Estelionatários criaram uma falsa central de telefônica (call center) de bancos para aplicar golpes no Rio Grande do Sul. Para o alvo, tudo começa com uma mensagem de texto enviada ao seu telefone pelos golpistas. No conteúdo, alerta de uma suposta compra no cartão de crédito, que na realidade nunca foi realizada. Temendo um prejuízo ainda maior, a vítima liga no número que vem na mensagem e acaba falando com os golpistas. É quando os criminosos, se passando por funcionários de instituições financeiras, solicitam pagamentos por Pix e boleto para "cobrir" ou "reaver" a falsa compra.
Uma mulher, que não teve a identidade revelada, relatou ter perdido R$ 90 mil no golpe da falsa compra no cartão de crédito. Ela foi induzida a realizar diversas movimentações em sua conta para “reaver” o valor da falsa compra inicial.
— Foi tirada a nossa economia, não tem o que fazer, e fui receber a resposta do banco, o banco disse que não tem o que fazer, que fui eu que fiz as transações que eles não poderiam ressarcir o dinheiro. Tá difícil, porque a gente ficou sem a nossa economia para manter a nossa padaria. Agora a gente tá como se tivesse começado de novo — conta.
No texto da mensagem enviada, os estelionatários deixam um telefone para contato, geralmente com início 0800, e aguardam o retorno da vítima para dar sequência no golpe. Para dar mais “veracidade” ao SMS, o número informado é mascarado por um sistema online, em que aparece o mesmo contato do atendimento ao cliente da instituição bancária da vítima.
Ao ligar para este número, para contestar a compra informada na mensagem, a vítima permite que os golpistas prossigam com o golpe. Conforme o delegado Thiago Albeche, da Delegacia de Crimes Virtuais, “não é normal este tipo de interação entre os bancos com seus clientes”.
A reportagem da RBS TV entrou em contato com os golpistas após receber uma mensagem falsa informando uma suposta compra em seu cartão de crédito, no valor de R$ 4.390. Antes de ligar para o número informado no SMS recebido, o jornalista verificou que a transação não aparecia em seu extrato bancário, no entanto, os estelionatários tentaram contornar a situação.
Um homem que se identifica como Renato alega ser da central de atendimento e pergunta no que pode ajudar. Inicialmente, ele confirma algumas informações da vítima, como nome completo e últimas vezes em que o cartão de crédito foi utilizado.
Na sequência, quando a compra é contestada pelo repórter, o golpista informa que um dispositivo “está conectado” à conta dele:
— O senhor tem um notebook da marca Dell? Aqui em sistema consta, senhor Giovani, que um notebook está logado no aplicativo do seu banco e fazendo essas movimentações — diz o suspeito a Grizotti.
O suposto atendente, ainda questiona o repórter sobre o saldo de sua conta e os limites do seu cheque especial e para transações via Pix. O objetivo é calcular quanto poderá ser roubado da vítima.
O repórter informa um valor fictício, de R$ 30 mil, mas o golpista pede que o valor seja informado por inteiro, incluindo os centavos. Grizotti então informa ter R$ 32.200,52 em conta, momento em que o estelionatário rebate o valor.
— Aqui consta que o senhor tem 52 centavos (...) como as informações que o senhor tá passando para mim não são as mesmas que está constando no nosso sistema, supostamente, senhor Giovani, o senhor está sendo vítima de fraude
A tática da quadrilha é induzir vítima a realizar um pagamento no mesmo valor da compra informada inicialmente na primeira mensagem enviada. Este pagamento, via Pix ou boleto, iria “duplicar” a compra e estornar o valor.
Neste momento, a ligação é transferida para outra pessoa que faz parte do golpe, a qual seria responsável pelo falso setor “antifraude” do banco. Em um passo a passo no telefone, este segundo estelionatário induz a vítima a realizar os pagamentos.
— Ele disse que ia revistar a minha conta e disse que tinha um pagamento de um boleto agendado na minha conta, no valor de R$ 19.900. Ele perguntou se eu reconhecia esse boleto, eu disse que não, não nunca paguei um boleto nesse valor. E ele me passou então que pra estornar esse valor que já estava agendado, que eu teria que duplicar esse valor. Tipo pagar ele novamente, que com dois pagamentos iguais o banco te estorna — relata uma das vítimas.
Os estelionatários ainda prosseguem. Com os dados referentes à saldo em conta e limite de cheque especial informados anteriormente pela vítima, eles relatam que existe novos pagamentos agendados para datas futuras a serem descontados da vítima e cobram valores que totalizam a soma do saldo e do cheque especial.
Conforme Thiago Albeche, este modo de operação é totalmente atípico ao dos bancos.
— Eles dizem que a vítima fez uma operação suspeita, mas que pra corrigir esse tipo de operação, ela precisa fazer novamente um pagamento, seja por meio de Pix, seja por meio de boleto. E geralmente esse pagamento do Pix, está vinculada a uma terceira pessoa, enfim, que sequer é conhecida. E esses são os principais indícios de que se trata de um golpe.
Como prevenir
A primeira orientação da Polícia Civil é não interagir com links suspeitos e números desconhecidos. Em casos como este, é recomendado entrar em contato com o gerente da conta, se possível, pessoalmente.
— Uma das dicas é simplesmente bloquear este contato e entrar em contato com a sua agência. Não interaja com absolutamente nada que for indicado por meio de mensagens ou ligações telefônicas — orienta Albeche.
De acordo com o delegado, há situações em que os estelionatários enviam um link à vítima, que ao acessar tem seu celular invadido. Ele destaca que uma das estratégias dos golpistas é dar informações sobre a vítima para obter outras.
— Eles sempre pedem uma interação da vítima, é um procedimento totalmente diferente daqueles que os bancos utilizam. Eles dão uma versão que, dê certa forma, é verídica, justamente para obter outros dados, e daí conseguir o número do cartão de crédito e outras informações bancárias.