O menino de oito anos, que presenciou o assassinato da família no bairro Lami, em Porto Alegre, "amadureceu" cedo demais, mas está "progredindo". Aos 12 anos, ele mora com os avós paternos fora do Estado. O garoto ainda tem pesadelos que remontam o dia do crime, segundo familiares, e faz acompanhando psicológico ao menos uma vez por semana. Conforme os avós, em um "avanço", conseguiu participar de um almoço em família, no Dia das Mães deste ano.
O caso aconteceu em 26 de janeiro de 2020, quando Rafael Zanetti Silva, a esposa Fabiana da Silveira Innocente Silva, e o primogênito do casal, Gabriel, foram mortos a tiros. Eles tinham 45, 44 e 20 anos, respectivamente, à época.
Quase quatro anos depois, os réus, mãe e filho, foram condenados nesta terça-feira (12). Dionatha Bitencourt Vidaletti foi sentenciado pelo assassinato das três pessoas a 35 anos e quatro meses de reclusão pelos três homicídios e pelo porte de arma. Neuza Regina Bitencourt Vidaletti, mãe dele, recebeu pena de dois anos de reclusão pelo disparo de arma de fogo — para o alto —, que foi substituída por prestação de serviços à comunidade e prestação pecuniária.
Na noite desta terça-feira (12), familiares do menino, pelo lado paterno, conversaram com GZH durante o júri dos réus pela morte das vítimas. Carlos Ernesto Silva e Maria de Lurdes Zanetti Silva vieram de São Paulo para acompanhar o rito.
Segundo o casal, o menino foi para São Paulo pouco depois das mortes. A pedido da criança, os três cães que viviam com ele e a família na Capital também foram levados. Atualmente, ele mora com os avós em um apartamento e convive também com uma tia, irmã de Rafael, e um primo, também com 12 anos. Os dois frequentam o mesmo colégio e são "muito próximos".
Rede de apoio
A rede de apoio do garoto é acompanhada de perto pelos avós. Duas vezes por semana, ele faz acompanhamento psicológico, e também vê uma psicopedagoga semanalmente. Por mês, faz ao menos uma consulta com um psiquiatra. Avós e tia também fazem acompanhamento.
— Digo que ele está progredindo porque está começando a falar sobre os acontecimentos. Fala dos pais, mas do irmão ainda não. Eram muito apegados, juntos. Ele vai à escola junto com o primo, com quem agora é também muito apegado, joga futebol. Passou para o sexto ano. Ele só é muito afoito, ficou com uma ansiedade, mas estamos tratando — conta Carlos.
O esforço tenta atenuar o que a criança vivenciou aos oito anos, resume Maria de Lurdes.
— Ele sofreu muito. Agora faz tratamento, na verdade todos nós fazemos. Está progredindo, entendendo mais as coisas. A dor que ele viu, a gente luta para amenizar.
O amadurecimento também é percebido pelo avô Carlos:
— Ele viaja com a gente, é participativo. O que mudou é que ele cresceu. Já não é mais um menino de 12 anos. Com o tempo, com tudo que aconteceu, ele cresceu muito mais, amadureceu muito.
Lembrança
A lembrança dos familiares perdidos naquele dia é frequente na casa, quase quatro anos após o fato. Segundo os avós, o menino passou por períodos com comportamento mais revolto e de dificuldade para fazer amizades, mas ultimamente está evoluindo.
— Ele não vai esquecer nunca, jamais. Ninguém esquece. Não há um dia em que não se fale disso. Não se consegue esquecer, é algo muito abrupto, é difícil mensurar. E ele teve crises, até hoje ainda grita às vezes, chora, se recolhe, fica triste. As datas de aniversário e festivas são um problema. A gente nunca mais comemorou Natal, coisas assim.
Maria de Lurdes menciona um avanço do garoto, no último Dia das Mães, em maio. A família decidiu almoçar em um restaurante, em uma comemoração mais tímida.
— Nós saímos para almoçar e em um momento ele veio, me abraçou e disse: "Feliz Dia das Mães". Me deu um livro de presente, foi minha filha quem preparou, foi uma surpresa.
Na Justiça, corre um processo de guarda, entre avós paternos e maternos — esses últimos residem na Fronteira.
No júri desta terça, o depoimento do menino foi dispensado a pedido da advogada da família paterna. Após a condenação dos réus, os avós Maria e Carlos entendem que uma parte da história foi encerrada.