Há 10 meses, uma rotina completamente diferente do que costumava ser habitual se impõe em uma das casas cinzas do bairro Cristo Rei, em São Leopoldo. Todos os dias, familiares de Alessandra Dellatorre analisam informações que chegam e fazem buscas pelo paradeiro da advogada de 29 anos. Em julho do ano passado, ela saiu de casa para caminhar, no município do Vale do Sinos, e nunca mais voltou. A história que comoveu a comunidade e engajou moradores em buscas contínuas segue um mistério: nenhuma pista levou ao encontro de Alessandra, nenhum corpo foi achado. Na Polícia Civil, o inquérito segue aberto, sem novidades.
Os novos hábitos da família incluem buscas em pontos estratégicos pelo Vale do Sinos e o contato constante com investigadores particulares, contratados para apurar o caso em paralelo à investigação policial.
A transformação no dia a dia da família aconteceu não apenas de forma inesperada como dolorosa. Ainda assim, a tia da jovem, Érica Dellatorre, afirma que não existe outra alternativa possível, já que os parentes acreditam que a advogada está viva:
— Todo dia, a gente faz buscas, publica nas redes, refaz passos. Passamos o dia pensando onde ela está e como podemos fazer para encontrá-la. No fim do dia, nos reunimos numa chamada em grupo para avaliar o que deu certo, o que não funcionou, o que faremos nos dias seguintes — conta Érica.
A tia acrescenta que todos estão muito unidos e que encontrar Alessandra é uma meta:
— Nunca pensamos que fosse chegar a tanto tempo, mas acreditamos que ela está viva e não vamos parar. Seguimos procurando como no primeiro dia, no mesmo ritmo daquele julho de 2022.
Enquanto Érica conversava com a reportagem, o pai e o tio da jovem se dividiam em duas buscas na sexta-feira (26).
Caminhada que nunca teve retorno
Naquele 16 de julho, um sábado, Alessandra saiu de casa no começo da tarde vestindo moletom e calça pretos, sem celular nem documentos. As caminhadas eram atividade frequente para a jovem, segundo familiares. No percurso, a advogada entrou em uma área conhecida como Matão, no limite entre São Leopoldo e Sapucaia do Sul. O espaço, entre árvores altas, costuma ser usado para caminhadas, corridas e trilhas de bicicleta.
No entorno do local, há câmeras de monitoramento, mas nenhuma registrou uma possível saída de Alessandra. Buscas foram feitas no local pelas autoridades, mas nada foi encontrado.
Para a família, este é um dos fatores que mantém viva a esperança de que a advogada esteja viva.
— Enquanto não for encontrado um corpo, temos esperança. Não tem nada naquele mato, nada foi achado. Acreditamos que, de alguma forma, ela saiu dali. Não sabemos como está depois de tanto tempo, talvez desorientada. Vamos manter as buscas leve o tempo que for — diz Érica.
Alessandra é descrita como uma pessoa simples e amorosa, que faz amizade fácil. Filha única, também tem "opiniões firmes e é decidida". Formada em Direito, ela vinha estudando para concurso público e morava com os pais.
O desaparecimento causou comoção e mobilizou moradores em diversas partes do Estado, que passaram a procurar pela jovem. Cartazes e fotos dela foram espalhados em diferentes municípios do Vale do Sinos, pelo Litoral Norte e na Serra. Na metade de setembro, um outdoor foi instalado pela família de Alessandra em uma das esquinas mais movimentadas do centro de São Leopoldo.
Investigação em aberto
O inquérito que investiga o paradeiro de Alessandra está a cargo da delegada Mariana Studart, titular da Delegacia de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) de São Leopoldo. Segundo ela, a investigação segue em aberto:
— Nós continuamos apurando, este caso segue uma prioridade para a polícia. Conforme surgem novos fatos, nós averiguarmos, fazemos diligências. Até o momento, infelizmente, as informações e relatos que chegaram à delegacia não se confirmaram, não levaram ao paradeiro da jovem.
Desde o sumiço, mais de 20 pessoas foram ouvidas pelas equipes. Imagens de câmeras de segurança foram analisadas e buscas foram feitas, com apoio dos bombeiros e da Brigada Militar. A Polícia Civil também pediu à Justiça a quebra do sigilo do celular da jovem, para checar se conversas poderiam indicar alguma pista, mas nada foi encontrado.
Para a polícia, a possibilidade de ela ter sofrido algum crime violento, como assalto ou sequestro, é remota.