Após mais de 12 horas de julgamento, Juliano Biron da Silva, 37 anos, foi condenado a 20 anos e oito meses de prisão pelo assassinato de José Gustavo Bertuol Gargioni, 22 anos, em Canoas, na Região Metropolitana. O jovem fotógrafo foi torturado e morto a tiros em julho de 2015, na Praia de Paquetá. O júri, que iniciou às 9h desta terça-feira (4), se encerrou por volta das 22h30min com a sentença.
O homicídio teve três qualificadoras: por meio cruel, por motivo torpe e por recurso que dificultou a defesa da vítima. Biron foi condenado também por ocultação de cadáver. A sentença define que o regime inicial de cumprimento da pena é o fechado e ele permanecerá preso.
A defesa do réu afirmou que irá recorrer da decisão "até a última instância, para reparar a injustiça" e que ficou surpresa com a condenação, porque esperava pela absolvição.
Além de Biron, também deveria ter sido julgada pelo crime a ré Paula Caroline Ferreira Rodrigues. No entanto, a jovem, que responde em liberdade, não compareceu ao julgamento. O advogado Rodrigo Schmitt da Silva alegou problema de saúde da ré e disse que orientou a cliente a não ir. Com isso, o júri precisou ser dividido, para que Biron pudesse ser julgado. A nova sessão para julgar Paula foi definida no julgamento desta terça, e está marcada para o dia 15 de abril.
Para o Ministério Público, Biron cometeu o crime por ciúmes de Paula, com quem mantinha relacionamento extraconjugal. A jovem também se relacionava com Gustavo. Ela marcou por uma rede social um encontro com o rapaz na data do crime. Para a acusação, Biron estava armado dentro do carro da mulher, no banco traseiro, aguardando para surpreender o fotógrafo. Os dois, segundo a acusação, levaram o rapaz até o local onde ele foi executado com 19 tiros.
Em seu depoimento, Biron alegou que quem cometeu o crime foi Paula, como "prova de amor". Ele foi ouvido por cerca de 40 minutos, no início da tarde, após o depoimento de uma testemunha de acusação e outra de defesa. Questionado pela juíza Geovanna Rosa, negou envolvimento no caso e alegou que, na época do fato, havia rompido a relação que mantinha há seis anos com Paula. Disse que ela insistia para que ele terminasse o relacionamento com a esposa.
— Sou inocente. Não tenho nada a ver com isso. Isso devastou minha vida — respondeu.
Biron narrou à juíza que, na madrugada do assassinato, estava no apartamento de Paula Caroline. Ele disse que a jovem chegou ao local nervosa, chorando, e confessou o crime a ele. O réu afirmou que na mesma madrugada seguiu com Paula até Santa Catarina, onde deixou a jovem na casa de um familiar. A promotora Denise Girardi de Castro questionou sobre o que Paula havia relatado a respeito do assassinato:
— Os detalhes ela não me falou — respondeu o réu.
Durante os debates, a promotora sustentou que Biron era possessivo com Paula. Inclusive, não permitiria que ela mantivesse perfis em redes sociais e impedia que ela falasse com a família. Denise ainda citou depoimento de um familiar da ré sobre um episódio no qual Biron teria trancado a namorada em um quarto e ameaçado cortar seu cabelo, por suspeitar que ela o estivesse traindo.
— Esse relacionamento era sim conturbado. Ele era controlador — disse.
Já o advogado Rodrigo Grecellé Vares, responsável pela defesa de Biron, defendeu que se fizesse um julgamento técnico, baseado em provas. Ele contestou os relatos de testemunhas e o reconhecimento fotográfico, segundo, ele baseado em imagem antiga.
— As provas vão se esvaziando e não sobre nada para acusarem o réu — afirmou.
Presa em janeiro de 2016 pelo crime, Paula responde ao processo em liberdade desde outubro de 2018. Biron, que também foi preso no mesmo período, chegou a ser transferido para uma penitenciária federal junto de líderes de facções do RS em julho de 2017. Considerado um dos chefes da organização criminosa com berço no Vale do Sinos, ele permaneceu isolado por dois anos. Mas retornou ao Estado no ano passado e atualmente está detido na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc).
Amigos e família
Desde o início da manhã, amigos e ex-colegas de Gustavo estiveram no Fórum para acompanhar a sessão. A família, até então, havia optado por não comparecer ao julgamento, para evitar mais sofrimento.
— Deixamos nas mãos de Deus. Meu filho amado não volta mais — explicou a mãe, Helena Gargioni.
Mas o gêmeo de Guga, como o rapaz era chamado pela família, acabou mudando de ideia. Também fotógrafo, Guilherme chegou ao Fórum no início da tarde e permaneceu ali por algumas horas rodeado de amigos. Os irmãos, que quando recém-nascidos só cessavam o choro ao serem colocados no mesmo berço, na época do crime faziam planos de empreenderem juntos. Hoje, o rapaz carrega no braço uma tatuagem com o rosto de Gustavo. É a forma de tentar manter o irmão por perto.
Na noite desta terça, ainda antes do julgamento ser encerrado, a família divulgou uma nota em que afirma que o resultado "não fará diferença".
"Ele nunca mais voltará. Estaremos sempre com esta dor imensa e com as saudades eternas".