Durou 54 segundos o ataque de um homem de 22 anos que invadiu um apartamento no Centro Histórico de Porto Alegre e esfaqueou duas mulheres na noite de terça-feira (20). Em menos de um minuto, roubou três celulares, feriu a dona da casa com golpes nas costas, no perna e na cabeça e desferiu uma única facada no fígado da amiga, que segue internada no Hospital de Pronto-Socorro. Os momentos em que escala a parede às 20h20min do prédio da Rua 24 de Maio, invade o quitinete térreo pela janela e, instantes depois, foge correndo foram registrados por câmeras de segurança que ajudaram a polícia a chegar até o suspeito. O homem foi detido pela Brigada Militar na noite de quarta-feira (21) e está preso preventivamente.
Dois dias após o crime, a moradora está recolhida na casa de parentes com seis pontos na cabeça, dez na perna e com escoriações nas costas. No prédio da Rua 24 de Maio, a reforma que já estava prevista será acelerada. Assustados com o episódio, os vizinhos avaliam colocar grades nas janelas. Moradora do segundo andar, a servidora pública aposentada Lúcia Bonassa, 64 anos, ouviu os gritos enquanto estava tomando banho na noite de terça-feira. Quando foi até a janela, viu as duas mulheres estavam saindo de maca pela porta do prédio.
— Foi um susto porque na hora não entendemos o que estava acontecendo. Olhei na janela e ela chamava pelo meu nome, desci correndo. Moro aqui há quatro anos, nunca fui assaltada. Nossa rua é uma via tranquila, dentro da movimentação do Centro — conta a vizinha que cuidou do cachorro da moradora e limpou o apartamento depois do crime.
Em estado de choque, a vítima só foi localizada pela polícia na madrugada desta quinta-feira (22). Em depoimento dado na 1ª Delegacia de Polícia, a mulher de 36 anos disse que havia deixado a janela aberta pois estava esperando a amiga. Quando a visita chegou, esqueceu de fechá-la. As duas estavam conversando quando o homem invadiu o apartamento, foi em direção aos três telefones, elas reagiram e o criminoso as atacou com uma faca.
— Elas se levantaram, contestaram aquela ação, ele puxou uma faca, não era uma faca comum. Era uma adaga, com lâmina larga e começou a esfaqueá-las num movimento de luta. Durante o depoimento, ela chorava muito. E dizia dar graças a Deus por estar viva, por que ele estava com raiva e queria matá-la. Ela está traumatizada e sofrendo muito — afirma o delegado Paulo Jardim.
Duas características do suspeito auxiliaram a polícia na captura: um problema na perna esquerda, que leva o homem a caminhar mancando, o tênis que calçava, o mesmo usado na noite do crime. Por volta das 23h da quarta-feira, ele circulava pela avenida Desembargador André da Rocha, bem próximo ao local do crime, quando foi visto pela Brigada Militar. Policiais militares do 9º Batalhão estudaram o perfil do suspeito, desconfiaram que pudesse ser ele e o levaram até a 1ª DP, onde foi reconhecido pela vítima:
— Imediatamente a vítima quando o viu, não teve dúvida ao identificá-lo — afirma o delegado.
O homem já foi investigado em cinco inquéritos por tráfico de drogas, tem antecedentes por furto e roubo com uso de facas. Pelo crime de terça-feira, será indiciado por tentativa de latrocínio. Em depoimento, permaneceu em silêncio sobre o fato.
— O que nos chamou atenção é que ele nos disse que logo será solto. Disse com a maior naturalidade que estava entrando agora, mas daqui pouco estaria fora. Não tem sofrimento ou vergonha social o fato de ser preso. Agiu como se fosse algo natural. Soa como um deboche, como se estivéssemos enxugando gelo — conta Jardim.
Na noite do crime, um andarilho de 35 anos conhecido pelos moradores da 24 de Maio foi preso em flagrante pois foi visto conversando com o suspeito minutos antes do crime e foi pego com um dos três celulares roubados durante a ação. Ele continua detido.