens que fugiram foram identificados como Deibson Cabral Nascimento e Rogerio da Silva Mendonça. Ambos possuem ligação com a facção criminosa Comando Vermelho (CV), de acordo com informações preliminares. O grupo domina as operações criminosas no Acre, onde a dupla estava presa até setembro do ano passado.
Rogério enfrenta mais de 50 processos, incluindo acusações de homicídio e roubo. Sua sentença totaliza 74 anos de prisão, considerando a soma das penas.
Deibson é associado a mais de 30 processos, enfrentando acusações de organização criminosa, tráfico de drogas e roubo. Sua sentença totaliza 81 anos de prisão em condenações.
Escondidos em casa próximo ao presídio
Uma casa no meio da mata na zona rural de Baraúna foi usada como esconderijo pelos fugitivos da Penitenciária Federal de Mossoró por pelo menos uma semana. Os investigadores acreditam que eles ficaram no local de sábado (17) até sexta-feira (23).
Na propriedade foram encontradas embalagens de comida, lona e até um facão. O local fica a 30 quilômetros da Penitenciária Federal de Mossoró, já próximo à divisa do Rio Grande do Norte com o Ceará.
A Polícia Federal anunciou uma recompensa de até R$ 30 mil para quem tiver informações que levem à recaptura dos dois fugitivos.
Irmão de fugitivo foi preso no Acre
O irmão de um dos foragidos foi preso em Rio Branco, no Acre, na sexta-feira (23). Johnney Weyd Nascimento da Silva, de 40 anos, é irmão de Deibson Cabral do Nascimento.
Johnney é condenado por roubo e participação em facção criminosa e tinha um mandado de prisão em aberto. De acordo com a Polícia Federal, a prisão é um desdobramento das investigações sobre a fuga do Presídio Federal de Mossoró.