A poucos metros da porta do Fórum de Canoas, na manhã desta sexta-feira (15), Helena Gargioni caminha para mais um capítulo na busca por Justiça para o filho, José Gustavo Bertuol Gargioni. Em julho de 2015, quando tinha 22 anos, o jovem fotógrafo foi assassinado, após, segundo investigação policial, ter sido atraído para uma emboscada, em um crime que teria sido motivado por ciúme. Oito anos depois, Helena assiste ao júri de Paula Caroline Ferreira Rodrigues, 29 anos, acusada de ter chamado Gargioni para sair e o levado até o local do homicídio.
Rodeada de familiares e amigas, Helena se emociona ao lembrar do filho, "oito anos e cinco meses" após a morte. O jovem trabalhava como fotógrafo ao lado do irmão gêmeo, Guilherme. Apaixonado pela profissão, atuava em eventos, como casamentos e aniversários, e chegou a integrar, por mais de dois anos, a equipe de Comunicação Social do Palácio Piratini, onde ficou até o fim do mandato do ex-governador Tarso Genro.
Os planos para o futuro envolviam se especializar em fotografia de formaturas e casamentos e montar uma sociedade com o irmão, empreendendo no ramo de eventos.
— Era um menino novo, mas com bastante trabalho, muito focado. Meu filho era do bem, não conhecia esse lado obscuro do crime, da sociedade. Nem nós da familia tínhamos noção, na verdade. Mas penso que essa foi a missão dele, alertar as famílias de que, por trás das redes sociais, tem muita gente má. Ele e o irmão trabalhavam felizes, amavam o que faziam, tanto que o Guilherme continua atuando, só ele sabe com que força — diz a mãe, mencionando que o contato de Paula com a vítima, na época do crime, foi feito pelo Facebook.
Segundo Helena, os gêmeos se interessaram juntos por fotografia. Gargioni começou a cursar Comunicação Social na Unisinos, mas suspendeu a graduação para focar no trabalho como fotógrafo.
— Quando trabalhou no governo, andou até de helicóptero. Era um menino de confiança — orgulha-se a mãe.
Ela conta também que costumava aprontar as roupas dos dois antes dos eventos em que atuavam:
— Somos de uma família simples, mas de muito amor. Os dois sempre foram muito bem cuidados, educados. Eu cuidava muito das roupas deles, para trabalharem sempre impecáveis.
Gargioni deixou também outras duas irmãs e o pai. Natural de Maceió (AL), ele chegou ao Rio Grande do Sul ainda bebê, com um ano de idade. A família chegou a residir no Vale do Sinos e atualmente mora em Canoas. Nesta sexta, familiares vestiam camisetas brancas com uma foto e o nome do jovem, pedindo por Justiça.
Emboscada e morte
Conforme a investigação policial, o crime ocorreu entre a noite de 27 de julho de 2015 e a manhã seguinte. Gargioni foi "brutalmente espancado em um crime de ódio", segundo a Polícia Civil. O corpo dele foi encontrado em área de vegetação no bairro Mato Grande e de acesso à Praia do Paquetá, em Canoas.
A apuração do caso indicou que Gargioni mantinha relacionamento com a ré Paula, então com 21 anos, que também se relacionava com um homem casado, Juliano Biron da Silva, 32, apontado como líder de facção atuante no Vale do Sinos.
No inquérito, a polícia concluiu que a vítima foi atraída para uma emboscada por Paula. Na época, as equipes analisaram diálogos em rede social, entre a vítima e um perfil registrado no nome da acusada, em que Gargioni foi chamado para encontro em um posto de combustíveis localizado à margem da BR-116.
Ao chegar no local, ele teria sido surpreendido pela presença de Biron, que estava armado e escondido no banco de trás do automóvel usado por Paula na ocasião. O casal teria conduzido Gargioni até o local ermo onde ele teria sido torturado e morto, por ciúme.
Biron foi condenado a 20 anos e oito meses de prisão em julgamento realizado em fevereiro de 2020. Paula deveria ter sido julgada naquela mesma data. No entanto, a mulher, que respondia em liberdade, não compareceu ao julgamento. A defesa dela alegou problemas de saúde da ré e afirmou que orientou a cliente a não ir à sessão. Com isso, o processo do júri precisou ser dividido, para que Biron fosse julgado.
Último contato
Conforme Helena, no dia do crime, Gargioni saiu de casa, depois de trabalhar, dizendo que ia para a academia. Antes de sair, falou com a mãe e com o irmão.
— Naquela noite, ele estava no quarto, preparando o site da empresa dos dois. Quando terminou, ele me disse: "Mãe, vou na academia". Aí foi até o irmão e disse: "A minha parte eu já fiz, o resto é contigo". E foi assim mesmo, não voltou mais para casa. Foi nesse dia que ela (a ré) envolveu ele e escondeu um bandido no banco de trás, do carro. Acredito na condenação hoje (sexta). Foi ela que envolveu meu filho, ela sabia o monstro que tinha do lado (se referindo ao homem condenado pela morte). Meu filho não tinha noção de quem ela era.
A mãe afirma que o jovem nunca tinha mencionado um namoro ou envolvimento com a mulher em casa. O contato entre os dois seria recente, superficial, diz ela.
Júri
O júri de Paula Caroline Ferreira Rodrigues ocorre nesta sexta-feira (15). A sessão de julgamento começou às 9h30min, no Fórum de Canoas, e é presidida pela juíza Geovanna Rosa. A ré, que está presa desde outubro, responde pelos crimes de homicídio triplamente qualificado — por motivo torpe, meio cruel e recurso que dificultou a defesa da vítima — e ocultação de cadáver.