Um dia após desaparecer em Canoas, na Região Metropolitana, José Gustavo Bertuol Gargioni, 22 anos, foi encontrado morto na Praia de Paquetá. O assassinato do fotógrafo há oito anos, em julho de 2015, causou repercussão na época. O jovem, que não tinha antecedentes criminais, foi torturado e executado a tiros. A investigação apontou que o crime teria sido motivado por ciúmes. Na última sexta-feira (20), a Polícia Civil prendeu uma mulher, acusada de ter atraído o rapaz para a morte.
Paula Caroline Ferreira Rodrigues, 29 anos, é ré no processo sobre a morte de Gargioni, o Guga, como era conhecido. Além dela, também foi acusado do crime o preso Juliano Biron da Silva, apontado como integrante de uma facção criminosa. Segundo a acusação, Paula e Biron mantinham relacionamento extraconjugal (ele era casado), e a mulher também teria passado a se relacionar com o jovem. Em razão disso, o casal teria decidido assassinar o fotógrafo. Segundo a acusação, Paula atraiu o rapaz para um encontro, para que ele fosse morto.
Biron foi sentenciado por esse crime a 20 anos e oito meses de prisão, em julgamento realizado em fevereiro de 2020. Paula deveria ter sido julgada naquela mesma data. No entanto, a mulher, que respondia em liberdade, não compareceu ao julgamento. A defesa dela alegou problemas de saúde da ré e afirmou que orientou a cliente a não ir à sessão. Com isso, o processo do júri precisou ser dividido, para que Biron pudesse ser julgado. O julgamento de Paula ainda não tem data prevista.
Em setembro, a Justiça determinou que a mulher fosse presa preventivamente. Na última sexta-feira (20), Paula foi detida no momento em que realizaria uma consulta numa clínica na Avenida Osvaldo Aranha, no bairro Bom Fim, em Porto Alegre. A prisão foi divulgada nesta segunda-feira (23) pela Delegacia de Capturas do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).
— Segundo a decisão do juiz, ela vem apresentado atestados e tentando postergar de diversas formas o julgamento dela, alegando problemas de saúde. Por conta disso, a Justiça expediu mandado de prisão em setembro, e assim que tivemos a informação do mandado começamos a trabalhar para capturar ela, e conseguimos prender na sexta-feira aqui em Porto Alegre mesmo — detalhou o delegado Gabriel Casanova, titular da Delegacia de Capturas.
O crime
Segundo a acusação, Paula marcou por uma rede social um encontro com Gargioni na data do crime. Biron, conforme a denúncia do Ministério Público, estava armado dentro do carro da mulher, no banco traseiro, aguardando para surpreender o fotógrafo. Os dois teriam então levado o rapaz até a Praia de Paquetá, onde ele foi executado com 19 tiros.
Quando foi ouvido durante o julgamento em 2020 que resultou em sua condenação, Biron negou ter cometido o crime. Ele alegou que foi Paula quem executou a vítima "como prova de amor". Durante o interrogatório, o preso negou envolvimento no caso e alegou que, na época do fato, havia rompido a relação que mantinha há seis anos com Paula. Disse que ela insistia para que ele terminasse o relacionamento com a esposa.
— Sou inocente. Não tenho nada a ver com isso. Isso devastou minha vida — afirmou.
Biron narrou que, na madrugada do assassinato, estava no apartamento de Paula. Ele disse que a jovem chegou ao local nervosa, chorando, e confessou o crime a ele. O réu afirmou que na mesma madrugada seguiu com Paula até Santa Catarina, onde deixou a jovem na casa de um familiar. Em janeiro de 2016, Paula foi presa pelo crime, mas passou a responder ao processo em liberdade em outubro de 2018.
Biron, que também foi preso no mesmo período, chegou a ser transferido para uma penitenciária federal junto de líderes de facções do RS em julho de 2017. Considerado um dos chefes da organização criminosa com berço no Vale do Sinos, ele permaneceu isolado por dois anos, mas retornou ao Estado e passou a ser mantido na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc).
Defesa diz querer júri
Uma das responsáveis pela defesa de Paula, a advogada Sofia Santos de Freitas afirma que pretende solicitar ao Judiciário que seja agendado o julgamento da cliente.
— Nenhuma vez a Paula se omitiu de participar do Tribunal do Júri. Vamos mostrar o que aconteceu. A Paula, enquanto estava em liberdade, nenhuma vez deixou de comparecer, ou tentou obstruir a Justiça. Esse é um caso bastante midiático, o que influencia muito o Tribunal do Júri. Uma vez que já há um outro réu condenado, a Paula já entra com tendência de ser condenada. O intuito da defesa é resguardar o caso — disse a advogada, que só pretende se manifestar sobre o processo durante o julgamento.
Além da criminalista, integram ainda a defesa da ré os advogados Jean Severo, Robertha Machado Berté e Rodrigo Schmitt da Silva. O último, que representou Paula durante o julgamento de Biron em 2020, afirma que a cliente está grávida e que ainda tem problemas de saúde.
— Ela jamais atrasou o processo, não arrolou testemunhas e nem quis recorrer da decisão de ir a julgamento. Ficou anos se apresentando em cartório mensalmente, desde quando foi solta. A defesa gostaria que ela pudesse ser julgada após o nascimento da filha dela pelos problemas de saúde, evitando o estresse do julgamento neste momento tão delicado — afirmou.
A vítima
Conhecido pelos ex-colegas de trabalho como um jovem alegre, disposto e de bem com a vida, o fotógrafo José Gustavo Bertuol Gargioni sonhava se tornar sócio do irmão gêmeo idêntico. Queria ser empreendedor no mercado de eventos, mas teve os planos interrompidos pelo assassinato.
O jovem trabalhou por cerca de dois anos na equipe de Comunicação Social do Palácio Piratini, e queria se especializar em fotografia de eventos. Gustavo também fotografava festas e procurava aprender marketing para dar a mudança que sonhava na carreira. Naturais de Maceió, no Alagoas, os irmãos se mudaram com a família para o Rio Grande do Sul com um ano de idade.