Juliano Biron da Silva, 37 anos, começou a ser ouvido às 14h39min no Fórum de Canoas, na Região Metropolitana. Ele está sendo julgado pelo assassinato de José Gustavo Bertuol Gargioni, 22 anos. O fotógrafo foi torturado e morto a tiros na Praia de Paquetá em julho de 2015. O réu responde pelo crime junto de Paula Caroline Ferreira Rodrigues. Mas ela não compareceu à sessão e o júri foi desmembrado. Em depoimento, ele negou participação no crime e afirmou que foi a jovem que praticou o homicídio.
Questionado pela juíza Geovanna Rosa sobre o que tinha a afirmar sobre o crime, o preso negou que tenha envolvimento no caso e alegou que, na época do fato, havia rompido a relação extraconjugal que mantinha com Paula Caroline. Disse ainda que a jovem teria confessado a ele ser a autora do homicídio. Ela teria, na versão dele, cometido o assassinato como prova de amor.
— Sou inocente. Não tenho nada a ver com isso. Isso devastou minha vida. A minha vida virou um inferno — respondeu.
Logo depois, Biron narrou à juíza que no dia do assassinato estava no apartamento de Paula Caroline. Ele disse que a jovem chegou ao local nervosa e chorando. Ele relatou que ela teria confessado o crime a ele.
— (Ela disse) Que tinha feito um erro na vida dela. Para provar o amor por mim. Tinha feito prova de amor para me convencer — afirmou.
Biron disse que a jovem insistia para que ele terminasse o relacionamento dele com a esposa. A juíza questionou se Biron sabia da relação de Paula Caroline com a vítima e ele negou. A magistrada indagou logo depois porque então a jovem cometeria o crime como prova de amor, se ele não sabia da existência da relação.
— Ela tava apaixonada — respondeu.
O réu afirmou que na mesma madrugada seguiu com Paula Caroline até Santa Catarina, onde deixou a jovem na casa de um familiar. Segundo o preso, eles fizeram a viagem no Kia Soul da jovem. Ele teria deixado o carro dele no estacionamento do condomínio onde ela morava.
— Ela me convenceu para levar ela para Santa Catarina, nessa mesma noite — alegou.
A promotora Denise Sassen Girardi de Castro questionou o réu sobre o que Paula Caroline havia relatado sobre o assassinato, já que ele alega que não participou da morte:
— Os detalhes ela não me falou.
A representante do Ministério Público (MP) insistiu nesse ponto:
— O que ela falou?
— (Falou que) Fez uma prova de amor. Para provar o amor por mim. Ela tava transtornada no dia. Ela só chorava, não falava. Acha que eu ia ficar tocando num assunto desses? Não tem porque ficar tocando nisso toda hora — disse.
Após falar por cerca de 40 minutos, o depoimento se encerrou às 15h17min. Atualmente, Biron está detido na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc).
A ré Paula Caroline não compareceu ao júri. O advogado Rodrigo Schmitt da Silva alegou que ele está com problema de saúde e orientou a cliente a não ir. Paula responde em liberdade desde 2018. Outra data será designada para o julgamento da acusada.
Acusação sustenta que réu era possessivo
Às 15h28min, a promotora Denise iniciou as argumentações, na qual sustentou que o relacionamento entre Biron e Paula Caroline era possessivo. Sobre o crime, a representante do MP lembrou que Gustavo chegou a conversar com o irmão gêmeo por telefone e relatou que iria se encontrar com Paula Caroline naquela madrugada em um posto de combustíveis próximo da academia que frequentava. O fotógrafo mantinha um relacionamento esporádico com a jovem, que dizia ser casada. A ligação aconteceu às 23h53min. Por volta da 1h, o irmão tentou contato outra vez e o jovem já não atendeu mais.
A promotora leu conversas trocadas em rede social entre Paula Caroline e a vítima. Para falar com o jovem, a ré usou a conta de um familiar. “Eu amo tu, tô louca de saudades”, escreveu no início da mensagem. Na sequência, a promotora citou depoimentos de familiares, para sustentar que, ao contrário do que afirmou Biron, ele e Paula Caroline mantinham um relacionamento. Ele afirmou aos jurados que a relação não era séria porque ele era casado. A promotora argumentou que o réu, inclusive, mantinha um apartamento alugado para a jovem em condomínio de alto padrão.
— Ela é descrita (em depoimentos) como namorada dele, embora ele fosse casado. Eles mantinham essa relação por cerca de seis anos — afirmou.
A promotora sustentou também que Biron mantinha um relacionamento possessivo com Paula Caroline, conforme depoimentos ouvidos na investigação. Inclusive, não permitiria que ela mantivesse perfis em redes sociais e impedia que ela falasse com a família. Denise ainda citou depoimento de um familiar da ré sobre um episódio no qual Biron teria trancado a namorada em um quarto e ameaçado cortar seu cabelo, por suspeitar que ela o estivesse traindo.
— Esse relacionamento era sim conturbado. Ele era controlador. Imagina uma pessoa ciumenta, possessiva. Absolutamente possessiva. Tem acesso a um diálogo como o que lemos ali (mensagens trocadas entre Gustavo e Paula Caroline). Imagina o que essa pessoa vai fazer? Ele agora quer dizer que a Paula fez tudo sozinha e que fez isso porque amava o Biron. E que ele só levou ela para Santa Catarina. Os senhores têm de avaliar se isso é razoável ou não — disse.