Teve início na manhã desta terça-feira (12), no Foro Central, em Porto Alegre, o segundo dia do julgamento de Dionatha Bitencourt Vidaletti e sua mãe Neuza Regina Bintencourt, réus pela morte do casal Rafael Zanete da Silva, Fabiana da Silveira Innocente Silva e o filho deles, Gabriel Innocente Silva em uma briga de trânsito no Lami, extremo sul da Capital em 2020. A segunda sessão começou pela manifestação do Ministério Público, que tem buscado apontar a responsabilidade dos réus em meio à situação, segundo eles, "banal".
Dionatha Bitencourt Vidaletti responde por três homicídios triplamente qualificados (motivo fútil, perigo comum, recurso que dificultou a defesa das vítimas) e por porte de arma. Neuza é julgada por disparo de arma de fogo.
Às 8h26min, a juíza de direito Anna Alice Schuch, presidente do júri, deu início a sessão dirigindo a palavra ao Ministério Público, que falou por 2h30min. O promotor de justiça Júlio Melo iniciou sua fala lendo depoimentos colhidos durante o processo. Na sequência, passou a argumentar que Vidaletti atirou contra as três vítimas como uma escolha própria, sem que houvesse motivos suficientes para justificar o ato.
— O réu fez o que achou ser a solução para esse fato. Ele matou uma família — destacou.
O promotor exibiu ainda imagens de câmeras de segurança mostrando o momento da perseguição, dos disparos e da fuga da mãe e do filho após o crime.
— Isso mostra que tudo isso, a partir do momento que começam as discussões, não teve briga. Ninguém no processo disse que houve troca de socos, que estavam armadas — complementa Melo.
"Ele tinha o modo dele de resolver as coisas", diz promotor sobre Dionatha Vidaletti
A defesa de Dionatha e Neusa argumenta que o réu agiu em legítima defesa após ter sofrido agressões por parte da família e que por isso merece a absolvição.
Após a fala de Melo, sua colega Lúcia Helena Calegari assumiu a explanação. Ela destacou o fato de Dionatha ter diversas armas registradas, sendo uma delas comprada 16 dias antes do crime. Segundo ela, são seis armamentos guardados na casa do jovem. Sendo três registradas no nome do pai duas no nome da mãe e outra ilegal.
— A frieza que ele apresenta aqui é a mesma que ele apresentou naquele domingo — diz a promotora. — Por que ele acertou as três vítimas na cabeça? Pois sabia atirar. Nós estamos de diante de um psicopata, que foi motivado pela família a usar arma em casa.
A manhã foi encerrada com a fala da defesa dos réus, feita pelo advogado Cristiano da Rosa.
— Antes que tenhamos uma decisão, é necessário que saibamos o que as pessoas que serão punidas terão que passar: a ida para um sistema punitivo falido, arcaico — afirmou o advogado.
"Ela sabia que a arma não estaria segura nas mãos dele", diz promotor na réplica
Na tarde desta terça, por volta das 14h30min, quando a sessão foi retomada, a promotoria voltou a plenário para a réplica. A fala começou com o promotor Júlio Melo defendendo que Dionatha tinha intenção de usar a arma desde o momento em que passou a perseguir a família, depois que o veículo das vítimas colidiu contra o seu em um acidente de trânsito.
— Ele sai armado de casa, vai para a residência de sua avó. Quando colidem em seu carro, ele sai em perseguição sabendo que está armado. Ele quer o conflito, queria resolver e resvolveria do jeito dele. E ele só foi (atrás do carro) porque estava armado, porque armado ele fica poderoso. Faço essa indagação: se ele não estivesse com uma arma de fogo, ele iria? Porque ele não sabia quantas pessoas estavam dentro do carro, se eram adultos, se tinha criança. Ele tem afeição às armas, ficou evidente — discursou Melo.
O promotor acrescentou que o caso "poderia ter sido resolvido de várias outras formas", que o réu "podia ter agido de outra maneira, e sabe disso". E contestou a versão do réu, de que agiu em legítima defesa para proteger a mãe, que estaria sendo agredida durante discussão após a perseguição, quando todos desceram dos carros:
— Não houve embate físico, as provas mostram isso. Isso não aconteceu, nenhuma testemunha relata isso. E ainda que tivesse havido, ao meu ver, pouco alteraria a avaliçaão que temos sobre o fato. Porque brigas de socos, chutes, não se resolvem aqui neste salão. Aqui, tratamos de crimes contra a vida.
Ao longo de sua fala, o promotor destacou trechos de um dos depoimento de Neuza durante o processo. Afirmou que a localidade onde o crime ocorreu é a mesma onde Neuza se criou e vivia com a família. Ainda assim, "nenhuma testemunha quis depor" a favor dela:
— Se ela não tinha inimizades ali (como disse em depoimento), se tinha relação boa com aquelas pessoas, por que ninguém depôs dizendo que os fatos não aconteceram da forma que estamos mostrando? Eu respondo: porque aconteceram dessa forma.
O promotor também alega que a mãe do réu tinha conhecimento de que ele estava armado naquele dia, e por isso foi junto dele no carro atrás da família. Os réus negam, e afirmam que Dionatha pegou a arma, antes de sair de casa, escondido dos pais.
— Ela entrou no carro junto porque sabia que ele estava armado, porque previa que o pior pudesse acontecer. Sabia que a arma não estaria segura nas mãos dele, e não estava. Foram vários disparos, todos na cabeça das vítimas. Todas foram alvejadas na cabeça, o réu sabia o que fazia, ele queria esse resultado. Foi uma decisão dele, somente dele — afirmou Melo.
Na sequência, falou a promotora Lúcia Helena Callegari, que também citou a ação da mãe naquele dia:
— Desde que peguei este caso, me pergunto por que a mãe entrou no carro com o filho. É porque ela sabe que ele gosta de estar armado, que gosta de atirar, que é o assunto dele (entre amigos). Ela sabe o filho que tem. Essa família é um perigo armada — disse.
Perto do fim
A previsão é de que o júri acabe nesta noite, por volta das 21h. Pouco antes das 17h, o advogado de defesa, Cristiano Rosa, começou sua fala, durante a tréplica.
O criminalista sustenta que os réus agiram em legítima defesa. Dionatha teria visto a mãe ser agredida pelas vítimas, ficou "com medo" e disparou contra a família. Ele pontuou que o réu foi preso dias após o crime e segue detido até hoje.
— Antes que tenhamos uma decisão, é necessário que saibamos o que as pessoas que serão punidas terão que passar: a ida para um sistema punitivo falido, arcaico — disse Rosa.
Após a tréplica, os jurados se reúnem para votar os quesitos, que vão decidir o futuro dos réus. A sentença é lida depois, pela juíza.