Uma operação foi desencadeada na manhã desta sexta-feira (23) no bairro Vila Augusta, em Viamão, na Região Metropolitana. O objetivo é combater o tráfico de drogas, mas também coibir uma prática criminosa que já resultou na expulsão de moradores e na ocupação de cerca de 40 residências no condomínio popular Viver Augusta.
Parte dos apartamentos, construídos pelo município com recursos federais para moradia de pessoas que viviam à beira do Arroio Feijó, no mesmo bairro, foi usada como pontos de venda de drogas ou para armazenar entorpecentes e armas. Cerca de 180 agentes cumprem 27 mandados de prisão e 33 de busca e apreensão.
Às 17h, a Polícia Civil informou que 13 pessoas haviam sido presas e quatro adolescentes apreendidos. Os nomes não estão sendo divulgados, mas entre os investigados há uma assessora parlamentar da Assembleia Legislativa.
Desde 2019, cerca de 240 famílias começaram a ser transferidas pelo Executivo para o condomínio construído com cerca de R$ 50 milhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), da União. Já no início do ano, a Brigada Militar (BM) havia feito uma ação no local com a vigilância do próprio município pelo fato de que traficantes estavam disputando território na área, ameaçando e amedrontando moradores.
Após este pedido de ajuda feito pelas pessoas que residem nos imóveis, houve uma ação pontual e iniciou-se uma investigação que resultou na operação desta sexta-feira. Conforme o titular da 1ª Delegacia Regional Metropolitana, delegado Juliano Ferreira, o trabalho é da 2ª Delegacia de Polícia da cidade com apoio de demais distritos da regional, do 18º Batalhão da BM e Guarda Municipal.
Ferreira diz que foram vários relatos durante quatro meses de investigação, mas todos de forma informal devido ao medo dos moradores. Segundo ele, 40 ainda é um número mínimo — que a polícia conseguiu fazer um levantamento — de pessoas que foram expulsas ou obrigadas, sempre mediante mediante violência e grave ameaça, a deixar que traficantes guardassem drogas ou armas em suas residências. Foi feito um levantamento e toda uma apuração policial para identificar e mapear as ações dos investigados.
— Impera no local uma verdadeira "lei do silêncio" e, por isso, foi necessário um trabalho minucioso para confirmar os crimes, obter as identificações dos suspeitos e conseguir a autorização judicial. Entendo que os traficantes literalmente lotearam o condomínio — ressalta Ferreira.
Facções dividiram condomínio
O titular da 2ª Delegacia de Viamão, Júlio Fernandes Neto, identificou quatro células criminosas do município que pertencem a quatro facções que atuam no Estado. Os grupos situados no bairro Vila Augusta, mesmo do condomínio, firmaram um "acordo de paz" para evitar homicídios e chamar a atenção da polícia.
Por isso, Neto ressalta que o local foi dividido em quatro para fins de armazenamento, distribuição e venda de drogas e armas. Mas, aos poucos, os integrantes da facção começaram a agir de forma violenta contra alguns moradores com o objetivo de obter alguns imóveis para uso próprio.
— O objetivo da operação também é fazer valer o direito fundamental à moradia digna, que foi tolhido dos moradores do bairro pelo crime organizado. Também queremos restabelecer o domínio das forças de segurança — explica Neto.
A investigação identificou vários pontos de venda dentro e nas imediações do condomínio, bem como os respectivos gerentes, responsáveis por guardar e vender entorpecentes, além dos chamados "executores" das quatro facções. Neto diz que foi montado um organograma por parte das células criminosas. Ele ainda complementa que a operação coíbe outros delitos vinculados ao tráfico, como roubos de veículos, a estabelecimentos comerciais e de cargas, receptação, porte ilegal e tráfico de armas, além de homicídios.