Oito anos após o assassinato de José Gustavo Bertuol Gargioni, então com 22 anos, a mulher acusada de ter atraído o fotógrafo para uma emboscada irá a julgamento. A Justiça agendou o júri de Paula Caroline Ferreira Rodrigues, 29, para o dia 15 de dezembro, às 9h30min. Em julho de 2015, o rapaz foi torturado e morto a tiros na Praia do Paquetá, em Canoas. O crime, segundo a acusação, teria sido motivado por ciúme.
Paula Caroline foi presa no último dia 20 de outubro no momento em que realizaria uma consulta em uma clínica na Avenida Osvaldo Aranha, no bairro Bom Fim, em Porto Alegre. A prisão foi realizada pela Delegacia de Capturas do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic). A Justiça havia decretado a prisão preventiva da mulher em setembro deste ano.
Após a prisão, a defesa de Paula tentou obter a liberdade da ré ou o direito à prisão domiciliar, já que ela está grávida. O Ministério Público se manifestou contra o pedido de liberdade. A juíza Geovanna Rosa decidiu na última sexta-feira (27) por negar o pedido de revogação da prisão preventiva ou mesmo a prisão domiciliar humanitária.
Na decisão, a magistrada considerou que "a conduta da ré permite cogitar que pretende se furtar à aplicação da lei penal". A acusação entende que Paula Caroline vinha tentando evitar o julgamento, já que não compareceu à primeira sessão em fevereiro de 2020, no qual outro réu foi condenado (leia mais abaixo) — a defesa dela nega que ela esteja evitando o júri.
Para manter a prisão, a juíza levou em conta o fato de que, embora sofra de hipertensão arterial crônica, a ré encontra-se com a pressão dentro da normalidade, com uso de medicação, com a gestação em evolução normal até o momento. "Até a presente data, não foi demonstrado que eventuais intercorrências na gestação não possam ser atendidas pelo estabelecimento prisional, que possui enfermaria, bem como, havendo necessidade, atendimento médico", decidiu a magistrada.
Defesa alega inocência
Um dos advogados responsáveis pela defesa de Paula, o criminalista Jean Severo afirma que a banca buscará comprovar a inocência da cliente.
— A Paula é a principal interessada que esse julgamento saia. Hoje ela se encontra numa situação delicada, está grávida, uma gravidez de risco. A Paula em nenhum momento quis que acontecesse esse fato, e a tese defensiva vai ser exposta dia 15 de dezembro. Temos plena convicção de que a Comarca de Canoas, os jurados de Canoas vão absolver Paula, porque Paula é completamente inocente — afirma o advogado.
A ré é representada ainde pelos advogados Sofia Santos de Freitas, Robertha Machado Berté e Rodrigo Schmitt da Silva.
O crime
Além de Paula, também foi acusado do crime o preso Juliano Biron da Silva, apontado como integrante de uma facção criminosa. Segundo a acusação, Paula e Biron mantinham relacionamento extraconjugal (ele era casado), e ela também teria passado a se relacionar com o jovem. Em razão disso, Paula e Biron teria decidido assassinar o fotógrafo. Segundo a acusação, ela atraiu o rapaz para um encontro, para que ele fosse morto.
Biron, conforme a denúncia do Ministério Público, estava armado dentro do carro de Paula, no banco traseiro, aguardando para surpreender o fotógrafo. Os dois teriam então levado o rapaz até a Praia de Paquetá, onde ele foi executado com 19 tiros.
O homem foi sentenciado por esse crime a 20 anos e oito meses de prisão, em julgamento realizado em fevereiro de 2020. Paula deveria ter sido julgada naquela mesma data. No entanto, a mulher, que respondia em liberdade, não compareceu ao julgamento. A defesa dela alegou problemas de saúde da ré e afirmou que orientou a cliente a não ir à sessão. Com isso, o processo do júri precisou ser dividido, para que Biron pudesse ser julgado.
O primeiro júri
Quando foi ouvido durante o julgamento em 2020, Biron negou ter cometido o crime. Ele alegou que foi Paula quem executou a vítima "como prova de amor". Durante o interrogatório, o preso negou envolvimento no caso e alegou que, na época do fato, havia rompido a relação que mantinha havia seis anos com Paula. Disse que ela insistia para que ele terminasse o relacionamento com a esposa.
— Sou inocente. Não tenho nada a ver com isso. Isso devastou minha vida — afirmou.
Biron narrou que, na madrugada do assassinato, estava no apartamento de Paula. Ele disse que a jovem chegou ao local nervosa, chorando, e confessou o crime a ele. O réu afirmou que na mesma madrugada seguiu com Paula até Santa Catarina, onde deixou a jovem na casa de um familiar.
Em janeiro de 2016, Paula foi presa pelo crime, mas passou a responder ao processo em liberdade em outubro de 2018. Biron, que também foi preso no mesmo período, chegou a ser transferido para uma penitenciária federal junto de líderes de facções do RS em julho de 2017. Considerado um dos chefes da organização criminosa com berço no Vale do Sinos, ele permaneceu isolado por dois anos, mas retornou ao Estado e passou a ser mantido na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc).
A vítima
Conhecido pelos ex-colegas de trabalho como um jovem alegre, disposto e de bem com a vida, o fotógrafo José Gustavo Bertuol Gargioni sonhava se tornar sócio do irmão gêmeo idêntico. Queria ser empreendedor no mercado de eventos, mas teve os planos interrompidos pelo assassinato.
O jovem trabalhou por cerca de dois anos na equipe de Comunicação Social do Palácio Piratini, e queria se especializar em fotografia de eventos. Gustavo também fotografava festas e procurava aprender marketing para dar a mudança que sonhava na carreira. Naturais de Maceió, no Alagoas, os irmãos se mudaram com a família para o Rio Grande do Sul com um ano de idade.