Em abril do ano passado, enquanto aguardava uma telentrega de pizza em frente ao portão de casa, em Alvorada, na Região Metropolitana, Lindomar Lobo de Avila correu para dentro de casa, assustado. Três criminosos armados invadiram a residência, no bairro Americana, e dispararam repetidas vezes na direção do homem sobre o sofá da sala. Este é um dos 11 homicídios investigados pela Polícia Civil e atribuídos a uma facção criminosa alvo da Operação Aurora. Três suspeitos de envolvimento com o tráfico de drogas foram presos durante a ofensiva do Departamento de Homicídios nesta sexta-feira (24).
Os assassinatos dos quais o grupo é suspeito aconteceram em 2021 e no ano passado. Entre os homicídios investigados, a maioria tem relação com disputas pelo controle do tráfico de drogas. Mas este caso, ocorrido no bairro Americana, despertou a atenção da polícia por envolver outro contexto. Inicialmente, havia suspeita de que a execução pudesse estar relacionada ao passado da vítima, que cumpria prisão domiciliar desde 2020. No entanto, ao longo da investigação, a polícia descobriu outra motivação por trás do crime.
A vítima tinha começado a trabalhar no ramo de tele-entulho, no município. Em razão disso, um concorrente dele teria decidido assassiná-lo. O homem apontado como mandante do crime, segundo a polícia, não possuía vínculo anterior com a facção, mas recorreu ao grupo criminoso para que o oponente fosse executado.
— Esse mandante procurou um amigo ligado à facção criminosa e o amigo pediu autorização e apoio da facção para execução do delito — explica o delegado Edimar Machado de Souza, a Delegacia de Homicídios de Alvorada.
Quatro suspeitos de envolvimento neste crime foram presos de forma preventiva e continuam no sistema prisional. Entre eles, o homem apontado como mandante, um dos executores, e outros dois que teriam ajudado a intermediar a ação e auxiliar na logística do homicídio. Os quatro foram indiciados pela Polícia Civil e respondem pelo crime. O suspeito de ter ordenado o crime optou por permanecer em silêncio durante a investigação.
A operação
A ação desta sexta-feira contou com cerca de 200 agentes, com apoio da Brigada Militar, Guarda Municipal e uso de helicóptero. Foram cumpridos 29 mandados de busca e apreensão, nos bairros Umbu, Americana e Sumaré. Os alvos eram possíveis pontos de armazenamento de drogas e armas, além de residências de suspeitos.
A ofensiva é um desdobramento da Operação Eleven. Durante essa outra ação, em janeiro, foram cumpridas 97 ordens judiciais, sendo 35 mandados de prisão, que resultaram em 23 prisões. Ao longo das investigações sobre esse grupo, ao total, 27 pessoas já tinham sido presas por envolvimento com a mesma facção.
O grupo criminoso investigado possui origem no bairro Bom Jesus, na zona leste de Porto Alegre. No entanto, possui ramificações em praticamente todo o Estado. Em Alvorada, a facção é responsável por dominar a maior parte do tráfico de drogas.
Homicídios em queda em Alvorada
O combate ao crime organizado tem sido uma das estratégias na tentativa de fazer Alvorada deixar um título amargo para trás. Em julho, o município apareceu entre as 50 cidades mais violentas do país. O último anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, indicou a cidade na 41ª colocação, com taxa de 44,8 homicídios por 100 mil habitantes.
Apesar do lugar no ranking de 2023, Alvorada caiu 35 posições neste mesmo levantamento nos últimos sete anos. Em 2017, o município aparecia em sexto. A Polícia Civil também garante que o cenário atual é bastante diverso do que acontecia no passado. Nos primeiros seis meses deste ano, foram registrados 31 homicídios, número 26% menor do que os 42 contabilizados no mesmo período em 2022.
Até o período atual, Alvorada registra 48 homicídios — em todo ano passado foram 83 casos. Caso essa tendência se mantenha, o município deve encerrar o ano com redução acentuada.
— A estratégia de trabalho integrado no combate ao crime organizado, que está por trás da maior parte dos homicídios também en Alvorada, com certeza impacta nessa redução. As projeções mostram que Alvorada deve encerrar o ano com uma queda muito significativa nos homicídios. Se esses dados se confirmarem, isso levará o município a deixar para trás esse ranking das 50 cidades mais violentas — afirma o delegado Mario Souza, diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Colabore
Informações sobre homicídios que auxiliem a polícia nas investigações podem ser repassadas, inclusive de forma anônima, pelo telefone 0800-642-0121.