Preso preventivamente há mais de um ano na Penitenciária de Montenegro por suspeita de envolvimento em um esquema de agiotagem, um morador da Região Metropolitana recebeu, no mês de junho, contato de um advogado que prometia conseguir a liberdade dele com tranquilidade, por meio do pagamento de uma fiança. A promessa, no entanto, era falsa e a família do detento acabou perdendo mais de R$ 10 mil. O defensor, Cristiano Zago, foi preso na última terça-feira (18) pela 1ª Delegacia de Polícia de Viamão, suspeito de aplicar o mesmo golpe contra outra família, que relata ter perdido R$ 89 mil.
A mãe do apenado na Penitenciária de Montenegro, que pediu para não ser identificada, relata que foi procurada em 28 de junho pelo advogado, falando sobre a possibilidade de fiança:
— Eu perguntei: se tiver uma fiança, se a gente puder pagar, o guri sai na hora? Ele me deu essa explicação, que demora alguns dias.
Com termos jurídicos, o advogado respondeu:
— Depende muito do regimento interno, a lei, em alvará de soltura, primeira instância é 24 horas. Mas como é em segunda instância, que é o caso, demora de cinco a 10 dias, entendeu? Então assim, tudo que está no código, eles (Justiça) não seguem. A gente tá entrando numa questão processual, penal.
O valor inicial cobrado pelo advogado a título de honorários era de R$ 4 mil, sendo metade antes e o restante após a suposta soltura do preso. Dois dias depois, enviou uma nova mensagem, dessa vez em texto.
"Bom dia. Consegui a liberdade do (nome omitido), algumas restrições como imaginei a fiança fixada em R$ 7.670,40 para pagar até umas 15:30".
Assim como no caso que resultou na prisão dele, o suspeito teria falsificado um documento, criando uma suposta "guia de depósito" do Poder Judiciário, que seria para a fiança. A mulher, que trabalha como diarista, conta que precisou buscar um empréstimo com juro alto para conseguir pagar o valor.
— Já entrei com a petição lá para a juíza. Vou mostrar para a juíza que eles estão errados também. Quarta-feira (dia 4 de julho) ele já tá na rua. Aí é só festa. Já até estamos combinando um churrasco — enviou o advogado à mãe.
Só que o prazo passou e o preso não foi solto. A mulher decidiu ir até o Fórum buscar informações e descobriu que nenhum valor foi pago.
— Agora vou pagar pelos próximos dois anos mais de R$ 600 por mês, fiz em 24 vezes. Eu imaginava que meu filho seria solto, voltaria a trabalhar como era antes de se envolver nisso e me ajudaria. Não sei de onde vou tirar — lamentou a GZH.
Depois de descobrir o esquema, a mulher pediu para o advogado sair do caso e ele teria pedido mais R$ 15 mil a título de honorários. Ele depois teria reduzido a pedida para R$ 5 mil, valor que não foi pago.
Prisão
Cristiano Zago foi preso na terça-feira (18), em Porto Alegre, em ação da 1ª Delegacia de Polícia de Viamão. Segundo a delegada Jeiselaure de Souza, ele procurou a família de um apenado e disse que havia uma decisão judicial que estabelecia pagamento de fiança para liberdade provisória.
A delegada relata que ele apresentou um documento falso com cobrança de R$ 61,5 mil e cobrou honorários, que totalizaram um prejuízo de R$ 89 mil. Quando a família percebeu o golpe, procurou a Polícia Civil.
Ainda segundo a delegada, o suspeito já usava tornozeleira eletrônica por envolvimento em crimes semelhantes em Porto Alegre, cidades da Região Metropolitana e até São Paulo. Desde a prisão, outros casos chegaram ao conhecimento da Polícia Civil.
Contraponto
No inquérito policial, Zago pretendia advogar em causa própria. Como está com a carteira da OAB suspensa, isso não será possível. No entanto, ele ainda não apresentou um defensor.
Em depoimento sobre o caso dos R$ 89 mil, o preso alegou que recebeu esses valores a título de honorários e negou ter falsificado documentos.
Procurada, a Ordem dos Advogados do Brasil informa que o advogado foi suspenso de forma cautelar por decisão do presidente Leonardo Lamachia. Questionado sobre por que o suspeito seguia com o registro na OAB ativo, mesmo com os antecedentes e sendo monitorado por tornozeleira, Lamachia afirmou que as informações sobre o advogado não haviam chegado antes até ele e que determinou a suspensão assim que ficou sabendo da situação, por meio da polícia e da imprensa.