A saga de buscas e angústia vivida pela família de Alessandra Dellatorre, 29 anos, completa seis meses nesta segunda-feira (16). Em julho do ano passado, o caso gerou emoção e mobilizou moradores, que passaram a procurar pela jovem. Ela saiu de casa, em São Leopoldo, no Vale do Sinos, e nunca mais voltou. Meio ano depois, a falta de pistas sobre o paradeiro da advogada deixa parentes e agentes da Polícia Civil sem respostas.
De acordo com a equipe que apura o caso, a investigação segue em aberto e diligências são feitas toda semana. Após o sumiço, foram realizadas buscas em áreas de mato pelos policiais, com auxílio dos bombeiros e cães farejadores, mas nada de concreto, que pudesse indicar o que aconteceu, foi localizado. Equipes também realizaram diligências em municípios vizinhos, sem sucesso.
Nessas buscas, apenas uma garrafa da jovem, que teria a bebida que costumava tomar antes de atividades físicas, foi encontrada. O item foi enviado para a perícia para verificar se o líquido pode trazer alguma resposta à investigação. Segundo o Instituto-Geral de Perícias (IGP), a busca por vestígios de substâncias costuma levar mais tempo, pois trata-se de trabalho complexo.
Atualização: o laudo foi concluído no dia 25 de janeiro, após a publicação desta reportagem. Confira ao final da matéria.
Além de ouvir amigos e familiares, a polícia também falou com moradores de pontos por onde Alessandra passou antes de sumir, mas ninguém viu a jovem. A equipe monitora as contas bancárias e redes sociais, para identificar qualquer movimentação nova em nome da advogada.
O delegado André Serrão, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de São Leopoldo, não acredita que a jovem possa ter sido vítima de algum crime. Ele afirma que as equipes seguem com o trabalho de investigação do caso.
— Não há nenhum indício de que ela tenha sofrido algo, é uma hipótese muito remota. Nossa principal linha de investigação é de que teria saído de casa por questões de depressão. De qualquer forma, nós seguimos com a procura e a investigação seguirá em aberto — diz Serrão.
Segundo a polícia, a jovem fazia tratamento para transtornos psicológicos. A família da jovem segue mobilizada e garante que não vai parar de procurar por Alessandra enquanto não a encontrar.
Nossa vida é buscar por ela, há seis meses. É uma procura incansável, que não vai parar
ÉRICA DELLATORRE
Tia e madrinha de Alessandra
Esperança
Tia e madrinha da advogada, Érica Dellatorre, 49 anos, conta que investigadores particulares foram contratados pela família para apurar toda e qualquer informação nova que chega. Amigos e parentes seguem refazendo os passos da jovem.
A suspeita dos familiares de que a advogada tenha, por algum motivo, ficado desorientada durante a atividade e esteja em algum local sem conseguir voltar para casa. Segundo pessoas próximas, a jovem é acostumada a percorrer longas distâncias e pode ter se afastado do município onde morava.
— Não perdemos a esperança. Temos certeza e muita fé de que ela está viva, que está desorientada, com perda de memória, pode ter sido levada por alguém. Nossa vida é buscar por ela, há seis meses. É uma procura incansável, que não vai parar — afirma a tia da jovem.
Érica também cita os transtornos causados pela angústia. Segundo ele, os pais de Alessandra estão “definhando”.
— Acho que é a palavra adequada. Estão mesmo definhando. A verdade é de que estão morrendo aos poucos de tristeza. É algo muito triste. Estão suportando porque têm esperanças de encontrá-la, mas sempre que o dia termina e ainda estamos sem ela, é como levar um golpe. É um desespero muito grande.
O caso
Alessandra Dellatorre desapareceu em 16 de julho, um sábado, depois que saiu de casa para caminhar, como costumava fazer. Naquela tarde, a jovem vestiu um moletom preto e calça da mesma cor, deixou celular e documentos em casa, e saiu. Ela levou também uma garrafa, supostamente com uma bebida que costumava tomar antes da atividade.
Ao perceber que a jovem não voltou para casa, a família passou a se mobilizar e acionou a polícia. Foram espalhados cartazes com fotos e informações sobre a advogada no entorno de sua casa e em vias movimentadas de São Leopoldo, assim como em municípios da região. O sumiço de Ale, como era chamada pelos mais próximos, gerou inúmeras mobilizações, tanto nas redes sociais quanto nas ruas, clamando por informações. Sem respostas, a família chegou a expandir a procura para outros Estados.
Dias após o sumiço, ainda em julho, a família chegou a divulgar um vídeo em que dava mais informações sobre Ale:
— Nossa Alessandra é uma pessoa muito simples, que faz amizade fácil. É super estudiosa, amorosa e de opiniões firmes e decididas. Nós não sabemos o que pensar, mas acreditamos que ela está com os pensamentos desorganizados e por isso não consegue voltar para casa — disse a mãe, Ivete Dellatorre.
Laudo concluído
No dia 25 de janeiro, o laudo da garrafa que Alessandra usava foi concluído. O laudo da garrafa analisada pelo IGP indicou a presença de uma mistura de substâncias compatíveis com um medicamento chamado Venvanse, utilizado para tratar o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), e de uma bebida energética com cafeína, comumente usada em pré-treinos físicos.
— A garrafa continha lisdexanfetamina, anfetamina, cafeína e triglicerídeos de cadeia média, o que é coerente com a mistura de Venvanse e uma bebida energética à base de café. Não foi possível a determinação da concentração das substâncias encontradas, (mas) não foram encontrados venenos — explica a perita criminal Clarissa Bettoni.
Quem tiver informações que possam contribuir para a resolução do caso deve entrar em contato com a Polícia Civil pelo telefone 0800 642 0121.