Numa segunda fase da Operação Quimera, que teve como alvo grupos criminosos envolvidos na expulsão de moradores de um condomínio em Viamão, na Região Metropolitana, a Polícia Civil cumpriu nesta quarta-feira (14) novos mandados contra o tráfico de drogas. As buscas foram realizadas em 21 locais, que, segundo a investigação, possuem vínculos com essas facções e são usados para o armazenamento e comércio de entorpecentes. Cerca de cem policiais estiveram envolvidos na ofensiva.
A operação desta manhã faz parte do mesmo inquérito que, em outubro de 2020, resultou na prisão de suspeitos de expulsar moradores de um condomínio na Vila Augusta, para tomar os apartamentos e utilizar para o tráfico de drogas. Segundo o delegado Júlio Fernandes Neto, os mandados de agora são cumpridos em locais nas proximidades desse residencial.
— São todos pontos de venda e de armazenamento que são ao longo do tempo utilizados por esses grupos criminosos — afirma.
A tomada de moradias dentro do condomínio é investigada pela Polícia Civil há três anos. Cerca de 240 famílias começaram a ser transferidas para o condomínio construído com cerca de R$ 50 milhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), da União, ainda em 2019. Depois disso, no início de 2020, começaram a chegar à polícia informações sobre o domínio do local pelo tráfico de drogas. Segundo a polícia, o local foi dividido entre quatro grupos criminosos.
Ao longo do ano de 2020, foram realizadas ações da Brigada Militar e da Polícia Civil no local, entre elas a Operação Quimera I. Segundo o delegado, após aquela primeira fase foram recolhidos materiais em celulares e computadores, que foram analisados pela polícia. A partir disso, houve indiciamento de 126 pessoas suspeitas de integrarem as facções. A polícia pediu a prisão de todos investigados e cerca de 260 mandados de busca dentro de todo condomínio, mas a solicitação não foi aceita pelo Judiciário. Em razão disso, não foram cumpridos nesta quarta-feira mandados no residencial.
GZH procurou o Tribunal de Justiça (TJ) para saber a razão para o indeferimento da busca e apreensão no condomínio, que explicou que a decisão, neste caso, é de competência de órgão colegiado, composto por três magistrados, sendo, neste caso, presidido pelo juiz Orlando Faccini Neto. O magistrado afirmou que "autorizar o ingresso no domicílio de todos os moradores do condomínio arriscaria conspurcar a inviolabilidade constitucional daqueles residentes que, supõe-se em grande número, não se dedicam às práticas criminosas que estão sendo apuradas".
Fuzil e drogas
Num dos alvos nos quais a polícia cumpriu mandado de busca nesta manhã, nos arredores do condomínio da Vila Augusta, foram encontradas quatro armas. Entre elas, uma espingarda de calibre 22 e um fuzil de calibre 556. Também foram localizados uma pistola e um revólver. O local, segundo a polícia, servia de armazenamento de armamentos para um dos grupos criminosos.
— É importante destacar o poder de fogo desse armamento. É uma arma de uso restrito das forças policiais e das Forças Armadas. É uma arma de guerra. Por isso, já se pode imaginar a capacidade econômica desse grupo, conforme foi apontado no relatório policial. De fato, essas quatro organizações atuavam ali, com poder e estrutura hierarquizada — diz o delegado.
Neste mesmo local, foram apreendidos um colete balístico e munição. Um homem foi preso em flagrante pelo armazenamento das armas.
— Não é possível operar o tráfico de drogas se não houver esses seguranças. Pelos valores envolvidos, pelo que os pontos de tráfico arrecadam. Obrigatoriamente, eles têm soldados com armamentos para resistir a uma eventual tentativa de outras facções. Nos pontos periféricos ao condomínio, já encontramos esse tipo de armamento — afirma Fernandes.
Em outro ponto, também foram encontradas drogas, como um tijolo de cocaína, uma porção de crack e um tijolo de maconha.
Expulsões seguem
Segundo o delegado, os grupos criminosos continuam atuando no condomínio, e moradores ainda são expulsos do local. Nos aparelhos recolhidos, a polícia localizou imagens que seriam de criminosos fazendo rondas dentro do condomínio. Em fevereiro deste ano, segundo a polícia, a síndica do mesmo condomínio foi presa em flagrante por tráfico e associação ao tráfico de drogas.
— Aquele local foi construído como moradia para as pessoas em situação de pobreza. E criminosos seguem expulsando moradores e transformando em depósitos de armas e drogas — diz o delegado.
Na investigação, que se estendeu por três anos, segundo a polícia, foram mapeados e identificados os principais operadores das quatro facções criminosas que controlam o tráfico de drogas em Viamão. Dentro do condomínio, um dos problemas enfrentados pela polícia, era a “lei do silêncio” imposta aos moradores. Uma situação que perdura até hoje.
— Muitas pessoas não têm coragem de registrar, por medo. Outras vão lá e registram — diz o delegado.
Os 126 indiciados pela Operação Quimera foram denunciados pelo Ministério Público, no processo que tramita na vara especializada no crime organizado e lavagem de dinheiro de Porto Alegre.