Acusado pelo assassinato de três pessoas da mesma família, Dionatha Bitencourt Vidaletti falou, nesta segunda-feira (11), sobre o crime que chocou a cidade, em janeiro de 2020. Disse que agiu em defesa da mãe, que foi agredido e que não tinha intenção de cometer os homicídios. Alegou que se arrepende do fato e de ter levado uma arma para a casa de familiares naquele dia. O depoimento ocorreu durante o júri, em Porto Alegre, que começou nesta manhã e deve se estender até terça-feira (12).
A mãe dele, Neuza Regina Bitencourt Vidaletti, também é ré na ação, por disparo de arma de fogo. Ela responde em liberdade. Já Dionatha está preso em Canoas.
As vítimas são Rafael Zanetti Silva, sua esposa Fabiana da Silveira Innocente Silva, e o primogênito do casal, Gabriel. As vítimas tinham 45, 44 e 20 anos, respectivamente, à época dos fatos. No carro, assistiram à cena o filho caçula do casal, então com oito anos, e a namorada de Gabriel, com 18.
Em depoimento, o homem afirmou que estava visitando familiares naquele dia, em uma casa que fica em área de mata, onde ele construía um galpão de suporte para pescaria. Segundo ele, o espaço vinha sendo usado para prática de abigeato, e havia relatos de vizinhos sobre roubo de animais durante a madrugada. Como ele iria até o local para continuar a construção, levou a arma consigo para proteção, segundo o relato. Ele diz que pegou o equipamento escondido do pai, dono do armamento, e o colocou sob o banco do carro.
Naquela tarde, quando percebeu que o carro das vítimas havia colidido contra o seu, que estava estacionado, e amassado a porta, embarcou no veículo e seguiu a família. A mãe do réu foi junto, no banco traseiro, porque não teria conseguido abrir a porta do carona, na correria.
A intenção, diz ele, era parar a família e registrar ocorrência policial pela colisão:
— Quando eu desci do meu carro, todos eles (as vítimas) já estavam muito alterados. O Rafael veio ao meu encontro, e eu a ele. Dava para ver que não estavam normais. Vieram me xingando e me ofendendo. O Rafael tentou me dar empurrões, aí chegou o Gabriel e me derrubou. Quando vi, estavam em cima de mim, me chutando, não conseguia sair dali. Foi tudo muito rápido. Quando olhei para trás, vi a mãe com a arma.
O réu disse que recebeu chutes e teve lesões nas mãos, pernas e nas costelas. Conforme o relato, a mãe dele efetuou o disparo para cessar as agressões contra o filho. Após esse primeiro tiro, Dionatha diz que conseguiu se levantar dali e correu.
Disse que ficou preocupado de as vítimas pegarem a arma e usarem contra eles, e percebeu que a mãe estaria em estado de choque. Por isso, foi até ela e pegou a arma.
— Eu dizia para ela: "vamos embora, vamos embora". Entrei no carro e ela foi tirar uma foto do carro deles, aí vieram para cima dela. Já estava sentada no banco do carro e agarraram ela. Foi a hora que atirei neles.
Questionado pelo advogado Cristiano da Rosa, que o atende, afirmou que não teria disparado se a ação não envolvesse a mãe.
— Não foi um ato pensado. No susto de estarem fazendo mal para minha mãe, atirei neles. Depois dos disparos me apavorei, em todos os sentidos. Nunca pensei que isso iria acontecer comigo. Estava apavorado, com a mãe suja de sangue, entrei em estado de choque. Nem eu estava entendendo mais o que estava acontecendo.
Mudanças após o crime
O jovem afirmou que, à época dos fatos, trabalhava no comércio da família, e que a arma teria sido comprada pelo pai havia cerca de duas semanas, em razão de assaltos ao estabelecimento. Em busca de melhores condições de trabalho, ele relatou que planejava fazer curso para trabalhar no ramo de vigilante.
Após o episódio, foi preso e diz que vive afastado da família:
— Tudo mudou na minha vida, para pior. Minha família se destruiu, a família das vítimas se destruiu.
Questionado pelo advogado se ele se arrepende de efetuar disparos, de ter levado a arma naquele dia, se "pediria desculpa" para a criança que presenciou o crime e para sua própria família, respondeu em sequência:
— Sim, senhor.
Ao final do depoimento, o advogado mencionou a irmã do réu, que assistiu à sessão desta segunda. Ao olhar para ela, o acusado chorou pela primeira vez durante a fala. Logo depois, o interrogatório foi encerrado.